quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O CREPÚSCULO DO IMPÉRIO E A AURORA DA CHINA
"Embora os EUA ainda sejam o pólo do sistema capitalista mundial, sua hegemonia cada vez mais se desvanece. O Império está falido. Com PIB da ordem de $14,66 trilhões, sua dívida pública, em 9 de setembro de 2011, já estava em cerca de US$ 14,71 trilhões.
A China tornou-se para os EUA o mais importante país do mundo. Atualmente, é o maior credor dos EUA, com reservas de mais de US$ 3 trilhões".
Prólogo de Luiz Alberto Moniz Bandeira ao livro de Durval de Noronha Goyos (*), que será lançado dia 10 de novembro, em São Paulo.
(*) Durval de Noronha Goyos lançará o livro "O Crepúsculo do Império e a Aurora da China", publicado pela “Observador Legal”, amanhã, quinta-feira, 10 de novembro, das 19h às 22h, na Livraria da Vila, Alameda Lorena 1731, Piso Térreo - Jardins, São Paulo, SP. Luiz Alberto Moniz Bandeira assina o prólogo ao livro, que publicamos a seguir:
Por Luiz Alberto Moniz Bandeira
PRÓLOGO
“In the councils of government, we must guard against the acquisition of unwarranted influence, whether sought or unsought, by the military-industrial complex. The potential for the disastrous rise of misplaced power exists and will persist.
We must never let the weight of this combination endanger our liberties or democratic processes. We should take nothing for granted. Only an alert and knowledgeable citizenry can compel the proper meshing of the huge industrial and military machinery of defence with our peaceful methods and goals, so that security and liberty may prosper together.” (Dwight Eisenhower) [1]
O crepúsculo do Império e a aurora da China é excelente imagem que Durval de Noronha Goyos escolheu para intitular a série de artigos sobre o declínio dos Estados Unidos como potência econômica hegemônica, e o advento da China, que se tornará a maior economia mundial em 2016.
Trata-se de conjunto de artigos muito importantes e oportunos, porquanto apresenta lúcida percepção das mudanças na correlação mundial de forças, demonstrando a erosão que corrói o Império Americano, à beira da recessão e cuja segurança depende, cada mais, do poder militar, a um custo insustentável, em contraste com o alvorecer da China, a crescer 9.5%, em 2011, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), não obstante a profunda crise econômica e financeira na qual os Estados Unidos e a União Européia estão submersos.
Há alguns acadêmicos que tentam negar o declínio, com o argumento de que os EUA ainda são a maior potência militar do planeta, havendo conquistado a hegemonia com a 2ª Guerra Mundial e a consolidado ao fim da Guerra Fria. Realmente, os Estados Unidos possuem poderio militar incomparável, com poder de destruição sem paralelo na história e dispõem de meios para intervir imediata e efetivamente em qualquer região do mundo.
Desde as bombas nucleares lançadas contra Hiroshima e Nagasaki, matando um total de cerca de 199.000 pessoas [2], em 1945, os Estados Unidos produziram cerca de 70.000 armas nucleares de 72 tipos. Ao fim da Guerra Fria, em 1991, possuíam arsenal ativo da ordem de 23.000 artefatos nucleares dos 26 tipos principais. E nunca cessaram completamente de produzi-los [3]. Um estudo realizado no “Brooking Institute”, de Washington, estimou que os custos em armamentos nucleares, desde a II Guerra Mundial até 2007, foram da ordem de US$ 7,2 trilhões, e o total dos gastos militares, no mesmo período de meio século, alcançou o montante de US$ 22,8 trilhões [4].
De acordo com o “Annual Report of Implementation of the Moscow Treaty”, os Estados Unidos mantinham, em 31 de dezembro de 2007, cerca de 2.871 ogivas nucleares estratégicas em condições operativas, i. e., prontas para lançamento, mais 2.500 como reserva (ativas e inativas), e outras 4.200 retiradas para seu desmantelamento. O total do ‘stock’ era de 9.400 armas nucleares, de todas as categorias [5].
