Por Paulo Moreira Leite, diretor da sucursal da revista ISTOÉ em Brasília
"Vários sinais indicam que as camadas pobres -- do Brasil e dos países vizinhos -- puderam aproveitar a Copa melhor do que foi anunciado.
Um aspecto a ser decifrado com dados mais precisos envolve a participação popular na Copa de 2014. Minha impressão é que foi maior do que se supunha.
Basta pensar no salário e prêmios dos jogadores – sem falar em outros custos milionários – para reconhecer que, nas atuais condições de temperatura e pressão do futebol globalizado, não pode haver ingresso barato numa Copa do Mundo.
Nós sabemos, apenas pelo preço dos ingressos, que o número de cidadãos de renda média – pior ainda para a renda baixa – nos estádios foi muito pequeno e quase nulo. O governo até anunciou a distribuição de 360.000 ingressos a preço subsidiado, para cidadãos de baixa renda. Também foram distribuídos ingressos aos operários que construíram os estádios.
São iniciativas importantes, ainda que o saldo final seja limitado, quando se recorda que foi um evento com 64 partidas, e em geral mais de 50.000 pessoas por partida. Se você pensar que 70.000 pessoas lotaram o Maracanã no jogo final, é possível concluir que os ingressos populares não dariam para preencher todas as cadeiras do principal estádio do Mundial durante o torneio.
Mas a Copa não foi só isso. Perto de 800.000 pessoas estiveram presentes numa "Fan Fest", no Rio de Janeiro, dia da final. De graça.
Em escala menor, ocorreram eventos do mesmo topo, em 12 cidades, em dia de jogos. Chega-se a um evento bem mais amplo, aberto para quem queria se divertir com pouco dinheiro no bolso.
Muitos torcedores viajaram pelo país de carro apenas para ver os jogos. Sem pagar hotel nem hostel, turistas dormiam no próprio veículo, em barracas, em carros-casa. A avalanche dos sem-hotel foi tão grande que levou à abertura de grandes instalações públicas, a começar por sambódromos. Os viajantes comiam em restaurantes populares, onde eles existem, a 1 real pelo almoço e 30 centavos pelo café da manhã. Cozinhavam em fogareiros trazidos de casa.
São sinais que tornam difícil negar que, mesmo sendo concebida como um evento típico para a elite mundial, o Mundial de 2014 também chegou aos mais pobres -- desmentindo mais uma profecia dos adversários da Copa. "
FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, diretor da sucursal da revista ISTOÉ em Brasília. É autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa". (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE).
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