quarta-feira, 8 de setembro de 2010
A PROVA DO PUDIM ESTÁ EM COMÊ-LO
“Na sabatina do Estadão, Serra voltou a atacar a política econômica do governo Lula. Citou o economista alemão Ernst Engel (século 19) ao falar de balança comercial; recorreu às teorias de John Maynard Keynes (século 20); lembrou o tempo em que ensinou história da economia, desde as teorias econômicas de São Tomás de Aquino (século 13); fez comparações entre as economias do Brasil e de outros países da América Latina; e foi por aí afora [para um secundarista, sem diploma de curso superior, é louvável seu esforço para dar essa aula de economia].
Seguro de si, deu aula para explicar por que está tudo errado, no que outros consideram o maior êxito do governo federal. Não ouvi ninguém inquirir o candidato tucano para saber quando levaria esses assuntos para o horário nobre da propaganda eleitoral. Depois de tudo, se [para ele] o país não soube enfrentar a crise mundial, se sofre de um processo acelerado de desindustrialização e se sua política cambial exige mudanças, por que não tratar desses assuntos, cruciais para a vida dos brasileiros, na campanha eleitoral na TV?
O assunto é difícil, mas não pela tecnicidade ou complexidade da temática, e sim pelo efeito comparação. Como posar de sabe-tudo após ter sido ministro de FHC durante 8 anos, durante os quais alguns dos problemas agora evocados foram precisamente configurados pela política perversa praticada? Como evocar impunemente a carga tributária e ocultar que foi quando ele era ministro do planejamento e da saúde, e FHC presidente, que ela subiu mais brutalmente? Como pretender falar em desindustrialização, ocultando que só nos últimos anos a indústria brasileira conseguiu recuperar seu potencial, como bem ilustra a indústria naval? Como evocar os juros perversos, fingindo ignorar que são os mais baixos da história recente, infinitamente menores do que eram durante o governo do PSDB? Enfim, como atacar o crescimento atual, se ele foi pífio e gerador de desemprego durante quase todo o mandato de FHC e hoje se aproxima de uma situação de pleno emprego?
Arrogante, Serra afirma:
“A candidata Dilma parece não ter estudado economia, porque quando fala disso mostra seus pontos mais frágeis. Ela disse que esse crescimento [das importações] se deve à importação de bens de capital, a investimento, e é óbvio que não é assim”.
A única coisa óbvia é a petulância do personagem. Como explicar então que, de janeiro a agosto, as compras de bens de capital fabricados no exterior foram 79,7% maiores que as dos oito meses correspondentes de 2009? (dados do Estadão de hoje, caderno economia).
Como explicar que o país seja o terceiro escolhido pelas multinacionais para investimento?
Se a desindustrialização é aquela descrita pelo tucano, como explicar a ressurreição da indústria naval brasileira?
Em 2000, o número de vagas no setor era de apenas 2.000. Agora, já alcançou 78 mil postos de trabalho. Hoje, o setor é formado por 37 estaleiros espalhados por várias regiões do país. As grandes encomendas da Petrobras (de petroleiros, embarcações de apoio e sondas) podem estimular a construção de outros 18 estaleiros (informação da carta do Sindicato da indústria naval publicada na Folha hoje).
A própria notícia do Estadão, reproduzida aqui no blog [do Favre], sobre os investimentos para a nova fábrica da Toyota em Sorocaba, é um desmentido às afirmações doutorais de Serra (ver “Nova fábrica da Toyota, em Sorocaba, atrai 12 fornecedores de autopeças”).
“O Brasil foi o único país significativo que demorou quatro meses para baixar os juros durante a crise. É uma coisa para tese de mestrado como curiosidade científica”, disparou Serra. Após as eleições, ele seguramente disporá de tempo para sua tese de “mestrado”. Pelo menos fará uma, esperamos, que seja uma contribuição positiva.
Os ingleses têm uma expressão, “a prova do pudim está em comê-lo”. Serra invoca os outros Bancos Centrais para afirmar que o nosso errou durante a crise, não abaixando os juros. Não sabemos quais teriam sido as consequências para o Brasil se Serra tivesse imposto sua posição naquele momento, mas sabemos do resultado positivo que teve a atuação do BC durante a crise. O Brasil foi um dos últimos países a entrar no remoinho da crise mundial e o primeiro a sair dela. Foi um dos que menos sentiu no desemprego o impacto violento do desarranjo internacional. Seus bancos não foram abalados e o governo logrou manter o crédito quando ele secou no mundo. Experimentamos o pudim e a popularidade do governo, reconhecida até pelo próprio tucano, prova que o sabor e a consistência são bons.
Ontem, o jornal "Clarín", da Argentina, chamou a atenção para o fato que “ninguém explorou este aspecto de seu verdadeiro [do Serra] plano de governo”. Para o jornal, o projeto do tucano é desvalorizar o Real, promover com isso um aumento marginal nas exportações e reduzir os gastos públicos, o que levaria a uma recessão (”Es obvio que Serra no puede criticar que la economía crezca porque equivaldría a admitir que de ganar aplicará un plan contrario al actual. Hasta ahora nadie ha explotado esa faceta de su verdadero plan de gobierno. Tal como enunció en diversas oportunidades su proyecto apunta a devaluar el real, promover un aumento marginal de las exportaciones por esa vía y bajar los gastos del Estado hasta hacerlos casi desaparecer. Para los brasileños sería un escenario cuanto menos triste ya que conllevaría una recesión. Y para los argentinos sería probablemente dramático, como lo fue a partir de 1999, cuando el ex presidente Fernando Henrique Cardoso practicó una severa devaluación”).
O que o Clarín não diz, mas que os analistas brasileiros já sacaram é que Serra praticará um intervencionismo direto na política do BC e desarticulará todo o lento processo pelo qual o Brasil atingiu o estágio atual, inclusive os aspectos positivos do tripé macroeconômico implementado a partir do segundo mandato de FHC e mantido e aprimorado durante os oito anos da presidência de Lula.
Serra afirmou na sabatina: “Temos um programa de governo pronto. A dúvida é se soltamos antes ou depois do deles, porque, se soltar antes, o deles terá tudo o que o nosso tiver”.
Curioso personagem, conhecido por nunca ter levado adiante qualquer ideia própria, de sempre ter copiado projetos alheios e de procurar crédito indevido por obra de outros, proclamar com soberba tamanha justificativa para seu estelionato eleitoral. Não publica programa porque não quer assumir compromissos. Procura evitar mostrar a verdadeira cara, o que até alguns tucanos e aliados criticaram em José Serra.
O candidato da dupla face, que solicita um cheque em branco do eleitorado, mostrando uma cara com Lula, e utilizando a outra para acusá-lo de liberticida e fascista.”
FONTE: escrito por Luis Favre e publicado em seu blog (http://blogdofavre.ig.com.br/2010/09/a-prova-do-pudim-esta-em-come-lo/) [imagem “duas caras” e trechos entre colchetes colocados por este blog]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
quem diria que ele estava certo e a trupe petralha deixou a cair a mascara
quem diria que ele estava certo e a trupe petralha deixou a cair a mascara
Postar um comentário