Martin van Creveld acredita que o Irã não atacaria Israel sem motivos
“As comemorações pelo 33º aniversário da Revolução Iraniana, que tiveram início no último dia 1º, se encerraram no sábado (11) em um momento em que o país é cada vez mais pressionado pela comunidade internacional para que encerre seu suposto programa [de energia elétrica] nuclear [acusado de, no futuro, poder eventualmente vir a também produzir armas atômicas] .
Nesse cenário, as relações com Israel se tornam cada vez mais delicadas à medida que os dois lados ameaçam garantir a segurança nacional por meio de ações militares.
Na comunidade internacional, os israelenses [hipocritamente, com suas bombas atômicas desenvolvidas às escondidas e à revelia da comunidade internacional] fazem lobby para que a ONU (Organização das Nações Unidas) adote sanções cada vez mais agressivas contra o Irã, atingindo, principalmente, sua economia e sua produção de petróleo.
Apesar da tensão entre os dois países, Martin van Creveld, historiador pela Universidade Hebraica de Jerusalém, especialista em estratégia militar e Ph.D pela “London School of Economics”, afirma que o Irã está longe de ser uma ameaça a Israel.
Para ele, as declarações de Teerã buscam atrair o apoio árabe na região. No entanto, mesmo afastando a possibilidade de uma ação militar iraniana, van Creveld não descarta que Israel pode dar o primeiro passo.
Acompanhe a entrevista:
Opera Mundi: Diante deste cenário que envolve acusações e ameaças de ambas as partes, qual é a real situação das atuais relações entre Irã e Israel?
Martin van Creveld: O Irã tem dois inimigos principais. O primeiro são os Estados Unidos [que querem o seu petróleo e também destruir o Irã para obedecer ao tradicionalmente fortíssimo lobby judeu no Congresso, na mídia e no governo dos EUA]. Assim com as Guerras de 1991, 1999 e 2003 [Golfo, Kosovo e Iraque] mostraram, ninguém nunca sabe qual será o país que o próximo presidente dos EUA irá atacar com bombas e/ou invadir. Se os iranianos estão realmente tentando construir uma bomba o mais rápido possível – e isso não é nada certo – então o principal objetivo [ou melhor, o falso pretexto] norte-americano é deter essa ameaça.
O outro rival do Irã é a Turquia. Após o desaparecimento do Iraque (da geopolítica internacional) e do enfraquecimento da Síria, um vácuo de poder se abriu. Ele atinge desde a costa nordeste do Mediterrâneo até o Golfo Pérsico. Tanto o Irã quanto a Turquia querem dominar essa área. Os dois países têm cerca de 80 milhões de pessoas e são potências regionais.
Comparado com essa luta titânica, Israel é pequeno e não tem importância [mas tem o poderoso aliado norte-americano que o apoia e supre com numerosas, modernas e mortíferas armas]. Para o Irã, fazer todos os tipos de ruído anti-israelense é muito útil para puxar a opinião pública árabe na Síria e no Iraque para seu favor.
Opera Mundi: É tão perigoso assim que o Irã produza energia nuclear?
MC: A energia nuclear está fora de questão. Muitos países possuem reatores, mas não têm a [vontade e capacidade de produzir armas atômicas]. A questão é: será que os iranianos irão usar a infraestrutura que possuem agora para construir uma bomba? Ninguém sabe a resposta. O que parece claro, porém, é que ninguém mais tem reservado tanto tempo para isso [questão nuclear]. Esse fato pode levantar algumas suspeitas.
Opera Mundi: O Irã é uma ameaça para Israel?
MC: Não. Relatórios internacionais apontam que Israel "tem o que é necessário" para transformar o Irã em um deserto radioativo em poucas horas se esta for a ordem. Os iranianos sabem disso, assim como todo mundo sabe. [Hipocritamente, ao mesmo tempo que cobra sanções e ataque contra o Irã, Israel possui centenas de bombas atômicas, clandestinamente construídas sem controle e punição das grandes potências. Usa seu poder militar atômico e o de seu fiel e até submisso aliado (EUA) para amedrontar e respaldar suas invasões e ocupações na Palestina, sul do Líbano e colinas sírias de Golã].
