sábado, 4 de setembro de 2010
ENTREVISTA COMPLETA DE LULA PARA O “O ESTADO DO PARANÁ”
Entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornal “O Estado do Paraná”, publicada em 02 de setembro de 2010
Jornalista: Apontado como uma das principais necessidades de Curitiba para receber a Copa do Mundo de 2014, o metrô de Curitiba ficou de fora das duas etapas do PAC. Por que essa obra não foi viabilizada a tempo? A estrutura da cidade não fica comprometida para atender às exigências da FIFA?
Presidente: Nós vamos investir na construção de metrôs, mas pensando na melhoria do transporte urbano para a mobilidade e o conforto da população ao longo do tempo e não apenas tendo em vista a Copa do Mundo. O PAC 2, por exemplo, prevê investimentos de R$ 18 bilhões para projetos de mobilidade urbana a serem executados a partir de 2011. A chamada pública para a apresentação formal de projetos está prevista para breve e algumas cidades, entre elas Curitiba, já manifestaram interesse à Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades. Ou seja, a cidade pode vir a contar com recursos previstos no PAC 2 para a construção do metrô. No PAC da Copa, não foram contemplados projetos de construção de metrôs, tendo em conta a sua complexidade e cronograma mais longo, que é incompatível com os prazos da Copa das Confederações (2013) e do Mundo (2014). Para o Mundial, especificamente, foram selecionados outros modais de transportes com cronogramas mais confortáveis, como a construção de linhas de BRT's (sigla, em inglês, para "Ônibus de Trânsito Rápido"), VLT's (Veículos Leves sobre Trilhos), monotrilhos, corredores de ônibus e obras viárias. Os recursos destinados às 12 cidades-sede, originários do FGTS, são de R$ 7,7 bilhões que, somados às contrapartidas dos estados e dos municípios, totalizam R$ 11,5 bilhões. No PAC 1, lançado em 2007, foram priorizados apenas projetos relativos à conclusão das obras de metrô que já estavam em execução através da CBTU e da TRENSURB,empresas vinculadas ao Ministério das Cidades. O volume de recursos destinados a esses projetos foi de R$ 3 bilhões.
Jornalista: Por que, apesar da grande virada que conseguiu no Brasil todo, a candidata Dilma Rousseff não conseguiu repetir esse desempenho no Sul do Brasil, onde até viu a diferença para o Serra aumentar?
Presidente: Até onde eu sei, as pesquisas mais recentes sinalizam para a vitória da candidata Dilma em todas as regiões, inclusive no Sul. Os resultados das pesquisas, embora importantes, são menos importantes que o voto na urna e devem ser avaliados com toda calma. A aceitação da candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff vem crescendo em todos os estados do Brasil e isso a gente sente nas ruas, em contato com o povo. A empolgação é cada vez maior. Embora a evolução seja muito favorável a ela, a campanha não pode se acomodar de maneira nenhuma. É preciso muita atenção porque, como se diz por aí, o jogo só acaba quando termina.
Jornalista: A que o senhor atribui o fato de Osmar Dias ser o único candidato a governador da chapa com o PT que não vem crescendo nas pesquisas de intenção de voto junto com Dilma? Como virar o jogo também no Paraná?
Presidente: Volto a dizer: pesquisa não significa voto na urna. Quando estamos bem, temos que continuar trabalhando como se estivéssemos lá embaixo e quando estamos mal, temos que redobrar os esforços para reverter o quadro. Eu estou convencido de que o avanço da ex-ministra Dilma em todo o Brasil pode ajudar as candidaturas dos aliados nos estados, incluindo o Paraná, tanto de governadores quanto de parlamentares. Osmar Dias está perfeitamente afinado com o nosso projeto político, que sempre apontou para um forte crescimento econômico e geração de empregos, combinado com transferência de renda. E é esse projeto que a campanha eleitoral em todo o país, incluindo o Paraná, está referendando e consolidando. Tenho absoluta convicção de que Osmar Dias tem tudo para fazer um excelente governo no Paraná. Ele vem demonstrando há muito tempo sua integridade e capacidade de trabalho no exercício de vários cargos públicos que ocupou, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Tem o meu apoio e é meu candidato.
Jornalista: O PT deixa clara a estratégia de eleger mais parlamentares neste ano. O senhor espera que, se eleita, Dilma tenha uma relação melhor com o Congresso que a que o senhor teve?
Presidente: É importante que os partidos aliados ao governo tenham grande representatividade no Congresso Nacional para que os projetos e a governabilidade caminhem da melhor forma possível. Procurei sempre estabelecer uma parceria com o Congresso, sobretudo em propostas que apontavam para melhoria do ambiente econômico e do bem-estar dos brasileiros. Desta forma, aprovamos projetos importantes, que mudaram definitivamente a vida de grande parte da população. Sofri alguns reveses, é verdade, entre os quais a derrubada da CPMF, com a retirada repentina de R$ 40 bilhões por ano do Orçamento, que prejudicou, sobretudo, o financiamento da Saúde. Foi uma coisa de tentar prejudicar o governo, mas que prejudicou, na verdade, a população mais carente, a que mais precisa de uma saúde de qualidade. Mesmo assim, conseguimos grandes vitórias, e o amplo apoio ao governo prova que houve avanços importantes para a população. Espero que Dilma, se eleita, consiga estabelecer uma relação melhor do Executivo com o Legislativo, que é tão importante para o país.
Jornalista: Qual é o futuro político do Lula, após oito anos na Presidência? Vai ser candidato novamente? A algum outro cargo? Vai voltar a presidir o PT? Vai participar diretamente do governo Dilma?
Presidente: O ritmo e a carga horária de trabalho de um Presidente da República são alucinantes. É claro que me preocupo com o que vou fazer quando deixar a Presidência, pois será uma vida completamente diferente dessa que estou vivendo desde 2003, e com a qual já estava habituado. Mas a minha preocupação principal no momento não é com o meu futuro pessoal, e sim com o presente e o futuro do nosso país. Quero continuar trabalhando e cobrando realizações dos meus auxiliares até o último segundo do meu mandato, pois para isso é que eu fui eleito presidente. Em relação ao futuro do país, estou empenhado na campanha da ex-ministra Dilma, pois será a garantia de que o nosso projeto político terá continuidade. Sobre o meu futuro pessoal, penso em trabalhar, através do PT e outros partidos, para finalmente aprovarmos a Reforma Política e a Reforma Tributária. Essas são questões mais afetas ao parlamento que à Presidência. Vou tentar também trabalhar com países africanos e sul-americanos que ainda lutam contra a extrema pobreza e a fome, levando a experiência bem-sucedida que tivemos nesses oito anos no Brasil. É preciso que esses países se tornem fortes do ponto de vista econômico e social e que sejam grandes parceiros do Brasil. Temos plena consciência de que não é preciso que outros países percam para que nós possamos ganhar. Nosso intercâmbio será mais intenso e lucrativo quando todos tiverem um bom nível de desenvolvimento econômico e social. Mas eu pretendo cuidar do meu futuro efetivamente quando tiver todo o tempo do mundo para planejar, ou seja, a partir do dia 1º de janeiro.”
FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/preocupacao-nao-e-com-futuro-pessoal-mas-com-presente-e-futuro-do-pais/).
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