Após a II Guerra Mundial, os Estados Unidos instalaram bases militares nos mais diversos países da Europa, tais como Alemanha, França, Grã-Bretanha, Espanha e Itália, a pretexto de conter a União Soviética e a expansão do comunismo. E, durante a Guerra Fria, estacionaram armamentos nucleares em 27 países estrangeiros e territórios, entre os quais Japão, Alemanha, Groenlândia e Turquia. O Bloco Socialista e a União Soviética implodiram entre 1989 e 1991. Os partidos comunistas virtualmente desapareceram na Europa. Entretanto, em 2006, os Estados Unidos ainda possuíam arsenal de 9.960 ogivas intactas, das quais 5.735 eram consideradas ativas e operacionais. E, de acordo com o “Department of Defense’s 2010 Base Structure Report”, o Pentágono ainda mantém um total de 4.999 instalações militares em 50 Estados americanos, sete territórios e em outros 38 países estrangeiros. No exterior, a maioria das instalações, que incluem bases do Exército, Marinha, Força Aérea, Marine Corps, Washington Headquarters Services (WHS), está na Alemanha (218), Japão (115) e Coréia do Sul (86). [6]
Segundo as estimativas, o total, em todo o mundo, ultrapassa 1.000 bases militares. Alguns calculam 1.077, outros 1.088, outros 1.160 ou mesmo 1.180. Realmente, o número pode ser mais alto, porém ninguém está certo quanto ao total [7]. E desde os atentados terroristas de 11 de setembro, o número ainda mais cresceu, com a instalação de bases no Quirguistão, Paquistão, Afeganistão, Uzbequistão, Iraque, Djibouti e em diversos outros países da Ásia e da África, bem como da América Latina. O que realmente conta é a obsessão do Pentágono por controlar o mapa do gás e do petróleo.
Contudo, desde a derrota das potências do Eixo, em 1945, os Estados Unidos não venceram nenhuma outra guerra. A guerra na Coréia (1950-1953) demonstrou que não eram onipotentes. Henry Kissinger qualificou como “inconclusive” essa guerra, que deixou saldo de 150.000 americanos mortos, feridos e desaparecidos. A guerra no Vietnã (1959-1975) resultou em dramático fiasco. Comprovou que a força militar dos Estados Unidos, por maior que fosse, não lhes podia assegurar o triunfo.
Os Estados Unidos possuíam (e possuem) ilimitada capacidade de destruição, inclusive armas nucleares, mas não tinham condições políticas e morais para usá-las. As consequências seriam imprevisíveis. Porém, todo o seu poderio militar não bastava para dar-lhes a vitória sobre forças que viviam no seu próprio habitat, na mais perfeita simbiose com a natureza e sobreviviam nas condições mais primitivas, combatiam extremamente bem, com eficiência, e recebiam o mais amplo suporte da população, em todos os lugarejos do Vietnã do Sul. E, desde 2001-2003, os Estados Unidos estão chafurdados nas guerras no Afeganistão e no Iraque, onde os ataques e atentados se intensificaram, países dos quais não conseguem retirar totalmente suas tropas.
O relatório “Costs of War”, preparado por acadêmicos, participantes do “Eisenhower Research Project” do “Watson Institute for International Studies”, da Brown University, informa que os custos financeiros das “Operations Enduring Freedom”, “Iraqi Freedom”, “New Dawn”, situam-se entre US$ 3,2 e US$ 4 trilhões. Há muitos outros custos que não puderam ser quantificados, mas as guerras contra o terror, empreendidas pelos Estados Unidos, foram quase totalmente financiadas por empréstimos, juros de US$ 185 bilhões já pagos ou a pagar, e outro US$ 1 trilhão pode aumentar até 2020 [8]. Somente o complexo industrial-militar recebeu os benefícios.