Opera Mundi: O Sr. disse uma vez que o “Irã é um país perigoso, mas não para nós (israelenses)”. Para quem então?
MC: Os países que possuem razões para se preocupar (em relação ao Irã) são aqueles que fazem fronteira com o Golfo, como o Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos e, é claro, a Arábia Saudita. Se o Irã desenvolver a bomba, a pressão sobre esses países irá aumentar, sem dúvida. Mas nós, em Israel, estamos muito longe, e salvar os árabes de seus irmãos muçulmanos não é nosso negócio [ao contrário...].
Opera Mundi: É possível que um dos dois países inicie alguma ação militar em um futuro próximo?
MC: Dias atrás, um blogueiro iraniano escreveu que a melhor defesa é o ataque e que o Irã poderia atacar Israel antes que os israelenses tomassem a primeira atitude. Esta foi a primeira vez que algo dessa forma apareceu na internet [iraniana]. No entanto, nós não sabemos quem é o blogueiro e quem ele representa. Eu considero que um ataque iraniano, sem um motivo aparente, está fora de questão. No entanto, será que Israel atacaria o Irã agora? Se eu soubesse, com certeza não lhe diria.
Opera Mundi: Como uma forma de estrangular a economia iraniana, a comunidade internacional vem aprovando cada vez mais novas sanções contra o país. Qual é o peso dessas medidas contra o Irã? Como isso afeta a população?
MC: Difícil dizer. De qualquer forma, parece que as sanções estão tendo impacto na economia iraniana. O dinar (moeda iraniana) está caindo feito uma pedra. Os preços dos alimentos e combustíveis subiram e parece haver agitação popular. Não considero impossível que, caso o descontentamento pelos aumentos cresça entre a população, e o regime começar a se sentir em perigo, o homem no comando, Aiatolá Khamani, irá se livrar de Ahmadinejad para salvá-lo (regime). No entanto, ainda não estamos nesse estágio.”
FONTE: publicado no site “Opera Mundi” e transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=175513&id_secao=9). [título, imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]
3 comentários:
14/02/2012: O 33º aniversário da Revolução Islâmica no Irã
Com significativa presença do estado na economia, políticas públicas foram consolidadas nestes 33 anos de Revolução levando a nação persa a praticamente ter erradicado o analfabetismo que na época da ditadura do Xá alcançava mais de 90 por cento da população. O salto educacional e cultural do Irã neste período é digno de nota.
Por Beto Almeida
Há 33 anos, num 11 de fevereiro, a Revolução Islâmica sacudia as estruturas retrógadas da sociedade do Irã, derrubava a ditadura pró-imperialista do Xá Reza Pahlevi e, sob a direção do Aiatolá Khomeini, com tremendo apoio popular, a ponto da constituição de milícias armadas e com a incorporação de mulheres - com chador e tudo - dava início a um período de significativas transformações sócio-econômicas e políticas, apesar de todas as hostilidades, agressões militares, sanções econômicas e manipulação informativa que só comprovam com este processo revolucionário incomoda profundamente o império.
Só com forte apoio popular é possível suportar e vencer o cenário hostil que a Revolução Islâmica teve que enfrentar. As agressões foram de vários tipos. Quando agora em dezembro um avião não tripulado dos EUA , tipo drone, invadiu ilegalmente o espaço aéreo iraniano e foi - com absoluta legitimidade - capturado por meio de uma tecnologia de controle remoto que os norte-americanos não calculavam existir, um simbolismo imenso surgiu diante do Pentágono. Os Eua enviam naves ao espaço sideral, mas não puderam impedir que o controle remoto sobre o drone lhe fosse tomado por aquilo que foi construído em 33 anos de desenvolvimento tecnológico independente.
