"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, sexta-feira, em visita à Alemanha, que foi muito mais cobrado no cargo pelos seus antecessores do que pelos outros líderes mundiais "por não ter diploma universitário e não falar línguas"...
"Ninguém nunca perguntou para o (presidente dos Estados Unidos, Barack) Obama se ele fala português ou fala alemão. Ninguém nunca perguntou para o (ex-chanceler alemão) Helmut Kohl se ele fala inglês ou não. Mas, de mim, a cobrança era uma loucura", disse Lula em um encontro com empresários alemães em Hamburgo, sob aplausos da plateia.
"Qualquer presidente no Brasil, se ele fracassa, não tem problema, ele vem pra Europa passar dois anos fazendo palestra, vai para Harvard fazer um curso de pós-graduação", disse o presidente.
"Mas eu tinha clareza de que não poderia errar", acrescentou, referindo-se ao período em que era candidato a presidente.
"E que a cobrança em cima de mim seria muito maior do que sobre qualquer outro presidente. Se eu fracassasse, iria durar mais 200 anos para um metalúrgico sem diploma universitário querer ser presidente da oitava economia do mundo."
Mudanças climáticas
Em um discurso de quase uma hora para uma plateia de mais de 600 pessoas, no encerramento de um seminário para empresários alemães interessados em investir no Brasil, Lula falou da importância de levar posições concretas à Conferência da ONU sobre o Mudanças Climáticas, em Copenhague, e fez elogios ao etanol brasileiro.
"Acredito que os alemães têm clareza de que não é possível continuar produzindo etanol do milho, nem etanol da beterraba", afirmou.
"A cana-de-açúcar, produzida no Brasil ou em qualquer pais africano que precisa de investimentos para se desenvolver, pode ser a nova matriz energética que nós estamos precisando criar para as próximas décadas", disse Lula.
O presidente elogiou a posição da Alemanha em relação às propostas climáticas a serem levadas para a cúpula na Dinamarca e acrescentou que Brasil e Alemanha devem se unir para criar soluções ambientais.
"Podemos construir juntos, porque, dentre os países desenvolvidos, a Alemanha é o que mais tem tomado iniciativas para que a gente possa apresentar ao mundo uma proposta objetiva", disse.
Lula citou Estados Unidos e China como países que não têm a mesma visão e apelou a Pequim e Washington para que sigam "o exemplo brasileiro", levando propostas concretas à capital dinamarquesa.
"Quando o Brasil tomou atitude é porque nós queremos chegar a Copenhague desafiando os outros países a cumprirem pelo menos aquilo que o Brasil está se propondo a cumprir", disse.
Nas últimas semanas, os dois países apresentaram metas que prometem levar à conferência.
Crise
Lula atribuiu ao mercado interno e à distribuição da renda promovida no seu governo a superação da crise financeira pelo Brasil.
"Precisamos conhecer as razões pelas quais o Brasil está numa situação confortável. Muita gente acha que é 'pura sorte' do governo. Outros acham que 'Deus está de férias no Brasil' e, portanto, as coisas estão dando certo no nosso país", disse, provocando risos na plateia.
"Outros acham que o Brasil está bem 'porque a economia mundial estava bem'. Mas agora o Brasil está bem e a economia mundial está mal." "Ao logo das últimas duas décadas, possivelmente pela predominância da teoria do Estado mínimo e da teoria de que o mercado resolveria todos os problemas do país, o sistema financeiro mundial se deslocou do sistema produtivo e resolveu ganhar dinheiro com especulação", afirmou.
"Nós tínhamos a vantagem que o mundo rico não tinha: tínhamos um mercado interno virgem, cheio de pessoas com muita vontade de comprar alguma coisa, mas que não tinham dinheiro para comprar. Nós tínhamos que fazer com que essas pessoas tivessem acesso ao mercado", disse Lula."
FONTE: reportagem da agência britânica de notícias BBC publicada no portal UOL.
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