O poderio militar dos Estados Unidos, no entanto, tem limites econômicos e financeiros. O crescimento das despesas militares no exterior, subindo US$ 800 milhões, em 1967, e mais US$ 600 milhões, em 1968, produziu forte impacto sobre o balanço de pagamento dos Estados Unidos, que teve déficit de US$ 9,8 bilhões em 1970 [9]. O saldo comercial entre 1970 e 1971 desapareceu, em consequência do declínio das exportações desde 1968. A inflação, da ordem de 1,5% em 1961, saltou para 4,7%, em 1968/69 [10]. O PIB dos Estados Unidos, que se duplicara durante a Segunda Guerra Mundial e representara 34% da produção mundial até 1970, baixou para menos de 30%, em 1971. O dólar enfraqueceu-se. E a vulnerabilidade econômica dos Estados Unidos abalou a estabilidade do sistema monetário internacional, que passara a depender de sua política monetária, manejada unilateralmente, desde o “Acordo de Bretton Woods” (Bretton Woods Agreement), de 1944, estabelecendo que cada país deveria manter a taxa de câmbio de suas moedas indexada de certo modo ao dólar, cujo valor estaria baseado no padrão-ouro, numa base fixa de 35 dólares por onça Troy (31,103478 gramas de ouro).
Os presidentes Lyndon Johnson (1963-1969) e Richard Nixon (1969-1974) não cumpriram, entretanto, as regras para as relações comerciais e financeiras acordadas em Bretton Woods. Emitiram e lançaram em circulação mais dólares do que podiam lastrear com o ouro existente no Fort Knox, conforme o acordo de Bretton Woods, a fim de financiar as importações dos Estados Unidos e os custos da Guerra Fria e da guerra no Vietnã, Camboja e Laos. Todas as reservas de ouro estocadas no Fort Knox já estavam virtualmente esgotadas em 1970. Só restavam 1.000 das 8.500 toneladas que supostamente lá estavam depositadas. E as reservas em dólar, em posse dos bancos estrangeiros, haviam saltado de US$ 23,8 bilhões para US$ 36 bilhões em julho de 1971 e, no mês seguinte, para US$ 40 bilhões, três vezes mais do que os Estados Unidos necessitavam para honrar as obrigações contraídas em Bretton Woods [11].
Daí que, naquele ano, sem consultar os demais países, o presidente Nixon aboliu, unilateralmente, a conversibilidade direta do dólar em ouro. A ordem monetária e o “Sistema Bretton Woods” de coordenação econômica internacional sofreram colapso. E, dois anos depois, em 1973, o presidente Nixon, ante o agravamento da crise, teve de desvalorizar o dólar em 10%, rompendo tanto o “Smithsonian Agreement” quanto o “European Joint Float”, e pavimentando o caminho para a livre flutuação das moedas. O dólar, que só os Estados Unidos podiam produzir, transformou-se na divisa fiduciária internacional. O presidente da França, general Charles de Gaulle, acusou então os Estados Unidos, de assumirem um “privilégio exorbitante”, na medida em que podiam continuar financiando seus déficits com a emissão de mais dólares e colocá-los em circulação [12].
A ruptura definitiva do padrão-ouro, a contundente derrota no Vietnam, o escândalo de Watergate e o apoio aos golpes militares e às ditaduras na América Latina e em outras regiões, entre outros fatores, começaram a assinalar o declínio econômico, político e moral dos Estados Unidos. O complexo industrial-militar já havia capturado, e mantinha como refém, todos os governos, fossem do Partido Republicano ou Democrata. E seus gastos militares continuaram a crescer para a sustentação da indústria bélica e de sua cadeia produtiva, gerando a necessidade de permanente guerra e de reais ou supostas ameaças à segurança nacional dos Estados Unidos, a fim de consumir os armamentos produzidos e reproduzir o capital.
