Flotus e Potus: Michelle e Barack Obama
“OBAMA ANDA MESMO CANTANDO O ‘BLUES’?”
(“IS OBAMA REALLY SINGING THE BLUES?”)
Por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”:
Pepe Escobar
“Não é fácil ser POTUS (President of the United States). Corãos queimados no Afeganistão, Líbia “liberada” governada por milícias, Síria caindo em guerra civil, o psicodrama sem fim em torno do Irã. Onde buscar alguma consolação? Simples: se o POTUS não consegue escapulir até a Casa do Blues – o Serviço Secreto não permitiria – o blues vem à Casa (Branca).
“Performance at the White House: Red, White and Blues”, foi um concerto doméstico gravado no Salão Leste, em homenagem ao “blues” e ao “Mês da História Negra” nos EUA, parte de uma série musical com POTUS (Barack Obama) e FLOTUS (First Lady of the United States, Michelle Obama) como anfitriões. Irá ao ar nesta 2ª-feira [27], pelo PBS, “Sistema Público de Broadcasting”
E então aconteceu o momento mágico; arremedo de bluezeiro, Mick Jagger passa o microfone para POTUS – e o resto é história (veja o vídeo:
)
Houve o precedente, quando POTUS enviou mensagem nada sutil de campanha, em código “Let's Stay Together” [Fiquemos juntos].
Mas foi para valer: POTUS assumindo o espírito de Robert Johnson via “Sweet Home Chicago”. E que cast de apoio! Incluindo o “Rei do Blues” em pessoa, BB King, 86, apresentado por POTUS; Mick Jagger (ainda em forma em “Can't Turn You Loose”; Buddy Guy; Jeff Beck; e Booker T Jones, lenda viva da gravadora Stax – que já deveria ter sido canonizado – como band leader e diretor musical. Gol de placa, o do cantor-em-chefe.
POTUS até fez uma declaração oficial elogiando o blues; que “nos ensina que quando nos descobrimos numa encruzilhada, não nos escondemos dos nossos problemas. Nós os encaramos. Lidamos com eles. Cantamos sobre eles. Os convertemos em arte”.
BOMBATÔMICA-EM-MIM, BABY, ATÉ O SOL RAIAR
Por que um negro não poderia brincar com o blues na Casa Branca? Afinal, a economia dos EUA vai – lentamente voltando a girar (mais ou menos) apesar daquela canção pungente “16 trilhões/O que mais você quer?” [pergunta aos grandes banqueiros socorridos com dinheiro público], que ainda se ouve do coro, ao fundo.
O desemprego cai – devagar. E os ex-talvez candidatos Republicanos que ainda se arrastam ou são doidos ou batem todos na mesma tecla “Jesus!; e Mulá (Rick) Santorum apresenta-se ele mesmo como o homem que salvará os EUA, de Satã.
A turma do “Tea Party” pirou. Newt Gingrich, em desespero, diz que POTUS é “o mais perigoso presidente de todos os tempos”. Mitt Romney – num debate da campanha para presidente – diz que o Irã dá uma bomba atômica ao Hezbollah no Líbano; o Hezbollah traz a bomba para o México; em seguida a bomba atravessa a fronteira disfarçada como imigrante ilegal e explode em Ohio.
E o pior de tudo: em matéria de música, esse pessoal aí, pior, impossível. Não cantam blues – nem soul, nem jazz, nem gospel, nem country – nem se a vida (paranóica) deles depender disso.
Seja como for, o cantor-em-chefe não estava exatamente bluezando quando assinou a “National Defense Authorization Act” [Lei de Autorização da Defesa Nacional] na noite de Ano Novo – quando ninguém estava prestando atenção. O guerreiro-em-chefe, de fato, legalizou a conversão dos EUA em estado policial militarizado – onde o Pentágono pode mandar prender norte-americanos sem acusação e sem julgamento durante “toda a duração das hostilidades” na imatável-imorrível “guerra global ao terror”.
No fim da semana que vem, POTUS tampouco estará cantando blues quando discursar na convenção anual do “Comitê EUA-Israel de Assuntos Públicos” (American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)) – ante milhares de apostadores de jogo de alto risco, num salão de baile em Washington, todos berrando em uníssono pela destruição do Irã.
Mas a véspera do discurso parece saída diretamente de “Hellhound on My Trail” (“Há um cão do inferno no meu encalço”) de Robert Johnson [1937]: é quando POTUS recebe o primeiro-ministro de Israel Benjamin “Bibi” Netanyahu em visita a Washington, o qual todos os grãos de areia do deserto do Negev sabem que quer livrar-se de POTUS e instalar na Casa Branca um seu fantoche pessoal de “doido-por-guerras”.
Afinal, Bibi já esbravejou até contra o general Martin Dempsey, Chefe do Comando do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, porque o campeão do Pentágono atreveu-se a manifestar algum bom senso e disse que qualquer ataque de Israel ao Irã seria “desestabilizador” e “imprudente”.
POTUS prefere cantar o blues a ir à guerra; quanto ao resto dos norte-americanos médios, parecem absolutamente confusos, ou absolutamente anestesiados pelo ruído ambiente. Segundo a mais recente pesquisa CNN/Gallup, quase 80% deles acreditam que, ou o Irã tem armas nucleares, ou pode arranjar uma amanhã mesmo; ao mesmo tempo, 63% preferem a diplomacia à guerra, como meio para dissuadir o Irã de converter-se em país nuclear. Então, como é que fica? Convencer o Irã a desistir de bombas inexistentes que eles talvez tenham?
O Supremo Líder do Irã Aiatolá Ali Khamenei talvez considere o blues música do demônio – mas já disse, pelo menos uma vez oficialmente, que “o Irã não tem arma nuclear”. Simultaneamente, encoraja os cientistas nucleares iranianos a prosseguir no seu trabalho “fundamental” para “os interesses nacionais iranianos”.
Em meio a toda essa loucura, pelo menos o seriado “Mad Men” estará de volta, nos idos de março.
E enquanto seus opositores afundam-se nos pântanos do apocalipse, POTUS – que as pesquisas informam que pode derrotar qualquer deles – parece andar, cantando blues diretamente para a zona de conforto.”
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”, com o título “Is Obama really singing the blues?”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e transcrito no blog “redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/02/pepe-escobar-obama-anda-mesmo-cantando.html) [Outros vídeos complementares disponíveis no blog “redecastorphoto”. Título, imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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