quarta-feira, 8 de outubro de 2008

BRASIL DEVERÁ CRESCER 5,3% NESTE ANO APESAR DA CRISE, PREVÊ CNI

MERCADOS EMERGENTES DESCOBREM QUE SENTEM A DOR DE WALL STREET

Li ontem no portal UOL o seguinte texto do jornal norte-americano “The New York Times”, produzido por Alexei Barrionuevo, no Rio de Janeiro, com colaboração de Keith Bradsher, em Hong Kong, e Vinod Sreeharsha, em Buenos Aires. A Tradução é de George El Khouri Andolfato:

“Os mercados emergentes levaram um de seus maiores tombos coletivos em uma década na segunda-feira (6), à medida que os mercados de ações do México à Rússia e Indonésia foram tomados pelo medo de um colapso do sistema bancário da Europa e pela preocupação de que uma recessão global poderia derrubar os preços dos commodities, forçando uma profunda desaceleração no crescimento dos mercados emergentes.

Muitas das economias que crescem mais rapidamente do mundo achavam que estavam isoladas dos problemas nos países desenvolvidos. Mas economistas disseram que a turbulência simultânea na Europa e nos Estados Unidos foi demais para suportar. "O potencial de uma recessão global está despertando os mercados emergentes para a possibilidade de que poderão ser atingidos mais duramente do que imaginavam", disse Alfredo Coutino, um economista sênior da Moody's, a agência de classificação de crédito.

No início dos pregões do dia em todo mundo, os mercados asiáticos foram tomados pelo temor de que o enfraquecimento das economias nos Estados Unidos e na Europa aumentariam as chances de uma queda nas exportações asiáticas. O índice Standard and Poor's/Australian Stock Exchange 200 em Sydney caiu 3,3%, o índice Nikkei 225 caiu 4% em Tóquio, e o Hang Seng em Hong Kong caiu 5%.

Mas os mercados indonésios caíram 10% - assim como cairiam alguns dos maiores mercados europeus. Diferente de muitos mercados emergentes, a Indonésia conta com um déficit comercial, o que significa que necessita de um fluxo constante de capital estrangeiro. Mas o capital está à procura de refúgio, e mercados emergentes com grandes déficits em conta corrente estão sendo penalizados.

Isso inclui a Índia e muitos dos países bálticos, assim como a Turquia e o Cazaquistão.

Nicholas Bibby, um economista do escritório de Cingapura da Barclays Capital, disse que a queda dos preços das ações por toda a região mostra que muitos investidores ainda temem que as dificuldades no sistema bancário possam se espalhar, mesmo após o Congresso americano ter aprovado o plano de resgate econômico de US$ 700 bilhões em Washington.

"É um medo de contágio", disse Bibby, acrescentando que os bancos asiáticos estão mais bem posicionados do que a maioria para suportar os atuais problemas, porque as altas taxas de poupança geralmente significam que os bancos asiáticos são credores líquidos nos mercados de dinheiro internacionais.

AMÉRICA LATINA

Muitos economistas esperam que as reformas regulatórias que a América Latina adotou para escorar seu setor bancário, após as crises anteriores, a deixará mais resistente a um colapso do que bancos americanos e europeus. Mas a relativa saúde está inspirando pouca fé nos mercados.

O mercado de ações do Brasil, a Bovespa, fechou com queda de 5,4%, após o pregão ter sido interrompido duas vezes, em um momento em que o mercado tinha despencado 15%. Na Argentina, Bolsa de Buenos Aires caiu 6%. Mesmo o Chile, a economia mais estável da região, sofreu uma das maiores quedas de um dia em anos. A bolsa IPSA do país caiu 6,02%, e a IGPA caiu 4,89%.