De 1940-1996, os Estados Unidos gastaram, no mínimo, US$ 5,5 trilhões em seu programa de armamentos nucleares, sem contar as cifras da produção de armamentos convencionais. E esse valor não incluía US$ 320 bilhões estimados para os futuros custos anuais de armazenamento e remoção do valor acumulado do lixo radioativo e tóxico, em mais de cinco décadas, US$ 20 bilhões para o desmantelamento do sistema de armas nucleares e remoção dos excedentes materiais atômicos. Com todos esses elementos contabilizados, o total dos custos do programa de armamentos nucleares dos Estados Unidos, até 1996, ultrapassou o montante US$ 5,8 trilhões [13]. E nenhum governo podia converter realmente a indústria bélica para fins civis sem acarretar profundas implicações políticas, na medida em que aumentaria o número de desempregados e abalaria as atividades econômicas de diversas regiões (Texas, Missouri, Florida, Maryland e Virginia), onde estão as indústrias especializadas em armamentos com tecnologia intensiva de capital, cujo interesse é experimentá-los em guerras reais, a fim de que o Pentágono possa esvaziar os arsenais, promover os armamentos, vendê-los a outros países e fazer novas encomendas, que geram polpudas comissões e dividendos.
Muitas outras regiões dos Estados Unidos são beneficiadas pela produção, deslocamento, operações e manutenção das forças nucleares. Conforme avaliou de William J. Weida, do “Brooking Institute”, a Califórnia, a partir de 1980, passou a depender mais do que qualquer outro Estado das despesas militares do Pentágono, a maioria das quais nos programas dos bombardeiros B-1 e B-2, os mísseis Trident I e Trident II, os mísseis MX, bem como do projeto “Strategic Defense Initiative” e do programa de satélites “Military Strategic and Tactical Relay” (MILSTAR) [14]. Em 1986, as corporações empreiteiras (contractors) do Pentágono, na Califórnia, receberam 20% do orçamento de Departamento de Defesa, enquanto Nova York, Texas e Massachusetts apropriaram-se de 21% [15]. Os imensos custos dos Estados Unidos com a produção de armamentos não decorrem tanto de fatores de segurança quanto de incoercíveis necessidades econômicas.
O Império Americano necessita de guerras para manter sua economia em funcionamento, evitar o colapso da indústria bélica e de sua cadeia produtiva e evitar o aumento do número de desempregados e a bancarrota de muitos Estados americanos, cuja receita depende da produção de armamentos.
Embora os Estados Unidos ainda sejam o pólo do sistema capitalista mundial, sua hegemonia cada vez mais se desvanece. Como bem salientou Durval de Noronha Goyos, o Império Americano está falido. Com PIB da ordem de US$14,66 trilhões (2010 est.), sua dívida pública, em 9 de setembro de 2011, já estava em cerca de US$ 14,71 trilhões, dos quais US$ 10,07 trilhões em poder do público e US$ 4,64 trilhões administrados pelo governo federal. Em fim de junho de 2011, seu PIB era estimado em cerca de US$ 15,00 trilhões, porém com dívida pública equivalente a 98% desse montante [16]. E seu déficit comercial, em junho desse mesmo ano, 2011, aumentou para US$ 53,1 bilhões contra US$ 50,8 bilhões, em maio.
Os Estados Unidos estão chafurdados em dívidas, por diversos fatores, sobretudo porque produzem menos do que consomem. Dependem de tudo, inclusive de capitais e financiamentos. Como bem observaram Bill Bonner e Addison Wigging, “a nação mais rica, mais poderosa do mundo, depende das poupanças dos países mais pobres” [17].
Em 2007, David M. Walker, “Comptroller General of the United States” (1998-2008), advertiu que o governo americano estava sobre uma “burning platform” de insustentáveis políticas e práticas, com déficits fiscais, crônica insuficiência de recursos para a assistência à saúde, imigração e comprometimentos militares além-mar, ameaçando uma crise, se não fosse logo tomada uma atitude [18]. E apontou “striking similarities” entre a situação do Império Americano e os fatores que produziram a queda de Roma, inclusive o “declining moral values and political civility at home, an over-confident and over-extended military in foreign lands and fiscal irresponsibility by the central government”. [19]
Ao contrário dos Estados Unidos, cuja crise financeira praticamente havia principiado nos anos 1970 quando o governo do presidente Richard Nixon não pôde sustentar o dólar com o padrão-ouro, a China, após o falecimento de Mao Tse-tung, começou economicamente a aflorar. Deng Xiaoping (1904-1997), ao recuperar o poder, após período de ostracismo durante a chamada “Revolução Cultural” (1966-1976), tratou de empreender as reformas econômicas, de modo similar ao que Lenin tratou de promover na Rússia, após o término da guerra civil em 1921, quando a gravidade de sua situação econômica, social e política atingira as mais trágicas dimensões e ameaçara a própria sobrevivência do Estado soviético. Diante de tal situação, Lenin recuou do “comunismo militar” ou “comunismo de guerra”, implantado durante os anos da guerra civil.
