sábado, 15 de setembro de 2012

A CULTURA POLÍTICA NOS EUA E NO BRASIL

CAMPANHA NEGATIVA


Por Marcos Coimbra

“Nada como olhar em torno e considerar a cultura política de outros países. É um hábito salutar, que nos ajuda a entender o que somos e em que podemos melhorar nossa democracia.

Tomemos os Estados Unidos, cujo edifício institucional serviu de inspiração para a república que implantamos em 1889. Nossa primeira Constituicão pós-monárquica queria que fôssemos iguais.

Por coincidência, fazemos eleições quase simultâneas. Toda vez que escolhemos prefeitos e vereadores, eles votam para presidente. Aqui, este ano, no dia 7 de outubro; lá, em 6 de novembro.

Isso permite observar a cultura política dos dois países enquanto vão às urnas, o momento mais significativo da democracia.

Entre algumas coisas parecidas e muitas diferentes, existe um aspecto em que estamos ficando mais dissemelhantes com o passar do tempo. Algo que pode não ser positivo.

A cada eleição, a linguagem da política americana fica mais confrontacional. A nossa, menos.

A retórica das últimas campanhas presidenciais que fizeram foi adquirindo tom progressivamente mais crítico. Nesta, ultrapasssou os parâmetros. É a mais ácida de todos os tempos.

Com os dois principais candidatos em quase empate – ainda que Obama mantenha pequena dianteira nas pesquisas – o eleitorado norte-americano está sendo bombardeado por um volume de propaganda negativa sem precedentes. É um querendo destruir o outro.

Os republicanos acusam o atual presidente de tudo que podem. Os democratas respondem com ataques incessantes contra Mitt Romney.

Questionam-se por motivos administrativos, políticos, ideológicos e pessoais. Expõem sem meias palavras tudo que sabem de negativo do outro.

Como o passado eleitoral de muitos Estados sugere que votarão de forma previsível, as campanhas dirigem seus esforços para os poucos onde as preferências do eleitorado podem mudar até ao dia da eleição. São os “swing states”, onde os dois partidos efetivamente disputam, pois nenhum tem maioria segura. Em 2008, foram oito e por ter vencido em cinco, Obama se elegeu.

Nesta eleição, calcula-se que as duas campanhas gastarão cerca de 2 bilhões de dólares comprando tempo de televisão nesses oito Estados. Tudo para falar mal do outro.

Aqui, ao contrário, de uns anos para cá, nossa cultura começou a considerar feio que os candidatos entrem em confronto. A definir qualquer crítica como “baixaria”.

Difícil dizer de onde surgiu a ideia. Certamente, não de nossa tradição política, na qual sempre se esperou que os adversários se respeitassem, mas não que deixassem de expor com clareza - e, se necessário, com contundência -, suas discordâncias.

O manual dos marqueteiros brasileiros – escrito pelo maior de todos, Duda Mendonça – reza que “Quem bate, perde!”. E têm razão de pensar assim, pois, como mostram as pesquisas, chega a 70% a proporção dos que acham que um candidato não deve criticar os outros.

Mas ganhamos alguma coisa com a assepsia de campanhas que apenas repetem coisas óbvias? O lenga-lenga de que o candidato vai cuidar com desvelo da saúde, da segurança e da educação?

Em que é melhor a candidatura que elide a polêmica ideológica? Que privilegia a forma televisiva em detrimento do conteúdo político?

Embora se expressem através do estereótipo, no fundo, os eleitores não se incomodam com a crítica. As campanhas é que precisam reencontrar a forma de fazê-la.”

FONTE: escrito por Marcos Coimbra e transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-cultura-politica-nos-eua-e-no-brasil-por-marcos-coimbra) [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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