Para a América Latina, o pesadelo das crises financeiras anteriores ainda está fresco na memória. O México enfrentou problemas no final de 1994 e foi salvo do calote apenas por uma ajuda de US$ 50 bilhões dos Estados Unidos em conjunto com organizações internacionais. Após a crise do Sudeste Asiático, o Brasil viu sua moeda, o real, se desvalorizar 43% no início de 1999, após o governo ter abandonado sua política de defendê-la.

Desta vez, a região é considerada como estando mais resistente. Nesta década, Brasil, México e Chile, em particular, acumularam reservas sabiamente durante o amplo boom das commodities. Eles reformaram suas instituições financeiras com regulamentações mais fortes e, especificamente no caso do Brasil, diversificaram seu comércio para ser menos dependente da economia americana e mais da asiática.

"A América Latina está agora em uma posição macroeconômica muito melhor", disse Coutino. "Mas nas últimas semanas o filme mudou, e agora a Europa está envolvida. Duas das três principais locomotivas de crescimento agora estão sofrendo. Se enfrentarmos uma recessão global, ninguém escapará."

Em vários graus, os países latino-americanos disseram que usarão as reservas e fundos de estabilização para tentar assegurar que o custo mais alto da tomada de empréstimos não afete os exportadores. Os governos do Brasil e do Chile disseram nos últimos dias que liberarão fundos para setores-chave neste ano.

Outros países - como a Venezuela, Equador e Argentina - que economizaram menos, não terão tanta flexibilidade. Na Argentina, o arrocho global do crédito poderia tornar ainda mais difícil para o país renegociar os bilhões de dólares de dívidas ativas e evitar uma crise fiscal no próximo ano, disse Coutino. Mas como ela é evitada pelos investidores estrangeiros, uma fuga de capital não é uma grande preocupação.

"O capital não deixará a Argentina porque ele nunca entrou na Argentina", disse Dante Sica, um economista da Abeceb, uma firma de consultoria econômica em Buenos Aires.

RÚSSIA

A Rússia liderou a venda de ações na segunda-feira, com seu mercado de ações caindo 19,1%, seu pior dia desde o fim da União Soviética e o retorno do capitalismo. O índice RTS russo caiu 0,1% além do pior dia anterior - 28 de outubro de 1997, durante a crise financeira do final dos anos 90.

Três interrupções dos negócios durante o dia não conseguiram evitar a queda. A outra principal bolsa, a MICEX, teve queda de 18,6%. E algumas grandes empresas se saíram ainda pior.

A Gazprom, a maior empresa russa, caiu 24,4%, e a Norilsk Nickel, uma mineradora blue-chip, perdeu 37,7%. Corretores antes eufóricos com a rápida ascensão do mercado devido ao petróleo disseram achar que o pior ainda está por vir.

"Ninguém tem que ser dono do mercado", disse Kingsmill Bond, o estrategista chefe da corretora Troika Dialog, sobre as ações russas. E aparentemente ninguém quer, à medida que investidores liquidavam posições para compra de títulos do tesouro.

O problema é que, mesmo diante da incerteza global, o mercado de ações russo parece especialmente vulnerável.

A queda no preço das commodities é um motivo: à medida que cresce a ameaça de uma recessão mundial, o petróleo e outros recursos que alimentaram o boom da Rússia estão recuando. O mercado russo também foi enfraquecido pela fuga dos investidores após a guerra na Geórgia, que levantou o fantasma de uma volta das hostilidades da Guerra Fria com o Ocidente. Com a queda das ações, outros investidores foram forçados a vender a pedido de cobertura, em uma espiral que revelou que o mercado de ações russo era mais alavancado do que a maioria dos analistas supunha. Enquanto isso, um plano de resgate do Kremlin não surtiu muito efeito.

Apenas na segunda-feira, a queda no mercado de ações representou uma perda no papel de US$ 102 bilhões para as empresas russas.