Com a adoção da NEP (Novaia Ekonomitcheskaia Politika), ele restabeleceu o funcionamento da economia de mercado, instituindo o capitalismo de Estado, não como propriedade e operação das empresas pelo Estado, mas como capitalismo privado, permitido e controlado pelo Estado.
Deng Xiaoping e os dirigentes da China haviam percebido que não poderiam manter o mesmo modelo de socialismo, implantado na União Soviética por Stalin, após extinguir a NEP em 1927, pois nem Marx nem Engels jamais conceberam o socialismo como via de desenvolvimento ou modelo alternativo para o capitalismo, senão como consequência de seu desenvolvimento. Sem o rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e o constante progresso dos meios de transporte e de comunicação, com que a burguesia arrastava até as nações mais bárbaras à civilização [20], não seria possível chegar ao socialismo.
O que o viabilizava, cientificamente, era o alto nível de desenvolvimento das forças produtivas, que o capitalismo impulsionava, porquanto somente seria possível realizá-lo elevando a oferta de bens e serviços, em quantidade e em qualidade, a um nível em que a liquidação das diferenças de classe constituísse verdadeiro progresso e tivesse consistência, sem acarretar consigo o estancamento da sociedade e, inclusive, a decadência do seu modo de produção [21].
Ao fim dos anos 1970, a China começou a promover reformas econômicas, autorizando os chineses a realizar empreendimentos comerciais privados e abrindo o país aos investimentos estrangeiros. O Estado deixou de ser o único dono dos meios de produção. E Deng Xiaoping, visando a revitalizar a economia a partir das zonas rurais, instituiu o estabelecimento de contratos de produção com agricultores individuais e o desenvolvimento de empresas rurais, do mesmo modo que, no setor urbano, concedeu autonomia de gestão às empresas estatais e promoveu a descentralização regional, investimentos e desregulamentação dos preços. Jiang Zemin e Li Peng, sucedendo a Deng Xiaoping, impulsionaram a reorganização institucional no governo e no Partido Comunista da China, e empreenderam a reforma do sistema financeiro, reforma fiscal, e estabeleceram o regime empresarial.
Tais reformas possibilitaram o extraordinário crescimento econômico [22], cuja taxa subira de 4,5%, na década de 1960-1970, para 5,8%, entre 1970 e 1980, e saltara para 8,5%, na década de 1980-1990, enquanto a taxa de crescimento dos Estados Unidos declinava de 3,8%, na década de 1960-1970, para 2,7%, entre 1970 e 1980, e 2,8%, na década de 1980-1990, baixando para -0,7%, em 1991, ano em que a própria União Soviética se desintegrou, após a dissolução do Bloco Socialista.
A China, em termos estratégicos, tornou-se para os Estados Unidos o mais importante país do mundo no último quartel do século XX e começou a receber enorme influxo de homens de negócios das potências capitalistas do Ocidente. Atualmente, 2011, a China é o maior credor dos Estados Unidos, com reservas de mais de US$ 3 trilhões, como salientou Durval de Noronha Goyos, das quais apenas US$ 1,145 trilhão estão investidos em “U.S. Treasuries”, pouco mais de um terço do volume total, dado que, diante da extrema fragilidade da economia americana, ela continua a diversificar o perfil de suas aplicações em outras divisas.
