domingo, 6 de julho de 2014

O CRIME CONTRA NEYMAR





[OBS deste blog 'democracia&política': 

Qualquer feroz comportamento animal irracional deve ser banido com rigor das competições esportivas. Seja ele canino (morder) ou equino (coicear). O violento coice aplicado de surpresa, ao final do jogo, num lance distante da bola, covardemente por trás, na coluna vertebral de Neymar, fraturando-a, foi acintosamente doloso demais. Antes do golpe, o colombiano puxou para trás a cabeça do Neymar para maior precisão no estúpido coice com o joelho. Em face da violência, o mínimo previsto era deixar nosso principal jogador de espinha dorsal partida e definitivamente paraplégico. Para mim, foi caso de expulsão e boletim de ocorrência policial.

Contudo, além da estranha total omissão do juiz, o mais impressionante foi a não disfarçada reação complacente e tolerante da nossa mídia, diferentemente da sua imensa revolta no caso da mordida do uruguaio Suárez. Ontem, no Jornal da Band, o apresentador Ricardo Boechat comentou que não viu nada anormal na agressão do colombiano, e que os brasileiros é que foram violentos no jogo. Na Globo, o "especialista" juiz Arnaldo Coelho também não viu falta. Achou normal. A enviada especial do JN da Globo em Berlim fez reportagem construindo para os alemães a imagem de simpáticos e até ganhadores da próxima partida contra o Brasil.     

Tudo torna o acontecimento muito intrigante. Dá margem a elucubrações sobre ter sido milionariamente encomendado. A nossa grande mídia nos últimos anos foi claramente antiCopa, para assim ser antigoverno federal e antiDilma. Ela acredita que o sucesso da Copa e a vitória do Brasil tira chances do Aécio/PSDB. O seu esforço nesta década para propiciar a volta da direita ao poder tem sido imenso e dispendioso, sem preocupação com a verdade.

Vejamos o artigo seguinte, de Paulo Moreira Leite]:

O ESCÂNDALO É A FALTA DE INDIGNAÇÃO

Por Paulo Moreira Leite, diretor da Sucursal da revista ISTOÉ em Brasília

"Depois do carnaval diante da mordida de Suarez, observadores silenciam diante da agressão criminosa contra Neymar.

O aspecto mais chocante da contusão que deixará Neymar fora da Copa é a falta de indignação.

A joelhada de Zuñiga aos 41 minutos do segundo tempo foi um ato desleal e deliberado. Atacando sua vítima por trás, Zuñiga empurrou a cabeça de Neymar com a mão direita, para que o tronco ficasse encurvado e a espinha dorsal, mais exposta.

Se Neymar tivesse sido atingido algumas vértebras acima, o dano seria muito grave e é bom nem pensar nas consequências para o futuro do jogador. Mesmo assim, uma vértebra foi fraturada – o que dá uma ideia da violência que atingiu Neymar.

Zuñiga não foi expulso. Nem recebeu cartão amarelo.

A agressão, brutal, foi tratada como uma agressão "normal de jogo", embora tivesse produzido uma lesão muito mais grave do que a mordida do uruguaio Luis Suárez no ombro do italiano Chiellini.

Olha só: embora tenha sido um ato de uma pessoa psicologicamente perturbada, o que é sempre um atenuante num caso como este, a mordida de Suárez lhe valeu a suspensão por nove partidas da FIFA. Até Chiellini achou um exagero.

A reação diante da violência contra Neymar, o maior jogador brasileiro, a estrela número 2 da Copa depois do argentino Messi, foi a passividade. Essa é a mensagem.

É curioso imaginar por que não se fez um escândalo, nem no momento da agressão nem depois. Ficou tudo na normalidade.

O juiz Carlos Velazco Carballo será punido? E Zuñiga? Nada. A maior crítica que li nos jornais, hoje, foi um comentário dizendo que sua entrada foi “maldosa.” Fraco, hein?

Será que a Comissão de Arbritragem da FIFA irá se manifestar contra Carballo? Quem está pedindo? Quem exige?

Dá para entender o recado enviado aos árbritos das próximas partidas do Brasil, certo?

Essa reação "compreensiva" – digamos assim -- encobre um movimento que não ousa se mostrar por inteiro. Estou falando da torcida contra a Copa.

Derrotados fora de campo, quando se comprovou que a Copa era um sucesso nacional e internacional, e que a maioria dos meios de comunicação havia embarcado numa Escola Base em nível federal, testemunhada por 200 milhões de brasileiros, essa turma foi obrigada a guardar as energias negativas para o que acontece nos gramados.

Não vamos negar: a possibilidade, real, de o Brasil sair campeão deixa essa turma em pânico.

Seu movimento mental é semelhante ao discurso de Carlos Lacerda contra Juscelino Kubisctheck nas eleições de 1955, quando ele dizia: JK não pode candidatar-se; se sair candidato, não pode vencer; se vencer, não será empossado. Na Copa de 2014, o raciocínio é o mesmo. Não poderia haver Copa. Como ela aconteceu, deve ser ruim. E se não foi ruim, o Brasil não pode vencer.

Por isso ficaram muito indignados com o penalti (duvidoso, no mínimo) em cima de Fred no "jogo do VTNC" contra a Croácia. Mostraram-se generosos quando a Holanda foi beneficiada num lance parecido. Acharam normal. O silêncio diante da omissão absurda de Carballo é parte dessa postura.

Nas rodadas finais do Mundial, a turma do “Não vai ter Copa” aposta suas últimas esperanças numa derrota da Seleção.

Exibe sorrisos amarelos a cada vitória dos meninos. Sexta-feira, quando ficou garantido que, na pior das hipóteses, a Seleção Brasileira terá direito a disputar uma medalha de bronze, o que ninguém espera, mas está longe de ser aquele fiasco anunciado, a ausência de Neymar tornou-se a esperança silenciosa desse pessoal que, nos últimos dias, tentava inutilmente jogar nas costas da “Copa” e do “PAC” a tragédia numa obra de infraestrutura de Belo Horizonte, licitada e administrada pela prefeitura de um aliado da oposição.

A joelhada de Zuñiga foi um ato canalha. Mas o jogo fora do campo é muito pior e desleal, vamos combinar."

FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, diretor da Sucursal da revista ISTOÉ em Brasília, autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa"  (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE). [Observação inicial entre colchetes adicionada por este blog 'democracia&política'].

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