quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
COM PETRÓLEO, A LEI É OUTRA
Por Lustosa da Costa
“No tocante ao Oriente Médio, os governantes americanos tratam de modo totalmente diverso os países que têm petróleo e o cedem em condições de pai para filho às empresas ianques e os que não têm preocupação em agradar à grande potência dando-lhe seu ouro negro.
Temos o caso do Iraque, firme aliado dos EUA quando guerreou o Irã, e que, de repente, virou integrante do “eixo do mal” e seu governante um "carrasco que comandava a tortura dos adversários políticos". Os americanos precisaram de duas guerras para arrecadar tão precioso botim e ainda hoje enfrentam resistência daquele povo. Que não se rendeu ante os maus-tratos aplicados pelos EUA a homens e mulheres do país, amontoados em prisões quando o Iraque foi ocupado.
LÍBIA
Como também queria tomar posse, não só do petróleo, como das divisas acumuladas pelo Líbia, Washington passou a dizer horrores do ditador há 34 anos daquele país, horrores que, até então, não identificavam nem denunciavam.
Virou um monstro quando o Ocidente viu que podia apoderar-se de todas as suas riquezas, a partir do ouro negro... Seu governante foi derrubado e morto, depois de ter sofrido terríveis humilhações.
SÍRIA
Já com a Síria, que não é milionária de petróleo, a cantilena é outra. O próprio presidente americano proclama a crueldade do ditador ali no poder e, de todas as maneiras, ameaça derrubá-lo.
Não manda, porém, seus poderosos exércitos para saquear seu petróleo. A lengalenga é verbal. Porque eles não veem ali ouro negro para inflamar sua oratória e aquecer seus canhões.”
FONTE: escrito por Lustosa da Costa em sua coluna no Diário do Nordeste (http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1102675&coluna=1) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]
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3 comentários:
“Bashar al-Assad não sairá. Não, pelo menos, agora”
Por Robert Fisk, The Independent, UK
From Washington this looks like Syria's “Benghazi moment”. But not from here
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Ao olhar para o leste o que Bashar al Assad vê? O Irã está com ele e o Iraque se recusa a impor sanções!
Bashar al-Assad não sairá. Não, pelo menos, agora. Não, provavelmente, por um longo tempo.
Os jornais do Oriente Médio estão cheios de histórias sobre se Assad vive ou não seu “momento Benghazi” – matérias quase invariavelmente enviadas prontas de Washington ou Londres ou Paris – e poucos na região entendem como é possível que o ocidente veja tão mal e entenda tão pouco.
É preciso repetir e repetir:
o Egito não foi a Tunísia;
o Bahrain não foi o Egito;
o Iêmen não foi o Bahrain;
a Líbia não foi o Iêmen.
E a Síria, definitivamente, não é a Líbia.
Não é difícil ver como a oposição joga com o
ocidente.
A artilharia de imagens horrendas de Homs, pelo Facebook;
declarações do ‘Exército Sírio Livre’;
a zanga arrogante de La Clinton;
e a surpresa indignada por os russos se mostrarem tão cegos ao sofrimento dos sírios – como se os EUA algum dia tivessem tomado conhecimento do sofrimento dos
palestinos,
quando, arredondando, mais de
1.300 palestinos foram mortos, no massacre pelos israelenses em Gaza – nada disso tem qualquer conexão racional com a realidade em campo, na Síria e no mundo. E por que os russos se preocupariam com Homs? Preocuparam-se com os mortos na Chechênia?
Invertamos a perspectiva. Sim, todos sabemos que o serviço secreto sírio cometeu vários abusos de direitos humanos. No Líbano, por exemplo. Sim, todos sabemos que o governo de Damasco não foi eleito. Sim, todos sabemos que há corrupção. Sim, todos assistimos à humilhação da ONU no fim de semana – embora paire o mais denso mistério sobre por que La Clinton esperava que os russos bateriam calcanhar e continência a ela, depois que a
“zona aérea de exclusão”
virou
“mudança de regime” na Líbia?
Destruir o governo dos alawitas na Síria – os alawitas são xiitas – será como cravar uma espada na alma do Irã xiita.
Consideremos agora o Oriente Médio, visto de uma das janelas do imenso palácio presidencial de onde se descortina toda a área mais antiga de Damasco.
É verdade: o Golfo voltou-se contra a Síria.
É verdade: a Turquia voltou-se contra a Síria (apesar de a Turquia, generosamente, ter oferecido teto para o exílio de Bashar, no velho império otomano).
Mas
observemos o leste.
Se volta os olhos para o leste, o que Bashar vê? O leal Irã, ao seu lado. O leal Iraque – hoje, o Iraque é o melhor mais novo amigo do Irã no mundo árabe – que se recusou a impor sanções contra a Síria.
E o oeste? A oeste, o leal pequeno Líbano recusou-se a impor sanções.
Assim, da fronteira do
Afeganistão até o Mediterrâneo,
Assad vê uma linha reta de
alianças que conseguirá impedir, no mínimo, o colapso econômico do regime.
O problema é que o ocidente foi de tal modo inundado de matérias jornalísticas, “análises”, contos, conferências e da conversa-delírio dos think-tanks de sempre sobre o amaldiçoado Irã, o Iraque traidor, a perversa Síria e o assustado Líbano, que é quase impossível limpar o raciocínio, excluir do pensamento todas essas “análises” delirantes e, afinal, ver que Assad absolutamente não está sozinho.
Não se trata de “proteger” Assad, nem de pregar que continue no poder. É que essa é a simples e pura verdade. É fato: Assad não está sozinho nem isolado.
Os turcos,
apesar das idas e vindas e “declarações” espalhafatosas à moda Clinton, não montaram o “cordão sanitário” que prometeram montar no norte da Síria.
Nem o rei Abdullah II respondeu afirmativamente ao pedido da oposição síria para que montasse outro “cordão sanitário” no sul.
Muito estranhamente – e já escrevi sobre isso – só Israel
mantém-se em silêncio.
Enquanto a Síria puder comerciar com o Iraque, pode comerciar com o Irã e, claro, pode comerciar com o Líbano. Os xiitas do Irã e a maioria xiita no Iraque e a liderança (embora numericamente minoritária) xiita na Síria e os xiitas (a maior comunidade religiosa do país, mas não majoritária na população) do Líbano, permanecerão ao lado de Assad, embora em alguns casos relutantemente. Acho que é aí que a porca torce o rabo.
Gaddafi tinha inimigos com real poder de fogo, que tinham a OTAN.
Os inimigos de Assad têm Kalashnikovs e não têm a OTAN.
Assad tem Damasco e Aleppo – e essas cidades fazem
toda a diferença. Suas principais unidades militares não desertaram.
Entre os “mocinhos” há também vários “bandidos” – fato que o ocidente esqueceu de ver na Líbia, nem quando os “mocinhos” assassinaram seu comandante militar desertor e torturaram prisioneiros até a morte.
Ah, sim, e a
Marinha Real britânica conseguiu atracar em
Benghazi. Não consegue atracar em
Tartous, na Síria, porque, ali,
a Marinha Russa
atracou antes (e continua atracada).
http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/02/722012-robert-fisk-independent-uk.html
Quá quá quá quá quá quá
P.S. La Clinton = Madame Satã
Probus,
Ótimo artigo esse, do Robert Fisk.
Obrigada
Maria Tereza
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