Por Paulo Moreira Leite, diretor da sucursal da revista ISTOÉ em Brasília
NOVA ARMADILHA PARA DILMA
"Vitoriosa na Copa das Copas, a presidente deve evitar casca de banana clássica: sugerir mudanças para arrumar o futebol
Agora que se comprovou que tivemos a "Copa das Copas", surge uma nova armadilha para Dilma Rousseff: cobrar providências para que ela arrume o futebol brasileiro.
Vamos combinar: o último presidente que se aventurou nessa seara foi Fernando Henrique Cardoso,que convocou Pelé para Ministro dos Esportes. O fiasco foi tão grande que todos saíram de fininho e não se falou mais nisso.
Outro caso notável, do economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, envolveu uma tentativa de arrumar o Palmeiras. A opinião geral é que, como cartola de clube, Belluzzo mostrou que é um ótimo economista e um ótimo sujeito. No futebol, é um fanático com ótimas intenções.
Um governo, qualquer governo, pode e deve ser cobrado por sua atuação política-administrativa. Pode propor medidas de estímulo ao esporte e ao bem-estar da população. Não precisa dar respostas de bolso de colete ao estranho mundo do futebol profissional, com seus billhões, máfias e transações sem nenhuma transparência. Nesse caso, estamos falando de um mundo de negócios privados. Cabe ao Estado defender a lei -- como acontece de modo exemplar e inédito com a investigação sobre a máfia dos ingressos -- e impedir abusos contra o cidadão-torcedor.
O governo brasileiro agiu corretamente na Copa de 2014 que, conforme os internautas da BBC inglesa, terminou assim:
--39% acham que o Brasil fez a melhor copa da história;
--10,5% preferem a da Itália;
--8,4% preferem a da França;
--8,1% preferem a da Alemanha.
É por isso que agora se pede a Dilma que dê palpites para arrumar o futebol. Pura casca de banana.
Num ano eleitoral, a "Copa das Copas", que foi apresentada como "um fiasco inevitável" transformou-se num sucesso tão grandioso que os adversários só podem tentar esconder. Será que um dia iremos lembrar a lista daqueles políticos e jornalistas que pediram o cancelamento da Copa?
Sem a menor necessidade de mostrar intimidade com o mundo das chuteiras, a presidente poderia perfeitamente driblar questões dessa natureza.
Quando faltam pouco mais de dois meses para a sucessão presidencial, cobrar providências para o futebol brasileiro é uma tentativa – tosca e marota –de associar o governo ao desempenho da seleção. É trazer a derrota em campo -- onde ela não joga -- para a vitória fora dele, no qual foi autoridade máxima.
O nome disso é "marketing".
Em breve, vão perguntar à presidente por que ela não pediu à CBF que tirasse o Felipão, levando o sósia junto. Ou porque não sugeriu a saída do Fred já no segundo jogo. Ou porque não mandou uma lei revolucionária para o Congresso. Ou porque não tirou o vilão da vez -- sempre um cartola, claro -- quando era tempo.
O último presidente que se envolveu diretamente nessa seara foi um ditador, Emilio Médici. Chegou ao ponto de pedir a escalação de Dario, numa linha que tinha Jairzinho, Greson, Pelé, Tostão e Rivelino.
Não foi ouvido – mesmo falando com ajuda do AI-5. Ainda bem. O país foi tri-campeão."
FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, diretor da sucursal da revista ISTOÉ em Brasília. É autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa" (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE).
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