Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
“Ainda que se esteja sempre afirmando que não existe diferença entre esquerda e direita, ela continua a ser usada por todos, porque a diferença existe, e porque a tese da indiferença é mera tentativa da coalizão política hegemônica de afirmar que não há alternativa a ela.
Mas essa distinção apresenta um problema real: ela supõe luta de classes entre capitalistas e trabalhadores ou entre os pobres e os ricos, o que é só parte da verdade.
A outra é que existem coalizões de classe ou pactos políticos associando trabalhadores e capitalistas, na medida em que estes se dividem entre os empresários que dirigem suas empresas, inovam e realizam lucros, e os rentistas que vivem de juros, aluguéis e dividendos.
Denomino “desenvolvimentista” o pacto político que associa trabalhadores e classes médias aos empresários; “neoliberal” o que une rentistas a financistas, estes entendidos como os profissionais que gerem a riqueza dos primeiros. As coalizões “desenvolvimentistas” são amplas e progressistas, as “neoliberais”, restritas e conservadoras.
Sempre usei essa oposição entre desenvolvimentismo e liberalismo econômico para compreender países em desenvolvimento como o Brasil, mas estou convencido de que se aplica também aos países ricos.
O pacto político por trás do presidente Obama é desenvolvimentista e progressista. O que apoia Mitt Romney é liberal e conservador.
A “Folha de São Paulo” publicou, recentemente, quadro com os cinco principais financiadores dos dois candidatos. Enquanto os do lado de Mitt Romney eram bancos (Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Bank of America e Crédit Suisse), os principais doadores de Obama eram Microsoft, Universidade da Califórnia, Dla Piper (empresa de advocacia), Google e Universidade de Harvard.
Ainda que uma empresa de advocacia entre os principais doadores do democrata não seja indicação de desenvolvimentismo, as outras são. Não há empresa industrial, mas há duas grandes organizações de tecnologia da informação e duas produtoras de conhecimento.
Enquanto os 30 anos dourados do capitalismo (1949-78) foram de ampla coalizão desenvolvimentista nos países ricos, de um pacto político englobando empresários, trabalhadores e classes médias profissionais, os 30 anos neoliberais do capitalismo (1979-2008) foram de coalizão restrita, de acordo entre os 2% mais ricos da população.
Enquanto os primeiros foram anos de elevadas taxas de crescimento, moderada redução da desigualdade e grande estabilidade financeira, os segundos foram de baixo crescimento e alta instabilidade financeira e de brutal concentração de renda.
Os conceitos de classe social e de luta de classes foram relevantes, mas não são suficientes para explicar esses resultados.
Já a distinção entre empresários e capitalistas rentistas e o conceito de pactos políticos entre setores sociais têm poder explicativo maior. E nos ajudam a pensar como será o capitalismo depois da crise.
Aposto num pacto desenvolvimentista ou progressista, num grande acordo social revalorizando a produção e o conhecimento, mas sei quantas lutas serão necessárias para que isso seja verdade e quão precárias são as previsões humanas.”
FONTE: escrito por Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/65472-pacto-desenvolvimentista-pos-crise.shtml) [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Ainda que se esteja sempre afirmando que não existe diferença entre esquerda e direita, ela continua a ser usada por todos, porque a diferença existe, e porque a tese da indiferença é mera tentativa da coalizão política hegemônica de afirmar que não há alternativa a ela.
Mas essa distinção apresenta um problema real: ela supõe luta de classes entre capitalistas e trabalhadores ou entre os pobres e os ricos, o que é só parte da verdade.
A outra é que existem coalizões de classe ou pactos políticos associando trabalhadores e capitalistas, na medida em que estes se dividem entre os empresários que dirigem suas empresas, inovam e realizam lucros, e os rentistas que vivem de juros, aluguéis e dividendos.
Denomino “desenvolvimentista” o pacto político que associa trabalhadores e classes médias aos empresários; “neoliberal” o que une rentistas a financistas, estes entendidos como os profissionais que gerem a riqueza dos primeiros. As coalizões “desenvolvimentistas” são amplas e progressistas, as “neoliberais”, restritas e conservadoras.
Sempre usei essa oposição entre desenvolvimentismo e liberalismo econômico para compreender países em desenvolvimento como o Brasil, mas estou convencido de que se aplica também aos países ricos.
O pacto político por trás do presidente Obama é desenvolvimentista e progressista. O que apoia Mitt Romney é liberal e conservador.
A “Folha de São Paulo” publicou, recentemente, quadro com os cinco principais financiadores dos dois candidatos. Enquanto os do lado de Mitt Romney eram bancos (Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Bank of America e Crédit Suisse), os principais doadores de Obama eram Microsoft, Universidade da Califórnia, Dla Piper (empresa de advocacia), Google e Universidade de Harvard.
Ainda que uma empresa de advocacia entre os principais doadores do democrata não seja indicação de desenvolvimentismo, as outras são. Não há empresa industrial, mas há duas grandes organizações de tecnologia da informação e duas produtoras de conhecimento.
Enquanto os 30 anos dourados do capitalismo (1949-78) foram de ampla coalizão desenvolvimentista nos países ricos, de um pacto político englobando empresários, trabalhadores e classes médias profissionais, os 30 anos neoliberais do capitalismo (1979-2008) foram de coalizão restrita, de acordo entre os 2% mais ricos da população.
Enquanto os primeiros foram anos de elevadas taxas de crescimento, moderada redução da desigualdade e grande estabilidade financeira, os segundos foram de baixo crescimento e alta instabilidade financeira e de brutal concentração de renda.
Os conceitos de classe social e de luta de classes foram relevantes, mas não são suficientes para explicar esses resultados.
Já a distinção entre empresários e capitalistas rentistas e o conceito de pactos políticos entre setores sociais têm poder explicativo maior. E nos ajudam a pensar como será o capitalismo depois da crise.
Aposto num pacto desenvolvimentista ou progressista, num grande acordo social revalorizando a produção e o conhecimento, mas sei quantas lutas serão necessárias para que isso seja verdade e quão precárias são as previsões humanas.”
FONTE: escrito por Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/65472-pacto-desenvolvimentista-pos-crise.shtml) [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
Nenhum comentário:
Postar um comentário