Os executivos da Gazprom antes se gabavam, como Kruschev, que sua empresa enterraria sua maior concorrente, a Exxon Mobil, apenas com a força de suas reservas aparentemente ilimitadas de gás natural na Sibéria. Mas a Gazprom caiu 66% desde seu pico em maio; a capitalização de mercado da empresa era de US$ 123 bilhões na segunda-feira.

A Exxon Mobil, que também está vulnerável ao declínio dos preços do petróleo, caiu menos, 21,1% desde seu pico em maio.

Em outro exemplo dos apuros da Rússia, o preço da Norilsk Nickel despencou na segunda-feira, depois que um grande acionista, o magnata dos metais Oleg V. Deripaska, o homem mais rico do país, foi forçado a entregar suas ações da fabricante de autopeças canadense Magna em um pedido de cobertura pelos credores.

Isso colocou em dúvida se sua recente compra das ações da Norilsk também poderia ser tomada pelo consórcio de bancos ocidentais que financiou o negócio. Um porta-voz do conglomerado de Deripaska, o Basic Element, disse que a empresa não enfrenta crise de liquidez. As ações da Norilsk caíram 78,2% desde seu pico neste ano.

Tamanhas perdas nas poderosas empresas de mineração, petróleo e gás da Rússia agora geram o fantasma de calote por parte do círculo rico, mas sigiloso de empresários russos conhecidos como oligarcas. Ter uma idéia de suas finanças sempre foi um jogo de adivinhação.

O mercado de ações russo agora está mais ou menos onde estava em 17 de agosto, quando as autoridades suspenderam os negócios por dois dias e anunciaram um pacote de estímulo de mais de US$ 150 bilhões em empréstimos para bancos e incentivos fiscais, que o mercado em grande parte ignorou. Na segunda-feira, Vladimir Putin, o primeiro-ministro, disse que formaria um comitê para estudar novas respostas para a crise. Um vice-ministro da economia disse que a Rússia planeja medidas de estímulo adicionais, não especificadas.

ISLÂNDIA

Os bancos da Islândia eram celebrados há pouco tempo por terem transformado uma ilha de aldeias de pescadores em um dínamo econômico, emprestando dinheiro ao mundo. Mas agora o arrocho mundial do crédito está ameaçando afundar esses bancos excessivamente alavancados, e o país com eles.

A posição dos bancos da Islândia se deteriorou enormemente nas últimas 24 horas, disse o primeiro-ministro Geir H. Haarde em um pronunciamento na televisão em Reykjavík, na segunda-feira - tanto que o país aprovou uma legislação na segunda-feira permitindo que o governo assuma amplos poderes sobre seus bancos.

Haarde disse que todos os depósitos bancários seriam garantidos pelo país - seguindo ações semelhantes por parte da Irlanda, França, Alemanha, Áustria, Holanda e outros.

O primeiro-ministro já pediu aos fundos de pensão do país e seus dois maiores bancos, Kaupthing Bank e Landsbanki Islands, para venderem parte de seus ativos estrangeiros e repatriarem o produto, para que o país tenha uma infusão de capital. Com a nova legislação, o governo pode decidir se fundirá fundos de pensão e bancos ou se declarará alguma falência.

As medidas também eram desesperadamente necessárias para impedir a desvalorização excessiva da moeda do país, o que apenas desestabilizou ainda mais a economia. A coroa islandesa se desvalorizou 43% frente ao euro neste ano, principalmente porque os investidores temiam que o governo seria forçado a intervir e socorrer os bancos - algo que não teria recursos para fazer.

Os ativos mantidos pelos principais bancos do país são nove vezes o tamanho de toda a economia.

Os problemas da Islândia estão profundamente enraizados na história de seu setor de serviços financeiros, que cresceu fora de proporção em relação à população de 319.355 do país desde que o setor foi privatizado e desregulamentado há cerca de oito anos. Os bancos exploraram os mercados de capital para financiar sua rápida expansão para o Reino Unido e lugares tão distantes quanto a China, provocando um boom de investimento que criou toda uma liga de novos bilionários.