A dívida soberana dos Estados Unidos, evidentemente, já não é o instrumento mais seguro para armazenar o valor das reservas. Contudo, a China ainda não pode desfazer-se totalmente das reservas em dólares, que agora representam apenas pouco menos de 10% do PIB americano, porquanto a quebra dos Estados Unidos também lhe traria imensos prejuízos. Não sem razão, Wen Jiabao, primeiro-ministro da República Popular da China, declarou que:
“however, when we talk about the primary stage, we should not just think about the underdeveloped productive forces. We should also recognize that the socialist system still has room for improvement and that it is not yet a mature one. Comrade Deng Xiaoping pointed out that in essence, socialism is about liberating and developing the productive forces, eliminating exploitation and polarization, and ultimately, it is about achieving prosperity for all.”
E acentuou que:
“without the sustained and full development of productive forces, it will be impossible to achieve social fairness and justice, an essential requirement of socialism” [23]
Wen Jiabao previu o “primary stage of socialism for the next 100 years” e afirmou que o Partido Comunista da República Popular da China persistiria executando as reformas e inovação para assegurar o vigor e vitalidade e assegurar o socialismo com as características chinesas [24]. Isso não significa que a aurora da China possa já configurar o advento do socialismo. O capitalismo foi o único modo de produção que teve a capacidade de expandir-se por todos os continentes e estabelecer, com a criação do mercado mundial e a divisão internacional do trabalho, uma ordem econômica internacional, integrando, como bloco assimétrico, potências industriais e países agrícolas e atrasados ou em desenvolvimento, denominados periféricos e emergentes. Daí a impossibilidade de instituir, na moldura nacional, um sistema harmônico e autossuficiente, com todos os ramos econômicos, sem considerar as condições geográficas, históricas e culturais do país, que somente constitui um elemento da unidade econômica mundial. E, conforme Karl Marx concluiu, das suas pesquisas, que uma formação social nunca desmorona sem que as forças produtivas dentro dela estejam suficientemente desenvolvidas, e que as novas relações de produção superiores jamais aparecem, no lugar, antes de que as condições materiais de sua existência sejam incubadas nas entranhas da própria sociedade antiga [25].
A emergência da China como a maior potência econômica mundial marcará o século XXI.”
NOTAS
[1] “Military-Industrial Complex Speech”, Dwight D. Eisenhower, 1961 Public Papers of the Presidents, Dwight D. Eisenhower, 1960, p. 1035- 1040.
[2] Atomic Archive. The Atomic Bombings of Hiroshima and Nagasaki. http://www.atomicarchive.com/Docs/MED/med_chp10.shtml
[3] U.S. Nuclear Weapon Enduring Stockpile http://nuclearweaponarchive.org/Usa/Weapons/Wpngall.html
[4] Stephen I. Schwartz . “The Costs of U.S. Nuclear Weapons”. James Martin Center for Nonproliferation Studies - Monterey Institute for International Studies. http://www.nti.org/e_research/e3_atomic_audit.html
[5] U.S. Departament of State. 2008 Annual Report on Implementation of the Moscow Treaty - Bureau of Verification, Compliance, and Implementation (VCI) - Washington,DC - May 13, 2008. FAS Strategic Security Blog. Comments and analyses of important national and international security issues. http://www.fas.org/blog/ssp/2009/02/sort.php
McNamara, Robert. “Apocalypse Soon”. Foreign Policy, May/June 2005. http://www.foreignpolicy.com/
[6] Departament of Defense – Base Structure Report – FY 2010 Base line - http://www.acq.osd.mil/ie/download/bsr/bsr2010baseline.pdf
[7] The Nation - America's Empire of Bases 2.0 - 2011-01-10 (http://www.thenation.com); Turse, Nick. Empire of Bases 2.0 - Does the Pentagon Really Have 1,180 Foreign Bases? http://www.tomdispatch.com/archive/175338/
[8] Brown University – ‘Costs of War’ Project - “Estimated cost of post-9/11 wars: 225,000 lives, up to $4 trillion” - June 29, 2011-09-04 - http://news.brown.edu/pressreleases/2011/06/warcosts
[9] SOLOMON, Robert. The international monetary system, 1945-1976: an insider’s view. New York: Harper & Row, pp. 102-103.
[10] NIXON, Richard M. Memoirs. New York.: Grosset & Dunlap, 1978, p. 516.
