quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

NYT: AMÉRICA LATINA VÊ, NO OCIDENTE ENDIVIDADO, SEU PASSADO


Por Simon Romero, no “The New York Times”

“Os latino-americanos vêm acompanhando a sucessão constante de crises nos países desenvolvidos com espanto, ironia e até mesmo com um toque de satisfação sarcástica com a desgraça alheia. Para eles, a Europa e os Estados Unidos estão manifestando problemas antes associados à sua região, que, não faz muito tempo, era campeã perene de crises financeiras e de resgates [e de humilhantes e dolorosos planos de ajuste impostos arrogantemente pelos EUA e Europa, especialmente por meio do FMI].

"O clima nas ruas de Paris é deprimente, e as pessoas estão claramente preocupadas com o futuro", disse Maria Cristina Terra, economista brasileira que se mudou para a França quatro anos atrás. "É um choque para todos nós que enxergávamos a Europa como sólida e próspera, mas o contraste com o Brasil é imenso."

Em 2011, o índice de desemprego na América Latina caiu para 6,8%, o nível mais baixo em 21 anos, contra 8,5% nos Estados Unidos e quase 10% na Europa. Embora o crescimento econômico tenha diminuído em alguns países, em outros ainda está em franco avanço. O Panamá, cujo canal está operando no limite de sua capacidade, registrou crescimento econômico de 10,5% nos primeiros nove meses de 2011. A economia argentina cresceu 9,3%, no terceiro trimestre.

Em nenhum lugar o novo estado de ânimo está mais evidente que no Brasil, que recentemente ultrapassou o Reino Unido como a sexta maior economia do mundo. Apesar de alguma fraqueza econômica recente, a taxa de desemprego brasileiro está em seu ponto historicamente mais baixo, 4,7%. A revista "Veja", em matéria de capa em janeiro, comemorou a criação de novos milionários ao ritmo de 19 por dia. Segundo alguns critérios, o setor financeiro de São Paulo faz inveja a Wall Street: o valor de mercado de um banco, o “Itaú”, hoje é superior ao do “Goldman Sachs” e do “Morgan Stanley” somados.

Hoje em dia, tantos brasileiros com dinheiro nos bolsos andam viajando para o exterior que eles veem os contrastes em primeira mão.

"Eu estava no Zuccotti Park, e o ambiente era o da América Latina por volta de 1985", disse Matias Spektor, professor da Fundação Getúlio Vargas, aludindo ao parque de Nova York que virou quartel-general do movimento "Ocupe Wall Street", até a polícia retirar os manifestantes do local, em novembro.

"O clima geral de desconfiança em relação às classes altas e às classes governantes -são coisas que não associamos com os Estados Unidos", disse ele.

No passado, o Brasil estava mais acostumado a ouvir sermões de Washington sobre suas disparidades. O país estava tão familiarizado com crises que os brasileiros comuns ainda exibem conhecimento extraordinário sobre os mercados financeiros. Muitas pessoas no Brasil observaram com satisfação que o chamado "risco Brasil" -o custo de proteger a dívida do país contra o não pagamento- caiu para um nível menor que o risco dos EUA, no ano passado.

O Brasil ainda tem disparidade de renda gritante, e, embora nos últimos dez anos tenha triplicado sua renda per capita, que chegou a cerca de US$ 12.500, parte desse aumento está relacionado à valorização do real. Os preços das commodities exportadas pelo Brasil e por outros países latino-americanos não poderão permanecer tão altos para sempre.

Porém, o fato de milhões de latino-americanos terem recentemente saído da pobreza extrema vem encorajando alguns a rebaterem as críticas daqueles que, no passado, tinham o hábito de distribuir conselhos [e impor soluções] à região.

Recentemente, Moisés Naím descreveu como a ansiedade que testemunhou, durante uma viagem a Bruxelas, o fez lembrar do início dos anos 1990, quando era ministro do Planejamento da Venezuela e tentava superar o tipo de atoleiro econômico em que muitos países latino-americanos estiveram afundados durante boa parte dos anos 1980 e 1990.

