sábado, 6 de outubro de 2012

JULGAR DIRCEU & CIA NA VÉSPERA DA ELEIÇÃO É DECISÃO POLÍTICA [partidária] DO STF




Por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”

“Dois assuntos estão nas manchetes. Estão nas manchetes há dois meses: as eleições municipais e o julgamento do chamado "Mensalão". Nesta decisiva semana das eleições, começou o julgamento do "núcleo político" desse escândalo. Na quarta-feira, 3, entrou em pauta o julgamento de José Dirceu. Fato de enorme impacto. Fato com um impacto tão grande que quase não se admite quem queira percebê-lo nos seus vários ângulos, antecedentes e consequências.

Não há coincidência alguma no julgamento do "Mensalão" e as eleições se darem, milimetricamente, ao mesmo tempo. Há uma decisão. Decisão que é política [partidária, antiPT e anti seus aliados]. Tribunais são técnicos, mas são também "políticos" no sentido mais amplo da palavra. Não há coincidência em se julgar José Dirceu três, dois dias antes das eleições. Isso não é obra do acaso, do destino. Essa decisão, a do "quando" julgar, é, e foi uma decisão política [partidária].

A culpa ou não de José Dirceu é algo que os juízes irão decretar. O relator, Joaquim Barbosa, já decretou a culpa. Quando os juízes decretarem, cumpra-se o que for decidido.

Os juízes do Supremo estão votando como acham que devem votar. Não há porque afirmar que seus votos são todos "políticos" [partidários]. Até porque a maioria dos juízes, oito deles, foi indicada por Lula e Dilma. E é essa maioria de juízes indicados na era Lula/Dilma que está votando pela condenação de réus do PT.

Os juízes estão condenando por entenderem que crimes foram cometidos. Pode-se discutir se os crimes foram esses ou aqueles, mas não há como negar tantos dos fatos. E o julgamento é sobre os fatos [ou melhor, sobre “imaginados fatos”]. Outro fato é esse: o não existir coincidência entre as datas do julgamento e das eleições. Isso foi uma escolha. Foi uma decisão, que é política [partidária], de quem tem e maneja mais poder e influência no Supremo Tribunal.

Para usar um lugar comum, esse julgamento quebra um paradigma: tendo acontecido o que está acontecendo, partidos e políticos não serão mais "julgados" apenas pela mídia; haverá dificuldades -ou menos facilidades, porque vai pegar mal- para se impor quem deve ser "julgado" e quem deve ser "poupado". Estará aberta a porteira.

Alguns dos juízes do Supremo já discutem, especulam, sobre qual será o próximo grande "julgamento político" ["publicado"].

Inevitável que se busque examinar o chamado "mensalão do PSDB" antes que ele prescreva. Mas esse não será julgado em ano eleitoral. E o problema político maior, no caso, será para o PSDB "de Minas". Um processo com foco em Minas e, mais ainda, a depender do resultado das eleições em São Paulo, recolocará o debate interno do PSDB em relação a 2014.

Esse, “de Minas” [eufemismo muito usado pela direita e pela mídia para esconder que o tal mensalão é do PSDB e nacional (por exemplo, nele consta que José Serra recebeu R$ 7 milhões, Alkmim R$ 9,3 milhões, Aécio Neves R$ 5,5 milhões de recursos, desviados da estatal Furnas)], não é o único grande julgamento de políticos germinando. Com poder e influência no Supremo, há quem aposte e já insinue outro grande alvo. Alvo decorrente desse julgamento agora em andamento… É anotar e aguardar.

Este é um tempo de julgamentos, e de eleições. Em São Paulo, reta final emboladíssima. Segundo a pesquisa [tucana] “Datafolha”, Russomanno cai muito, de 30% para 25% e, tecnicamente, Serra, com 23%, alcança-o no primeiro lugar. Haddad, 19%, segue na luta pelo segundo lugar. E Chalita, 11%, sobe mais um pouco e busca correr por fora nessa disputa pelo segundo turno.

Disputa, pelo segundo lugar e segundo turno, que pode ser decidida por diferença de uns 200 mil votos. Enquanto isso, há quatro dias das eleições, 61% dos eleitores de São Paulo ainda não sabem em quem irão votar para vereador.

Durma-se com tal eleitorado, e com a câmara de vereadores que está a caminho.”

FONTE: escrito e apresentado por Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”. Foi redator-chefe de “CartaCapital”. Trabalhou em “IstoÉ” (BSB e EUA) e “Veja”. Repórter da “Folha de S.Paulo” e “JB”; fez "São Paulo, Brasil" no “GNT/TV Cultura.” Comentarista da “TVGazeta” e “Rádio Metrópole” (BA). Artigo e vídeo publicados no portal “Terra Magazine”  (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2012/10/04/julgar-dirceu-cia-na-vespera-da-eleicao-e-decisao-politica-do-stf/). Transcrito também no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/bob-fernandes-e-o-julgamento-de-dirceu-na-vespera-da-eleicao). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

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