[11] BUNDY, William. A tangled web: the making of foreign policy in the Nixon presidency. New York: Hill and Wang – Farrar, Straus and Giroux, 1998, p- 361.
[12] Norte-Sur. Un programa para la supervivencia. Informe de la Comisión Independiente sobre Problemas Internacionales del Desarrollo presidida por Willy Brandt. The Independente Comisión on International Development Sigues. Bogotá: Editorial Pluma, 1980, p. 305.
[13] SCHWARTZ, Stephen I. (ed.). Atomic Audit : The Costs and Consequences of U. S. Nuclear Weapons since 1940- Washington: Brookings Institution Press, 1998, p.3.
[14] WEIDA, William J. „The Economic Implications of Nuclear Weapons and Nuclear Dterrence”, in SCHWARTZ, Stephen I. (ed.). Atomic Audit : The Costs and Consequences of U. S. Nuclear Weapons since 1940- Washington: Brookings Institution Press, 1998, p. 524.
[15] Ibidem, p. 524, n. 10.
[16] The Budget Control Act & Federal Deficit Reduction - September 20, 2011. http://edr.state.fl.us/Content/presentations/Budget/TheBudgetControlAc
[17] BONNER, Bill & WIGGIN, Addison. Empire ob Debt. The Rise of an Epic Financial crisis. New Jersey: John Wiley & Sons, 2006, p. 276
[18] Jeremy Grant. “Learn from the fall of Rome, US warned”. Financial Times. 14/08/2007.
[19] Ibidem.
[20] MARX, Karl & ENGELS, Friedrich Ausgewählte Werke. Band II, Berlim, - Dietz Verlag, 1981, p. 8-9.
[21] Engels, F. "Soziales aus Rußland", in Marx. & Engels, Band 18, 1976, pp. 556-559. Esse mesmo artigo consta também em: Marx, K. e Engels, F. Ausgewählte Schriften, Band II, Berlin, Dietz Verlag, 1976, p. 39.
[22] Na China, o setor privado passou a representar 39% do PIB, o setor público, 36%, sendo os 25% restante creditado à produção das áreas rurais e às cooperativas.
[23] Wen Jiabao - “Our Historical Tasks at the Primary Stage of Socialism and Several Issues Concerning China's Foreign Policy” – Tradução oficial. Embassy of The People’s Republic of China in Uganda, ug.china-embassy.org/eng/xwdt/t302141.htm
[24] Ibidem.
[25] “Eine Gesellschaftsformation geht nie unter, bevor alle Produktivkräfte entwickelt sind, für die sie weit genug ist, und neue höhere Produktionsverhältnisse treten nie an die Stelle, bevor die materiellen Existenzbedingungen derselben im Schoß der alten Gesellschaft selbst ausgebrütet worden sind.” Marx, Karl, Zur Kritik der Politischen Ökonomie Vorwort, in Marx, K. e Engels, F. Werke, Band 13, Berlin, Dietz Verlag, 1981, pp. 8-9.,
FONTE: escrito por Luiz Alberto Moniz Bandeira, de St. Leon-Rot (Baden-Württemberg), em set. 2011. O autor é professor universitário, cientista político e historiador luso-brasileiro. Artigo publicado no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18903).
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4 comentários:
Não sei, eu acho que eu sei de menos mesmo.
1.340 bilhões de habitantes tem a China
1.190 bilhões de habitantes tem a Índia
142 milhões de habitantes tem a Rússia
192 milhões de habitantes tem o Brasil
Será que NINGUÉM observa que a China tem um GRAVE problema para resolver, tal qual a Índia que são suas IMENSAS populações????
A Rússia e o Brasil NÃO tem os problemas demográficos que tem a China e a Índia...
310 milhões de habitantes tem o IANQUES MALDITOS GENOCIDAS, mas, a distribuição de renda do Tio Sam PIRATÃO será seu grande problema e, ainda ficam preocupados com a Neo-Recessão, deveriam se preocupar é com uma New Secessão... A Primavera IANQUE vai demorar a outonos, invernos e verões... com a população armada de AR-15 e M-16 vai ser uma belezinha. Só não sei o que vão fazer o Anders Rasmussen e seu COMPARSA de CHACINAS, Ban Ki-moon... será que vão intervir com a mesma ajuda humanitária da Líbia??? O Putin e o Jiabao vão rir tanto que vão cair da cadeira.