"Esperemos que a Europa seja capaz de lidar com sua crise como a nova América Latina aprendeu a fazer", disse Naím, citando as transformações vistas no Brasil, Chile e Colômbia. "Nesse sentido, um pouco de 'latino-americanização' da Europa seria desejável."

E, embora o Brasil hoje venha exibindo seu poderio econômico, nem todos os países vizinhos compartilham seu superávit de otimismo. Considere a Argentina, que um século atrás era um dos países mais ricos do mundo.

Uma série de crises mudou essa situação e, uma década atrás, a Argentina sofreu um colapso financeiro assustador [sob o “neoliberal" Menem, assim como o Brasil, sob o “neoliberal" FHC]. Desde então, graças à alta dos preços das commodities, o crescimento econômico da Argentina superou o do vizinho Chile, cujas políticas favoráveis “ao mercado” [isto é, favoráveis aos grandes conglomerados financeiros, econômicos e de mídia internacionais, tratados gentilmente de "mercado"] são citadas [pela mídia direitista] como "exemplo a ser seguido".

Citando a recuperação robusta da Argentina, depois de o país ter [se livrado dos neoliberais e] dado calote em suas dívidas, alguns especialistas dizem que a Argentina é um exemplo animador para a Grécia e para os países europeus em dificuldade. Para outros, porém, a Argentina oferece um exemplo de como aprender a conviver com a ideia de que sua melhor fase ficou no passado. "A Argentina é a decana do clube de países obcecados com seu próprio declínio", escreveu o acadêmico argentino Gabriel Sáez em um ensaio sobre como os EUA poderiam "declinar com estilo", como teria feito a Argentina.”

FONTE: artigo de Simon Romero, no “The New York Times”, transcrito na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/24181-america-latina-ve-no-ocidente-endividado-seu-passado.shtml) [Imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

4 comentários:

Probus disse...

Pois é, é o mundo dando suas voltas...

08/02/2012: American Airlines renegocia com BNDES

Em breve visita ao Brasil, Tom Horton, presidente da American Airlines, convidou a TAM a se juntar à aliança de companhias Oneworld, da qual a LAN faz parte

Do Valor

Nomeado presidente da American Airlines em novembro do ano passado para liderar o processo de concordata, Thomas Horton admite que renegocia com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Embraer a dívida da empresa.

Em entrevista ao Valor, Tom Horton afirmou que uma alternativa para abater o restante da dívida é devolver à Embraer algumas aeronaves. Ele não quis detalhar, porém, como a empresa pretende pagar a parte do BNDES.

"Somos grandes operadores de jatos da Embraer. Temos mais de 200 deles. Obviamente, grande parte da reestruturação é otimização de frota e redução da dívida. Como nossa frota é nova, pode ser uma oportunidade para a Embraer ter aviões adicionais. É possível [devolver alguns aviões]", afirmou o executivo.

A American Airlines confirmou que tem uma dívida pendente de US$ 1,6 bilhão com o BNDES, pelo financiamento de aviões entre 1998 e 2002. A renegociação da dívida da American Airlines faz parte do processo de concordata de sua controladora AMR, pedida em novembro do ano passado.

Apesar de admitir a devolução de aviões à Embraer, Horton garantiu que a encomenda de 460 aeronaves feita em julho à Boeing e à Airbus está mantida pelos próximos cinco anos. "As fabricantes vão manter o acordo. Tudo isso tem que ser aprovado depois do nosso processo de reorganização". O financiamento oferecido pelas fabricantes é de US$ 13 bilhões.

Em sua primeira visita ao Brasil, de apenas dois dias, o executivo-chefe da American Airlines convidou a TAM a se juntar à aliança mundial de companhias aéreas OneWorld, criada pela companhia americana. A LAN, com quem a TAM está em processo de fusão, também é uma das fundadoras.

