Israel comete crime de guerra
Wadih Damous (*)
No caso, sequer existe conflito armado como uma guerra entre dois exércitos. Depois do sequestro e assassinato de três jovens judeus por um grupo de palestinos – um crime injustificável – Israel resolveu fazer retaliações contra a população civil palestina.
É um procedimento similar ao dos nazistas nos territórios ocupados durante a Segunda Guerra Mundial.
Há décadas, aproveitando-se da cobertura dada pelos Estados Unidos, Israel vem anexando pela força terras palestinas. O insuspeito Jimmy Carter, ex presidente norte-americano, comparou o que ocorre na região com o antigo apartheid sul-africano, no qual uma minoria ocupava terras alheias usando a força militar e confinando a maioria autóctone em áreas reduzidas do território nacional.
Será Carter, também, mais um antissemita, expressão usada por Israel para tentar desqualificar os críticos à sua política criminosa?
Essa política tem sido reiteradamente condenada pela comunidade internacional, tal como ocorria com a África do Sul nos tempos do apartheid. Mas, da mesma forma como faziam os racistas sul-africanos, Israel ignora as resoluções da ONU.
Lembre-se,aliás, que, na época do apartheid, muitas vezes Israel foi o único país do mundo a se recusar a condenar, nas Nações Unidas, o regime sul-africano.
É verdade que a maioria dos países árabes é governada por ditaduras corruptas e violentas, mas tal fato não pode servir de justificativa para as ações de Israel. Tampouco é aceitável que, em nome de supostos direitos históricos, Israel proceda à anexação de terras. Mesmo que o povo judeu fosse herdeiro direto dos antigos hebreus, e que ao longo de mais de dois séculos não tenha havido miscigenação, é absurdo que reivindique terras em que seus antepassados viveram há dois mil anos. O que aconteceria com o mapa do mundo se esse princípio fosse aceito para todos os povos? O que seria dos mapas da Europa ou das Américas?
Ou o que se quer é dar ao povo judeu tratamento diferente nessa questão? Por que razão?
Os governos de Israel são fortemente influenciados por fundamentalistas religiosos, que sustentam serem os judeus "um povo escolhido por Deus", posição que tem um claro viés racista. Tal disparate não pode servir de justificativa para opressão [e roubo de terras e assassinatos] de outros povos.
De uma vez por todas, é preciso que o mundo afirme que a vida de uma criança palestina vale tanto quando a de uma criança israelense, ou de qualquer outra nacionalidade.
Quem considerar que uma é mais valiosa do que outra é racista. E deve ser apontado como tal, com todas as letras.
Dada a radicalização a que se chegou na região, parece inviável a curto prazo a constituição de um Estado que reúna judeus e palestinos – o que seria a opção mais democrática. Diante dessa impossibilidade, é preciso que se reconheça o direito, tanto dos israelenses, como dos palestinos, de construírem seu próprio Estado, com fronteiras reconhecidas e invioláveis.
Isso pressupõe a retirada de Israel dos territórios [invadidos e] ocupados pela força, o desmantelamento dos assentamentos realizados em atropelo a resoluções das Nações Unidas e a devolução das propriedades de palestinos confiscadas pela força.
Enquanto isso não acontecer, Israel deve ser pressionado pela comunidade internacional, tal como foi a África do sul do regime racista.
Nesse sentido, deve ser aplaudida a iniciativa da presidente do Chile, Michele Bachelet, que semana passada cortou as relações comerciais com Israel e informou estar estudando a ruptura das relações diplomáticas, em protesto contra o massacre do povo palestino.
A medida deveria ser seguida por todos os governos democráticos do mundo."
FONTE: escrito por Wadih Damous (*) Presidente licenciado da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro. Publicado no site "Carta Maior"
(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Israel-comete-crime-de-guerra/6/31425) e no blog "O Palheiro" (//www.opalheiro.com.br/israel-comete-crime-de-guerra/). Créditos da foto: "Guardian"
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