quarta-feira, 2 de julho de 2014

VOLTA A GUERRA FRIA, FONTE DE MUITO DINHEIRO


Paul C Roberts


Uma nova Guerra Fria e os EUA se vingam MENTINDO... Novamente!

Por Paul C Roberts (*), no "Institute for Political Economy" (EUA), com o título original “Cold War Renewed With A Vengeance While Washington Again Lies”. Artigo traduzido por Mberublue e postado no "Redecastorphoto"



Discurso de Churchill (5/3/1946) "A Cortina de Ferro"

Para o complexo industrial-militar e de segurança dos Estados Unidos, a Guerra Fria foi por décadas uma fonte de muito dinheiro, desde 5/3/1946, quando do discurso de Churchill em Fulton, Missouri, ao estabelecer a “Cortina de Ferro”, até ao final dos anos 80, quando Reagan e Gorbachev decretaram o fim da Guerra Fria. Durante ess guerra, os estadunidenses ouviram falar ad nauseam sobre as “Nações Cativas”. As nações cativas seriam os Estados Bálticos e o bloco soviético, normalmente chamado, de forma resumida, de “Europa Oriental”.


Complexo Industrial-Militar dos EUA

Seriam esses países nações cativas porque suas políticas externas eram impostas por Moscou, da mesma forma que outras nações também cativas como Reino Unido, Europa Ocidental, Canadá, México, Colômbia, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Taiwan, as Filipinas, a Geórgia e a Ucrânia, têm suas políticas externas impostas atualmente por Washington. Pretende ainda Washington expandir as suas próprias nações cativas cooptando o Azerbaijão, que formava antigamente parte da Ásia Central Soviética, Vietnam, Tailândia e Indonésia.

No transcorrer da Guerra Fria, os Estados Unidos tinham a Europa Ocidental e a Grã Bretanha como países soberanos e independentes. Fossem eles independentes ou não, certamente hoje não são. Estamos já há sete décadas passadas desde o final da Segunda Guerra Mundial e as tropas dos Estados Unidos ainda ocupam a Alemanha. Nenhum dos governos europeus tem coragem de propor qualquer coisa que seja diferente do que propõe o Departamento de Estado dos EUA.

Não muito tempo atrás, houve rumores e conversações, tanto na Alemanha quanto no Reino Unido, sobre sair da União Europeia, mas Washington entrou na conversa e declarou que estes países deveriam cessar tais assertivas porque não era do interesse de Washington que qualquer país saísse da União Europeia. A conversa cessou imediatamente. O reino Unido e a Alemanha são tão abjetamente vassalos de Washington que nenhum deles pode sequer fazer publicamente suposições sobre o próprio futuro.


Baltasar Garzón


Quando Baltasar Garzón, um juiz espanhol com autoridade judicial para investigação tentou indiciar membros do regime de George W. Bush por violação de leis internacionais por torturar detentos, foi imediatamente derrubado.

No livro "Modern Britain" (“guia” anedótico para entender a atual Inglaterra - NT), Stephane Aderca escreve que o Reino Unido está tão orgulhoso de poder ser um “parceiro júnior” dos Estados Unidos, que o governo britânico aderiu a um acordo unilateral dos EUA, um tratado de extradição sob o qual basta que Washington faça uma mera declaração de “razoável suspeita” para que obtenha a extradição de pessoas do Reino Unido, mas este tem que demonstrar “causa provável” para a recíproca. Ser um “parceiro júnior” de Washington, relata Aderca, é uma espécie de compensação emocional para as elites britânicas, dando-lhes a sensação de que são importantes.

Sob as regras da União Soviética, a grande entidade que precedeu a Rússia atual, as nações cativas tinham performance econômica fraca. Sob as regras de Washington, essas mesmas nações cativas têm desempenho medíocre por causa da pilhagem promovida por Wall Street e o FMI.

Como disse Giuseppe di Lampedusa, “As coisas têm grande chance de serem sempre as mesmas.”



O saque promovido contra a Europa por Wall Street e que recaiu sobre a Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e Ucrânia, está agora centrado na França e na Grã Bretanha. As autoridades americanas estão exigindo do maior banco francês a quantia de 10 bilhões de dólares americanos sob a acusação forjada de que o banco estaria financiando comércio com o Irã, como se fosse problema de Washington com quem um banco francês resolve fazer negócios ou financiamentos. Apesar da total subserviência da Grã Bretanha para com Washington, o Procurador Geral do Estado de Nova Iorque instaurou um processo civil de fraude contra o "Barclays Bank".

Provavelmente, são corretas as acusações assacadas contra o "Barclays PLC". Mas como a maioria do bancos americanos, provavelmente tão culpados como o "Barclays" não foram acusados de nada, a acusação dos Estados Unidos contra o "Barclays" siginifica que os grandes fundos de pensões e mutuais devem abandonar o banco, porque poderiam ser acusados posteriormente de negligência, caso mantivessem as contas em um banco acusado de fraude civil.