Ou seja,
nestes 33 anos de
revolução iraniana, a
nação persa adquiriu
soberania tecnológica em
vários setores, a despeito das agressões e dos boicotes. Ou, exatamente por
causa deles, foi
obrigada a
contar com
suas próprias pernas. Hoje, o Irã possui a
esmagadora maioria de
seus
cientistas na idade média de
30 anos
dirigindo projetos de
excelência tecnológica, entre as quais, a que lhe
confere um dos
mais
avançados
programas
espaciais do
mundo,
estando previsto, ainda para 2012, o lançamento de uma nave tripulada ao espaço sideral.
Analfabetismo político?
Só para contextualizar um pouco, vale mencionar que o
Brasil, denominado a 6ª economia do mundo, não tem ainda
qualquer previsão para alcançar a
maioridade em matéria de
tecnologia espacial. Aliás, não há nem mesmo sequer previsão sobre quando eliminará o analfabetismo, o que a
Bolívia,
a mais
frágil
economia do continente, já alcançou, sob o comando de
um índio que,
na infância,
vivendo no norte da Argentina,
foi
condenado como
inepto para a
leitura e a
escritura.
Os
telhados de vidro
mencionados pela Presidenta Dilma em Cuba, analisando com coragem a hipocrisia que cerca o debate sobre direitos humanos, vale também para outras áreas da política, como o desenvolvimento científico-tecnológico.
Praticamente toda a
tecnologia da
potente indústria
petroleira do Irã foi
nacionalizada e
está
sob o comando de
100 por cento de
técnicos iranianos,
formados nas
modernas universidades que se
multiplicaram no
país como efeito da
Revolução Islâmica de 11 de Fevereiro de 1979.
Vale relembrar:
70 por cento dos
universitários do país são
mulheres,
quando na Arábia Saudita as
mulheres são proibidas do
voto, de
dirigir automóveis e são
punidas com a
degola. Mas, a
mídia imperial
silencia sobre os
podres do
aliado.
Desde a Revolução Islâmica,
nenhuma
iraniana foi
punida com a pena de
apedrejamento, apesar de
todo o dilúvio de
mentiras que se lança sobre
Sakhine, cidadã iraniana condenada pelo
assassinato do
marido - o que é crime em
qualquer
parte do
mundo - mas apresentada ao mundo, cotidianamente, como se tivesse sido condenada ao apedrejamento por
adultério.
Dilúvios de mentiras
Os dilúvios de mentiras contra o Irã são
cortinas de fumaça para
que
não
sejam desnudados os
verdadeiros
interesses imperialistas na região:
fortalecer Israel a qualquer custo,
impedir o desenvolvimento econômico e tecnológico de um país do porte do Irã, com 70 milhões de habitantes, e,
por fim,
rapinar o
petróleo persa, tal como se
fez na
Líbia, mediante
sanguinária
ocupação da
Otan, com o
apoio de uma
certa esquerda
otanista na
Europa.
O progresso do país deve-se fundamentalmente à
nacionalização dos
setores
fundamentais da
economia, a começar pelo
petróleo, medida adotada ainda sob a direção de
Aiatolá Khomeini. Com
significativa presença do estado na economia, políticas públicas foram consolidadas nestes 33 anos de Revolução levando a nação persa a praticamente ter
erradicado o analfabetismo que
na época da
ditadura do Xá
alcançava mais de
90 por cento da população.
O salto educacional e
cultural do
Irã neste período é digno de nota.
Com a
expansão universitária, a
multiplicação de centros científicos, o
Irã tem hoje indústria
própria
nos setores de
automobilismo,
aeronáutica,
armamentos,
navegação,
ferrovias,
tratores,
setor petroquímico,
farmacêutico.
