O FANTASMA DO RACISMO
“Um pequeno incidente na cidade de Cambridge, Massachussets, ganhou dimensão nacional e criou um problema de proporções políticas para o presidente Barack Obama que foi obrigado a se desculpar publicamente por palavras que dissera no dia anterior. E reacendeu a velha discussão sobre o racismo, um tema que, nos Estados Unidos, embora tentem tratá-lo com naturalidade, ele permanece encravado no inconsciente das pessoas e volta e meia reaparece com força total, basta que algum fato inesperado lhe acenda o pavio.
Tudo começou no fim de semana passado quando o professor Henry Gates Jr, um dos vinte mais importantes professores da universidade de Harvard, chegou em casa, em companhia de um amigo, e forçou a porta de entrada porque não tinha levado as chaves. Uma vizinha ligou para a polícia e avisou que dois homens negros com mochilas estavam tentanto entrar na casa.
Daí em diante, as declarações se desencontram. O professor alega que foi vítima de uma atitude arbitrária e racista por parte do policial que, mesmo sabendo que ele era o dono da casa, levou-o preso. O sargento Crowley, que efetuou a prisão, afirma que foi desrespeitado pelo professor e não teve outro jeito senão dar-lhe voz de prisão e nega qualquer ponta de racismo no episódio. O professor acabou algemado e preso, e autuado por desacato à autoridade e por perturbar a ordem pública.
O episódio repercutiu no início da semana, mas já caia para segundo plano na preferência da mídia - superado que foi pela polêmica reforma do sistema de saúde proposta pelo presidente Barack Obama, que está encontrando enorme resistência da oposição republicana e criando uma cisão entre a maioria democrata no Senado - quando aconteceu o inesperado.
Numa conferência de imprensa na quarta-feira, para explicar seu plano para a saúde, Obama colocou lenha na fogueira quando um repórter lhe pediu a opinião sobre o caso do professor. O presidente, sem a ajuda do teleprompter, foi apanhado de surpresa e não mediu as palavras:
A polícia de Cambridge agiu com estupidez ao prender alguém que já tinha provado que estava em sua própria casa...mesmo não considerando este incidente, há uma longa história neste país de aplicação da lei desproporcionalmente contra afro-americanos e latinos.
No dia seguinte, o clima era de guerra. O professor queria ir às últimas consequências por se julgar vítima de racismo, o policial se dizia decepcionado com o presidente por emitir opinião sobre um assunto local, sem conhecer os detalhes do acontecido. O país ficou dividido, organizações de direitos civis de um lado, em apoio ao professor, associações de policiais de outro, em apoio ao sargento.
Consciente do estrago que suas declarações tinham feito e do risco político que corria, Obama convocou a imprensa na quinta-feira para pedir desculpas ao sargento Crowley. Disse que o episódio foi um « teachable moment », um momento de aprender e dele tirar lições . E tentou apagar o fogo ao convidá-los para um encontro esta semana na Casa Branca para tomarem juntos a cerveja da paz.
Aparentemente, Obama conseguiu acalmar os ânimos. Professor e policial aceitaram o convite e seus partidários apreciaram o gesto de humildade de Obama.
Mas o episódio serviu para demonstrar como é tênue a linha que divide o relacionamento entre brancos e negros nos Estados Unidos, sobretudo no momento em que o país tem o primeiro presidente negro de sua história, motivo de inconformismo de brancos fanáticos e de certos setores da elite. A Ku Klux Klan pode ter acabado mas sua ideologia permanece viva na cabeça de meia dúzia de malucos que aguardam apenas uma oportunidade para colocar as garras de fora.
Obama está na alça de mira da direita conservadora americana. Ele não vai ter vida fácil daqui em diante, por isso todo cuidado é pouco.
FONTE: artigo do jornalista Eliakim Araújo no seu blog “Direto da Redação” publicado em 26/07/2009.
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