sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

BRASIL E CHINA INICIAM TRANSAÇÕES SEM DÓLAR

"Filial da chinesa Gree, de ar-condicionado, pagou R$ 1,7 milhão por peças importadas

Papel do dólar como moeda de reserva global vem sendo cada vez mais questionado; ONU propôs, em setembro, criação de divisa mundial


O Brasil e a China fizeram sua primeira transação comercial sem usar dólares, intercambiando reais e yuans. A operação foi feita pelo Bank of China em São Paulo para a fábrica de aparelhos de ar-condicionado Gree, instalada na Zona Franca de Manaus.

A filial brasileira da Gree depositou no final de outubro R$ 1,72 milhão no banco em São Paulo, valor que foi retirado apenas três dias depois na China já convertido em yuans. A remessa serviu para pagar peças importadas da China.

O diretor do Bank of China em São Paulo, Zhang Jianhua, disse à Folha que "o uso das moedas dos países reduz a flutuação das taxas de câmbio". Ele aposta que outras empresas chinesas com atuação no Brasil vão preferir fazer suas remessas com a conversão direta de reais para yuans.

"Até agora, nenhuma empresa brasileira fez transação desse tipo, mas certamente valerá a pena para as exportações."

Em 2009 a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. As vendas brasileiras já são 40% maiores que as para os EUA, o segundo maior destino.

Quando visitou a China, em maio, o presidente Lula defendeu que Brasil e China fizessem seu comércio usando as duas moedas nacionais, sem a conversão ao dólar. À época, o Bank of China disse que tal intenção estava limitada pelo fato de o yuan não ser ainda plenamente conversível.

Mas a China pretende promover o yuan como moeda internacional, depois de assinar, nos últimos meses, 650 bilhões de yuans (US$ 95 bilhões) em acordos de "swap" com Argentina, Indonésia, Coreia do Sul, Hong Kong, Malásia e Belarus.

Brasil e Argentina concordaram em realizar trocas comerciais em moedas locais, abandonando o dólar, em setembro de 2008. A iniciativa visa reduzir os custos das transações pela eliminação das taxas cobradas na conversão, mas o comércio realizado com reais e pesos ainda é pequeno.

Esse movimento de negócio em moedas locais, deixando o dólar de lado, vem crescendo, com o papel da divisa americana cada vez mais questionado.

Com os EUA se endividando para combater a crise, o debate sobre a continuidade do dólar como moeda de reserva mundial vem crescendo e algumas medidas práticas já são notadas: por exemplo, o dólar tem hoje a menor participação nas reservas globais desde 1999, quando o euro foi criado.

A Unctad, órgão da ONU, defendeu, em setembro, a criação de uma moeda global para substituir o dólar e proteger os mercados emergentes."

FONTE: reportagem de Raul Juste Lores, de Pequim, publicada hoje (04/12) na Folha de São Paulo.

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