Mas também deixou o país com um enorme déficit em conta corrente e sua economia e mercado financeiro vulneráveis a um arrocho nos mercados de crédito. A Islândia teve o primeiro alerta em abril, quando a coroa desvalorizou 26% em quatro meses, à medida que os corretores passaram a duvidar da capacidade do governo de manter a estabilidade de seu setor bancário inflado.

O temor era de que os bancos islandeses poderiam dar um calote em seus empréstimos estrangeiros. Um mês depois, os bancos centrais da Suécia, Dinamarca e Noruega saíram em seu resgate e ofereceram um empréstimo de emergência. Naquele momento, isso ajudou a devolver parte da confiança na economia e sistema financeiro do país, mas agora os outros países europeus precisam lidar com seus próprios problemas.

MÉXICO

Há duas semanas, o presidente do México, Felipe Calderón, durante uma visita à redação do "The New York Times" em Manhattan, notou que em décadas anteriores, quando os Estados Unidos pegavam um resfriado, a América Latina pegava uma pneumonia. Atualmente, ele disse, quando os Estados Unidos pegam uma pneumonia, a América Latina pega apenas um resfriado.

Pode ter sido apenas uma ilusão. Com cerca de 85% das exportações mexicanas destinadas aos Estados Unidos, e metade de seu investimento estrangeiro vindo de lá, no final o México provavelmente será o país latino mais afetado pelas dificuldades financeiras em Wall Street. As remessas de dinheiro, a segunda maior fonte de moeda estrangeira do México, estão estagnadas e caindo, disse Leonardo Martinez-Diaz, um especialista em México e membro político do Instituto Brookings. E o peso do México se desvalorizou 6,4% em setembro, seu pior mês desde agosto de 1998.

O setor bancário do México poderá ser um desafio ainda maior. Cerca de 82% dos ativos dos bancos mexicanos são de propriedade estrangeira, dos quais cerca de um terço está nas mãos de americanos, um terço de propriedade de bancos espanhóis e o restante de propriedade de outros bancos europeus, disse Martinez-Diaz.

"A crise poderia ser transmitida ao México por essas ligações bancárias", ele disse. "Se houver uma crise no mercado espanhol, ele poderá recuar e deixar de emprestar ao México por algum tempo."

À medida que as empresas adiam grandes investimentos até pelo menos o próximo ano, os mexicanos comuns provavelmente apertarão seus cintos, ficarão mais em casa e talvez adiarão gastos maiores. "Toda a economia entrará em um modo de esperar para ver, para saber como se sairá a economia americana", ele disse.

BRASIL

Com a queda de segunda-feira, o mercado de ações do Brasil já caiu 45% neste ano. Mas o país continua a crescer mais de 5% ao ano.

Ele fez mais do que qualquer outro país na América Latina para economizar dinheiro durante o boom das commodities. Os dois últimos governos acumularam mais de US$ 200 bilhões em reservas de moeda estrangeira e mais bilhões em fundos de estabilização.

O Brasil diversificou sua economia e reduziu sua exposição aos Estados Unidos, que atualmente representam apenas 15% das exportações brasileiras, uma queda em comparação a quase 50% no início da década.

Mas apesar do consumo doméstico ter movido grande parte do recente crescimento na economia, o Brasil permanece altamente sensível aos preços das commodities. As autoridades do governo buscaram na segunda-feira minimizar o efeito da queda do mercado e as preocupações em geral com os mercados emergentes.

Um raio de esperança na ampla venda de ações pode ser o efeito que a crise está tendo sobre o real, que perdeu 17% de seu valor em setembro, seu pior desempenho desde setembro de 2002. Apesar disso minar o poder aquisitivo dos consumidores, ele fornece um alívio bem-vindo ao setor industrial do país, que estava alertando que as exportações do Brasil estavam se tornando caras demais”.

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