Gaddafi??? Eu sei que o beduíno virou uma estrela no céu e brilha todas as noites, o beduíno vai rir demais também!!!
“Não pode ser. Não será. Não vai ficar assim, ya know, essa violência não pode ficar sem castigo, man.”
Muammar Abu Minyar al-Gaddafi
Probus,
A natureza (e a raça humana obviamente faz parte dela) sempre tendeu para o equilíbrio, nem sempre de modo harmonioso. Inevitavelmente, tende para o 'zero' de energia potencial. Sendo assim, depois de tantas injustiças, agressões, assassinatos em massa (ex. Hiroshima e Nagazaki) cometidos pelos EUA, é muito provável que, no curto, médio ou longo prazo, eles também passem a sofrer, a ser vítimas dessas desumanidades.
Maria Tereza
10/11/2011: Agora que a CIA matou Kadafi, o que será da Líbia?
Por Paul Craig Roberts
Com a conquista da Líbia, o Africom (Comando dos Estados Unidos para África) seguirá para outros países em que a China tem investimentos em energia e mineração. Washington ressuscitou o Jogo da Superpotência e está competindo com a China. Mas, enquanto a China faz investimentos e ofertas de infraestrutura à África, Washington envia tropas, bombas e bases militares. Cedo ou tarde, a agressividade de Washington em relação à China e à Rússia irá explodir nas nossas caras.
...Exceto para os mega-ricos protegidos de Washington, o 1% que capturou todos os ganhos de rendimento dos últimos anos, o resto dos EUA foi remetido para o caixote do lixo. Nada, o que quer que seja, foi feito para eles desde o golpe da crise financeira de Dezembro de 2007. Bush e Obama, republicanos e democratas, centraram-se em salvar o 1% enquanto davam uma banana para os 99%.
...O Estado Policial Amerikano terá dado seu passo seguinte para o Estado de Campo de Concentração Amerikano.
Enquanto isso, perdidos na sua inconsciência, conservadores continuarão a resmungar acerca da ruína do país devido ao casamento homossexual, ao aborto e aos media “liberais”. Organizações liberais comprometidas com a liberdade civil, tais como a ACLU, continuarão a equiparar o direito da mulher a um aborto com a defesa da Constituição dos EUA. A Anistia Internacional apoiará Washington demonizando o seu próximo alvo de ataque militar enquanto fecha os olhos aos crimes de guerra do presidente Obama.
Quando consideramos que Israel, sob a proteção de Washington, tem escapado impune... podemos apenas concluir que Washington, o viabilizador de Israel, pode ir muito mais longe.
...Washington destruiu a Constituição dos Estados Unidos, a separação de poderes, o direito internacional, a responsabilidade do governo e sacrificou todo princípio moral a fim de alcançar hegemonia no mundo todo. Esta agenda ambiciosa está sendo empreendida enquanto simultaneamente Washington removeu toda regulamentação sobre a Wall Street, o lar da cobiça maciça, permitindo ao horizonte de curto prazo da Wall Street arruinar a economia dos EUA, destruindo, portanto, a base econômica para o assalto de Washington ao mundo.
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=9&id_noticia=168374
Ex-presidente de Israel condenado a sete anos de prisão por estupro
JERUSALÉM, 10 Nov 2011 (AFP) - A Suprema Corte de Israel confirmou nesta quinta-feira a condenação do ex-presidente israelense Moshe Katzav a sete anos de prisão por estupro e assédio sexual.
"Katzav aproveitou o cargo para cometer os crimes, e a sentença pronunciada contra ele está justificada", destaca a decisão da corte.
O ex-presidente, de 65 anos, foi condenado em primeira instância a sete anos de prisão e dois anos de prisão com sursis (suspensão condicional da pena) por violentar e assediar duas subordinadas quando era ministro do Turismo nos anos 1990.
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