sábado, 25 de fevereiro de 2012
RECESSÃO MUNDIAL: O BRASIL QUE SE CUIDE
Por Saul Leblon
“Os dados mais favoráveis exibidos pela economia norte-americana facilitam a vida eleitoral de Obama, mas não podem ser confundidos com o fim da crise mundial. Levantamentos da Comissão da UE, divulgados na 5ª feira (23), mostram que, na Europa, ao contrário, a dinâmica recessiva predomina e já não se restringe à agonia de países pobres, casos da Grécia e Portugal, tendo se instalado também no coração das maiores potencias do euro, a exemplo da França, Itália e Espanha.
A previsão para este ano é de uma queda de 0,3% no PIB europeu. A maré recessiva, observa Nouriel Roubini, acossa ainda os costados da Ásia, dobrando a espinha dorsal de seu eixo ordenador, a China. O mercado imobiliário chinês está em desaquecimento. Os preços das casas começaram a cair. O investimento do país em infraestrutura perde fôlego. Grandes projetos, a exemplo dos trens de alta velocidade, estão sendo engavetados.
O lento dobrar-se chinês gera ondas que arrebanham o restante do bloco asiático: Singapura teve queda de atividade no último trimestre de 2011; Taiwan entrou em recessão no mesmo período; a economia da Coréia do Sul, segundo Roubini, exibe o ritmo mais lento dos últimos dois anos; o PIB do Japão caiu mais que o esperado em 2011. Diante de tanta fragilidade, os novos picos nos preços do petróleo - US$ 123,2 o barril, na 4ª feira (22)- decorrentes da tensão entre Irã/Israel, no Oriente Médio, tendem a restringir o espaço para efetiva retomada do crescimento.
Graças à preservação da Petrobrás como instrumento do Estado brasileiro, o mercado nacional mantém-se, há anos, relativamente imune às turbulências originárias do Oriente Médio, blindagem reforçada pela regulação soberana das reservas do pré-sal. Há flancos, porém, e um deles remete à eventual desaceleração das exportações aos mercados asiáticos. Mas não só.
Cada vez mais, o gigantesco mercado interno brasileiro, um dos poucos em expansão no mundo, torna-se o alvo cobiçado da ociosidade existente em parques fabris de todas as latitudes. Medidas protecionistas, associadas à maior rapidez no corte dos juros, para desvalorizar o câmbio e inibir as importações, ganham assim contornos de prioridade emergencial.
A demanda de massa, robustecida pelo ganho real do salário mínimo e das aposentadorias - a contrapelo da ladainha ortodoxa - deve ser preservada à produção nacional. Mas, se as importações continuarem mais atraentes que o produto local, esse trunfo se perderá: em 2011, o varejo brasileiro cresceu quase 7% enquanto a produção industrial avançou 0,3%. Em janeiro de 2012, veio o ajuste: o emprego com registro em carteira caiu 21,8% em relação ao mesmo período de 2011.
É a fatura da ortodoxia monetária só flexibilizada recentemente pelo BC. Se a política econômica se guiasse integralmente por ela, não teríamos tampouco o colchão de investimentos públicos do PAC, do pré-sal e das obras associadas à Copa de 2014, com o qual o país afronta a contração mundial. Dados da ABIMAQ indicam que o investimento em bens de capital no governo Dilma passará de R$ 3 trilhões. Significa que o Brasil, hoje, está aplicando mais de 11% do PIB em grandes máquinas e equipamentos, constituindo-se no 3º maior investidor do mundo numa área estratégica que gera novas fábricas e obras.
O acerto da estratégia heterodoxa em tantas frentes argui a persistência da bola de chumbo monetária que ainda penaliza áreas essenciais, como a da saúde pública, por exemplo, vítima de corte de gastos para pagar juros aos rentistas do Estado brasileiro. O Brasil tem trunfos para enfrentar a recessão mundial, mas, sobretudo, tem lições a aprender com a sua própria experiência. A ver.”
FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=898).
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