quarta-feira, 8 de outubro de 2008

DER SIEGEL: O BRASIL ASSUMIRÁ O LUGAR DOS ESTADOS UNIDOS?

OS DESAFIOS DA NOVA ORDEM MUNDIAL

O jornal alemão Der Spiegel, em artigo de Wolfgang Nowak, ontem publicou (li no UOL em texto traduzido por George El Khouri Andolfato):

“Os Estados Unidos não são mais capazes de carregar nos ombros as crises mundiais. Mas quem assumirá seu lugar? Rússia, Brasil, China e Índia estão crescendo, mas também estão competindo com a Europa e os Estados Unidos por recursos naturais finitos. Apenas um futuro comum, uma "mudança por meio de reaproximação" e não um "choque de futuros", pode nos conduzir adiante.

"Os americanos... só sabem nadar em um mar. Eles nunca desenvolveram a capacidade de ingressar no mundo de outros povos." - Fareed Zakaria

Nós estamos vivendo em uma era sem uma potência mundial única, dominante. O mundo está tomado por crises - mudança climática, escassez de recursos, crise financeira e alimentar, proliferação nuclear e Estados fracassados. Nenhum país pode conceber soluções para tratar de todos esses problemas. Nem mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) está à altura da tarefa. De fato, como reconheceu o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, na Conferência de Governança Progressista, em abril em Londres, as organizações internacionais fundadas após a Segunda Guerra Mundial não mais atendem às necessidades atuais.

Há apenas 17 anos o jornalista americano Charles Krauthammer falou do amanhecer de uma nova era, na qual, por décadas, os Estados Unidos seriam o epicentro da ordem mundial. Apenas cinco anos se passaram desde que o então secretário de Estado americano, Colin Powell, disse à platéia em Davos que os Estados Unidos fizeram uso de seu direito de iniciar uma ação militar unilateral.

Infelizmente, a guerra no Iraque despedaçou o sonho de uma era de "imperialismo liberal", na qual os Estados Unidos espalhariam seus valores e ideais por meios coercivos. A crise financeira dos dois últimos anos acelerou ainda mais o deslocamento de poder -dos Estados Unidos e Europa para a Índia, China, Rússia e, também, para os países árabes do Golfo.

Vários novos livros publicados nos Estados Unidos descrevem essas mudanças na paisagem política. O novo governo que tomar posse em Washington em 2009 deveria considerar uma leitura atenta de "The Post American World", de Fareed Zakaria; "The Second World", de Parag Khanna; "The Great Experiment", de Strobe Talbott; "Rivals", de Bill Emmott, e "The War for Wealth", de Gabor Steingart.

Cada um desses autores aceita a premissa de um mundo multipolar, apesar de suas análises e políticas prescritas divergirem enormemente. Bill Emmott, Fareed Zakaria e Gabor Steingart imaginam a continuidade de uma liderança americana ou transatlântica, enquanto Parag Khanna vê um aumento da concorrência entre a Europa, China e Estados Unidos para cair nas graças de países como Rússia e Índia, que ele atribui ao "segundo mundo". Sejam quais forem suas diferenças, cada um dos autores vê claramente as realidades do presente -diferente dos neoconservadores que foram altamente responsáveis pela condução da política externa americana durante os últimos oito anos.

Dizem que George Bush pai teria feito esse comentário: "Nós não podemos cometer os erros errados". Um governo americano que deseja evitar os "erros errados" terá que encontrar seu lugar no novo mundo multipolar.

Quem são as potências decisivas nesta nova ordem mundial? Estados Unidos, Rússia, Índia, China, Brasil e a União Européia certamente estão entre elas. De forma interessante, esses países estão se aproximando cada vez mais.

A atual crise financeira mostra quão profundos se tornaram seus laços. Outras semelhanças são igualmente reveladoras. Com a exceção da Europa, cada um desses países contém dentro de si aspectos do primeiro, segundo e terceiro mundos. Na megalópole Mumbai, por exemplo, a maior favela da Ásia é adjacente a um centro econômico próspero. Uma pessoa que cruza a Rússia de carro encontra tanto riqueza impressionante quanto pobreza abjeta. Mesmo nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, parte de sua população tem dificuldade de ter uma vida decente.

Esses países não são nem inimigos um do outro, nem são amigos; eles são "frenemies" (algo como "inimiamigos"), concorrentes pelos recursos escassos do mundo. Esses países asseguram às suas populações que podem moldar a futura ordem global e prover seu bem-estar futuro, mas suas respectivas visões do futuro podem divergir enormemente. Um potencial "choque de futuros" paira no horizonte do mundo multipolar.

Nem todos os "frenemies" são democracias no sentido Ocidental. Os sucessos de Cingapura e da China, assim como dos países do Golfo, provam que os países não precisam ser democráticos para garantir um alto padrão de vida à sua população. Mas isso não precisa ser motivo de pessimismo. Dentro das novas potências mundiais não-democráticas, elites produtivas estão substituindo as elites parasíticas. Onde as primeiras têm a vantagem, elas produzem um sistema mais livre e justo do que aquele que herdaram. A meta delas é desenvolver a economia e corrigir as desigualdades sociais. Elas sabem que onde há favelas, haverá "cidades fracassadas" e "Estados fracassados".

A Sociedade Alfred Herrhausen, o fórum internacional do Deutsche Bank, está organizando um novo projeto chamado Foresight (previsão) visando analisar e comparar as visões de futuro das potências mundiais emergentes e atuais. Por meio de discussão e debate, ele espera encontrar elementos para um futuro comum.

O evento inaugural, realizado em Moscou, reuniu participantes do Brasil, China, Europa, Japão, Índia, Rússia, Estados Unidos e de outras partes do mundo para discutir o papel da Rússia em um mundo multipolar. Futuros simpósios estão planejados para os Estados Unidos, após a eleição presidencial, Europa, Japão, Índia, China e América Latina. Esses eventos também incluirão participantes de alto nível da África, do mundo árabe e dos países da Ásia-Pacífico. Uma das principais metas dessa série é ver o mundo pelos olhos dos outros, em vez de por olhos puramente Orientais ou Ocidentais.

Novas alianças que coloquem países uns contra os outros não conseguirão resolver os desafios do século 21. Novas formas de cooperação internacional, consulta e concessão terão um papel central no mundo multipolar. É um absurdo que a Itália pertença ao G-8, mas não a China ou o Brasil. E que tipo de relevância um conselho de segurança mundial pode ter quando Índia, Brasil e a União Européia ficam de fora, enquanto França e Reino Unido são membros permanentes?

São necessárias novas formas de governança internacional: em um mundo com diminuição de recursos e mudança climática em aceleração, os países podem se ver tentados a correr atrás de seus próprios interesses visando obter vantagens a curto prazo. O desafio será conceber uma nova estrutura internacional e um equilíbrio organizado de interesses. Apenas um futuro comum, uma "mudança por meio de reaproximação" e não um "choque de futuros", pode nos conduzir adiante.

Certamente, os últimos 10 anos deram muitos motivos para pessimismo. Para que os próximos 10 anos sejam um sucesso, nós precisaremos nos reforçar com um otimismo crível, mesmo que cético”.

2 comentários:

Anônimo disse...

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Unknown disse...

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