A Folha Online postou ontem no final da noite:
BRASIL FICA FORA DO "OLHO DO FURACÃO" MAS TERÁ SEQÜELAS COM CRISE, DIZEM COLUNISTAS DA FOLHA
“A crise financeira global terá efeitos preocupantes sobre a economia brasileira, em especial sobre a confiança do sistema de crédito, mas deixará menos estragos no Brasil devido à 'blindagem' que o país possui devido à sua regulação mais conservadora e à falta de instrumentos sofisticados de títulos imobiliários.
Essa foi uma das conclusões do debate promovido pela Folha entre alguns de seus principais colunistas de economia na noite de hoje.
Participam da discussão os economistas Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda; Marcos Lisboa, diretor-executivo do Unibanco; Marcos Cintra, professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas; e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular da Unicamp. A mediação foi de Vinicius Torres Freire, colunista do jornal.
Os colunistas mostraram especial preocupação com a falta de confiança que está assolando o mercado de crédito. Esse problema atinge principalmente o setor exportador, uma vez que elas precisam de recursos em dólar e os bancos estrangeiros estão evitando ao máximo realizar novos empréstimos.
"É um problema de confiança, que é o fator catalítico do mercado. E será retomado em alguns meses, mas não poucos", explica Delfim Netto. Já para Lisboa, é normal que haja "exageros emocionais" devido aos desdobramentos da crise, tornando empresários e banqueiros mais conservadores, mas que com o tempo "a vida volta ao normal."
Sobre o que o governo brasileiro deve fazer para que o país passe pela crise com o menor prejuízo possível, os colunistas da Folha destacaram a necessidade de reduzir o gasto público, mas sem mexer nos investimentos e nos programas sociais.
"É importante manter o investimento e as políticas sociais, além de ao menos manter estável os gastos de custeio", receita Lisboa. A taxa básica de juros também precisa ser freada, disse o executivo do Unibanco.
"[O crescimento de] 2009 vai depender muito da política fiscal, monetária, das posições do BC diante da inflação.
Reduzir gastos de custeio é fundamental", sentenciou Delfim, que criticou os bancos brasileiros porque eles foram beneficiados com a liberação de parte do depósito compulsório mas não retransmitiram isso para o mercado de crédito. "Vamos produzir uma desaceleração muito maior do que a necessária. Não temos as restrições que os outros [países] têm. Claro que precisa de cuidado, mas sem essa mania de grandeza de querer fazer o mesmo que os grandes bancos de lá."
Apesar de concordar com a necessidade da redução de gastos, Cintra não mostrou otimismo que isso irá ocorrer.
"Não acredito em redução de gasto de custeio pelo governo. E vai aumentar a carga tributária, não por aumento de alíquotas e sim pela maior fiscalização e pelo avanço da tecnologia." Ele ainda lembrou que um caminho que o governo poderia usar para reativar o mercado de crédito é reforçar o papel dos bancos públicos no setor, fazendo com que eles cedam mais empréstimos.
ERROS DOS EUA, ACERTOS DO BRASIL
Para os colunistas da Folha, a falta de sinergia entre os órgãos reguladores dos mercados financeiros e a má atuação das agências de classificação de risco fizeram com que a atual crise financeira eclodisse nos Estados Unidos.
"A crise ocorreu porque houve falta de regulação e aumento de práticas financeiras perigosas, que nasceram da tentativa de passar por cima de Basiléia 2", disse Belluzzo, se referindo ao acordo assinado em 2004 que fixa princípios básicos sobre contabilidade e supervisão bancária.
Para Lisboa, a falta de uma boa regulação nos Estados Unidos ocorreu essencialmente porque os diversos sub-setores dentro do mercado financeiro possuem órgãos reguladores diferentes e que não conversam entre si.
Também houve críticas sobre a condução das medidas para resolver a crise de confiança no mercado acionário e dos empréstimos interbancários --em especial deixar o banco Lehman Brothers quebrar, o que desencadeou a crise de confiança entre os bancos-- e com a falta de medidas voltadas para as famílias americanas, que se encontram fortemente endividadas. "O Fed [Federal Reserve, o BC americano] precisa reestruturar as dívidas dessas famílias", disse Belluzzo.
Essa falta de regulação não é o problema do Brasil, segundo os colunistas. Para Lisboa, o Brasil acabou tirando "vantagem do atraso" --ou seja, o forte conservadorismo regulatório e o mercado imobiliário incipiente acabaram fazendo o país não estar no olho do furacão.
"O compromisso de fiscalização [do BC brasileiro] foi seguido à risca. As vezes o BC até prejudica algumas iniciativas", disse Delfim”.
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