"Nós fizemos uma proposta muito atrativa porque a OneWorld é a melhor aliança. Temos os melhores "hubs" (pontos de distribuição de voos) e as melhores companhias aéreas do mundo como sócios. A TAM seria uma grande parceira", diz Horton, que espera uma resposta depois de abril, quando a fusão deve ser concluída.

Após dar o aval para a fusão entre LAN e TAM, o órgão de defesa da concorrência chilena determinou que as empresas teriam que escolher participar de apenas uma aliança. Atualmente, a TAM é parceira da Star Alliance.

Probus disse...

Horton negou que o fato de a American Airlines estar em processo de concordata seja uma desvantagem para a aliança. A companhia sairá fortalecida do processo, afirma seu presidente.

"Todos os nossos competidores passaram por essa reestruturação. Na American nós lutamos por mais tempo, mas chegou um ponto em que precisávamos nos reestruturar para sermos competitivos e lucrativos. É isso que estamos fazendo agora e vamos sair muito mais fortes", afirmou o executivo, que rechaça as críticas de que a empresa entrou atrasada no processo de concordata, feito pelos concorrentes há quase uma década, e por isso tem custos trabalhistas e dívida maior.

Horton tem experiência em gerenciamento de crises. Ele passou 20 anos na American Airlines, mas sua carreira na empresa foi interrompida em 2002, quando foi para a AT&T, onde liderou um processo de reestruturação. A AT&T - que ele define como um ícone das telecomunicações nos Estados Unidos - começou a sofrer uma deterioração em seu fluxo de caixa quando tentou investir, ao mesmo tempo, em TV a cabo, telefonia, longa distância e internet sem fio. Ele conta que a solução foi vender os ativos de TV a cabo, abrir capital da parte de internet e adotar um programa de redução da dívida. Em seguida, a empresa fez uma fusão com a SBC Communications. Da experiência na AT&T, Horton conta que tira "a lição de que todos os desafios podem ser superados".

O executivo nega a possibilidade de fusão ou de venda da American Airlines para outra companhia aérea. E critica a US Airways por lançar esse rumor. "Eles fizeram isso com a United Airlines e com a Delta em suas reestruturações. Mas a US Airways é metade do nosso tamanho", desabafou.

Horton voltou para a American Airlines em 2006 como diretor-financeiro. No fim de novembro de 2011 foi alçado ao posto de CEO, em substituição a Gerard Arpey no dia do pedido de concordata. Otimista, acredita que o processo irá durar menos do que os 18 meses previstos em lei. Ele diz esperar que a reestruturação esteja concluída antes da festa de Natal deste ano. Após esse período, afirma que a companhia estará pronta para voltar a lucrar.

No primeiro semestre do ano passado, o prejuízo da companhia aérea - a terceira maior dos Estados Unidos - foi de US$ 722 milhões. A dívida líquida em 30 de junho era de US$ 11,9 bilhões.

Em entrevista do jornal inglês "Financial Times", em 2008, Horton disse que "às vezes gostaria de estar pescando", em vez de enfrentar o stress do dia a dia. Ontem, ele disse que mantém o gosto pelo hobby, mas está feliz à frente da tentativa de reerguer a empresa. Para um executivo de 50 anos que já correu três vezes a maratona de Nova York, não falta energia para enfrentar o processo que ele admite não ser fácil.

Unknown disse...

Probus,
Tudo tem seu lado positivo. Nesse caso da AA, talvez seja os norte-americanos ganharem uma gota de humildade no seu típico oceano de arrogância e egoismo.
Maria Tereza

Probus disse...

Mas até aí tudo bem, o que é estranho é que nós somos PROPRIETÁRIOS de quase 100% do NIÓBIO mundial e, NENHUMA aeronave dessa voa sem o NIÓBIO brasileiro...

Sem contar as INÚMERAS utilidades do NIÓBIO.
Eu gostaria de saber como esta grandes potência viveriam sem NIÓBIO.
Onde estão os ROYALTIES do NIÓBIO???
Quando os países mundo à fora vende seus produtos a nós pelos "olhos da cara" nós pagamos, porque NO$$O NIÓBIO é vendido como LIXO a ser reciclado????