Humanismo e estratégia comunicativa
No plano da cultura, deve-se
refletir acerca das
repetidas
premiações do
talentoso
cinema
estatal
iraniano,
prêmios alcançados
apesar da
hostilidade midiática ocidental, da hegemonia esmagadora de Hollywood, e da
ditadura da
estética da
mediocridade a que a
humanidade está
submetida. O cinema
iraniano
pensa o
gênero humano, convida a
refletir
sobre causas nobres,
promove a delicadeza do olhar, da sonoridade, de uma plástica que acaricia o pensamento e eleva a capacidade inteligente. Conquista também da
Revolução Islâmica. Se os
iranianos fazem
bom cinema, provavelmente
poderão fazer também
boa televisão: para comunicação com o mundo,
nasceu a HispanTV, canal iraniano de tv em espanhol, indicando visão estratégica por lá. Na Era Vargas, que o
FHC
tentou
destruir, a Rádio Nacional era a
terceira
mais
potente
emissora do mundo, irradiava em 4 idiomas, chegava aos quatro cantos do mundo. Ainda
hoje, a
TV Brasil
não
pode ser
sintonizada plenamente nem em
toda a cidade de Brasília.
É isto e muito mais o que se pretende
esconder e
destruir por meio de
sanções, pela
agressão militar do Iraque, quando Sadam esteve fazendo o
serviço sujo
para os EUA. E é isto o que se pretende demolir também com
os
sinistros
atentados, os
assassinatos de
renomados cientistas, e com
a acusação de que
o Irã é
um perigo nuclear para a região e o mundo. Ora, o Irã nunca agrediu nenhum país, ao contrário de
Israel
que agrediu e foi
derrotado no
Líbano, do próprio Iraque antes, da Arábia Saudita e do Qatar, que participaram da agressão à Líbia, sob as bênçãos da
esquerda otanista, que
ainda hoje
aplaude a TV Al-jazeera, mesmo que a emissora
tenha sido
totalmente tragada pela
indústria petroleira dos
EUA.
Israel tem 300 ogivas e acusa o Irã?
Israel , com
300 ogivas nucleares, brada que
o Irã é que é o
perigo para a
humanidade. Ao contrário, o Irã é um
berço da
humanidade, ali se
elaborou a
primeira carta de
direitos humanos universais que nossa civilização tem notícia, inscrita no Cilindro de Ciro.
Em seu discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Mahmud Armadinejad,
fez proposta límpida e
cristalina, até hoje
escondida e
sonegada à
humanidade pelos
meios de
desinformação do
capital: Energia Nuclear para
todos, Armas Nucleares para
Ninguém!!!!
A
criminosa
hipocrisia dos
países super-armados, mas
que se esforçam para
impedir
que esta
informação circule dá a
medida dos
planos sinistros que
se preparam contra a
nação persa, já postos em marcha, com agressões externas encobertas, contra a
Síria. Mas, o alvo
é outro.
Telhado de vidro
As relações entre Brasil e Irã progrediram muito durante o governo Lula. É bem verdade que houve um
voto matreiro
do Brasil na
ONU
aliando-se à
hipócrita campanha dos
direitos humanos e
que teve como
alvo o
Irã, autorizando o
país que
mais
carnificina faz a
seguir com suas
sanções e
pressões contra os persas. Se todos
têm
telhado de vidro, e é verdade, por que o voto
exclusivo
contra
o Irã e a
omissão
diante dos
massacres dos
EUA no
Iraque, Afeganistão, Pakistão, Líbia, o
sequestro e as
torturas de
prisioneiros na
Base de Guantânamo?
Apesar dele, é bem provável que algo esteja sendo rediscutido com mais realismo no Itamaraty quando o tema é direitos humanos.
Com
mais de
cem homicídios em
poucos dias de
greve da
PM na Bahia, com
novo assassinato de
jornalista no Estado do
Rio de Janeiro, é preciso
avaliar
com mais rigor e
concretude o tema
direitos humanos.
Especialmente após
a Presidenta Dilma ter
lembrado que, nesta matéria,
todos têm
telhado de vidro, o que
na prática,
desautoriza o
próprio voto brasileiro
na ONU
contra o Irã, logo no início do governo.
Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.
http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5465
P.S. Te amo demais BETO ALMEIDA
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