Terra Magazine
Julio Gomes de Almeida, de São Paulo (SP)
“Como se sabe, a economia brasileira teve uma forte desaceleração no segundo trimestre deste ano, após um crescimento inusitado nos três primeiros meses em razão dos incentivos fiscais que ainda se faziam presentes naquele período. Tal desaceleração levou os economistas a projetarem um crescimento do PIB para o segundo semestre e para o ano que vem em níveis relativamente baixos. A taxa projetada atualmente para o ano que vem está em 4,5%.
Contudo, o percurso de algumas variáveis relevantes da economia não autoriza a avaliação de que a redução significativa do ritmo de atividade no segundo trimestre de 2010 vá se prolongar para o restante do ano e contaminar o desempenho do ano que vem.
De outra parte, nada leva a supor que voltaremos a uma situação como a que a economia vivenciou no primeiro trimestre, quando um crescimento atípico e exagerado se apresentava para todos os setores econômicos, em especial, para o comércio e a indústria.
Por isso, o Banco Central não precisará retroceder no desarme que vem promovendo na política de aumento de juros que estava em curso. As indicações hoje disponíveis parecem apontar na direção de que a economia poderá, neste segundo semestre e no próximo ano, ter uma taxa de crescimento bem razoável sem ser explosiva.
Do lado da confiança dos agentes, essa perspectiva é sustentada pelo otimismo dos consumidores, que aumentou no início deste segundo semestre, e pela manutenção de expectativas positivas dos empresários, significando que a disposição para consumir e investir permanecem elevadas e com tendência de ampliação. Por outro lado, das análises da evolução do crédito e da massa de rendimentos, vêm a indicação de significativo reforço do poder de compra da população. Por poder de compra entende-se o volume de recursos que as pessoas dispõem para consumir ou poupar. Nele, podem influir o nível de impostos e as transferências do governo, mas, no curto prazo, sua maior ou menor magnitude depende da massa de rendimentos que as pessoas obtêm do trabalho e dos recursos que os bancos aceitam avançar como crédito para as famílias.
No primeiro mês do segundo semestre, os financiamentos para as pessoas físicas voltaram a acelerar e sua evolução superou o aumento do crédito para as empresas. A variação foi de 1,3% sobre junho e de 19,2% sobre julho de 2009, com grande destaque para o crédito imobiliário, mas não só. O crédito pessoal e para a compra de veículos tiveram também uma grande expansão. Quanto à massa de rendimentos, a última pesquisa do IBGE mostrou um maior ritmo de crescimento em julho. Comparada a julho do ano passado, a massa real de rendimentos evoluiu 8,7% e, nos meses anteriores, o acréscimo girava em torno de 7,0%, o que denota uma aceleração.
Aliados a investidores e consumidores confiantes, os mais intensos processos de geração de renda e de concessão de crédito já surtiram efeito sobre o consumo, elevando o seu nível em julho. Dados preliminares de vendas em grandes shoppings centers sugerem ter havido aceleração do volume de vendas do varejo.
Sendo confirmado, o processo de reativação da economia será benéfico, pois afastará as antecipações mais sombrias sobre o desempenho econômico do segundo semestre do ano que vem e contribuirá para que o setor público feche 2010 com menor déficit, já que a recuperação ampliará a receita de impostos. Restará o fator externo, vale dizer, o desempenho da economia mundial, que mostra sinais de baixo crescimento e que poderá afetar as exportações brasileiras, os fluxos de investimento para o país e o ânimo para investir dos nossos empresários.”
FONTE: escrito por Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Publicado no portal “Terra Magazine”, do jornalista Bob Fernandes (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4651140-EI6579,00-O+crescimento+do+segundo+semestre.html).
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