Claro que o resultado dessas acusações contra bancos estrangeiros feitas pelos Estados Unidos não poderia ser outro. Acontece então que bancos como o "Morgan Stanley" e "Citigroup" ganham vantagem competitiva, e acabam por açambarcar o mercado desses valores em seus próprios "dark pools" (mercado privado que negocia valores mobiliários, mas fora do alcance dos investidores comuns, do público em geral. Quando há liquidez nestes mercados ocultos ao público, é chamada de "dark pool liquidity". O nome significa que esse tipo de comércio é escondido do público em geral, como se estivesse mergulhado em uma piscina de água turva – [NT]).


Esquema "Dark Pool" Liquidity

Então, o que isso tudo significa? Certa e claramente, estamos presenciando o uso da lei dos Estados Unidos para criar hegemonia financeira para as instituições estadunidenses. O Departamento "de Justiça" dos Estados Unidos (sic) teve provas por cinco anos da participação do "Citigroup" na fixação da taxa de juros LIBOR, mas nem chegou perto de sequer pensar em uma acusação.

Os governos comprados e já pagos dos estados europeus fantoches dos EUA são tão corruptos que os líderes permitem que Washington mantenha o controle sobre seus países, para o avanço da hegemonia financeira, política e econômica dos EUA.

Em seu próprio benefício, Washington está organizando o mundo contra a Rússia e a China. Em 27/6/2014, os estados fantoches de Washington que compreendem a União Europeia deram à Rússia um ultimato. Salta aos olhos o absurdo desse ultimato. Militarmente, os fantoches de Washington são inofensivos. A Rússia pode exterminar a Europa em alguns minutos. Daí, nós temos a situação esquisita em que o mais fraco dá um ultimato ao mais forte.


Cameron, um dos poodles europeus de Obama

A União Europeia, em obediência às ordens de Washington, disse para a Rússia que acabe com a oposição ao governo fantoche dos EUA em Kiev, no sul e no leste da Ucrânia. Mas, como qualquer pessoa com um mínimo de instrução sabe, incluindo a Casa Branca, Downing Street nº 10 (residência oficial e gabinete do Primeiro Ministro Britânico, funcionando como sede do governo – [NT]), Merkel e Hollande, a Rússia não é responsável pelas agitações separatistas no leste e sul da Ucrânia. Esses territórios sempre foram parte da Rússia e somente foram adicionados à República Soviética da Ucrânia pelo Partido Comunista Soviético quando a Ucrânia e a Rússia faziam ambas parte de um mesmo país.

Agora, esses russos querem voltar a fazer parte da Rússia porque foram ameaçados pelo governo fantoche instalado pelos EUA em Kiev. Washington está determinado a forçar Putin a uma ação militar, a qual pode ser usada para justificar ainda mais sanções, e nesse intento não quer resolver a situação, e sim piorá-la.


Hollande - Draghi -Merkel (Marionetes dos EUA)

O que será que Putin fará? Ele tem 72 horas para se submeter a um ultimato de uma coleção de países marionetes que ele pode destruir a qualquer momento, ou prejudicar seriamente somente com a interrupção do fluxo de gás natural da Rússia para a Europa.

Historicamente, esse tipo de desafio estúpido ao poder pode resultar em más consequências. Mas Putin é um humanista a favor da paz. Ele não desistirá voluntariamente de sua estratégia de mostrar à Europa que as provocações não vêm da Rússia e sim dos EUA. A esperança de Putin e da Rússia é que a Europa eventualmente compreenda que está sendo usada de forma vil por Washington.

Os EUA financiam centenas de ONG na Rússia, escondidas atrás de vários disfarces, como por exemplo, “direitos humanos”, e Washington pode liberar esses ONG contra Putin à vontade, como já fez nos protestos conta a eleição de Putin. As quintas colunas de Washington acusaram Putin de ter roubado as eleições, mesmo após várias pesquisas mostrarem que Putin foi o vencedor claro e indiscutível das eleições.


Brzezinski e Wolfowitz

Em 1991, os russos ficaram, em sua maior parte, muito contentes em se libertar do comunismo e olharam para o ocidente como um aliado para a construção de uma sociedade civil baseada na boa vontade. Esse foi o erro da Rússia. Como as doutrinas de Brzezinski e Wolfowitz deixam bem claro, a Rússia é o inimigo cujo crescimento e influência devem ser combatidos a qualquer custo.

O dilema de Putin é que ele está preso entre o profundo desejo de chegar a um acordo com a Europa e o desejo desta e dos EUA de demonizar e isolar a Rússia.

Putin corre o risco de que seu desejo de acordo seja explorado por Washington e apresentado à União Europeia como sinais de fraqueza e falta de coragem. Os EUA estão dizendo a seus vassalos europeus que o recuo de Putin ante as pressões da Europa comprometerão seu status na Rússia e no momento certo Washington liberará suas centenas de ONG para levar Putin à ruína.

Foi o que aconteceu na Ucrânia. Com Putin trocado por um russo submisso e muito bem recompensado, apenas a China permanecerá como um obstáculo para a hegemonia dos Estados Unidos no mundo."

 
FONTE: escrito por Paul C Roberts, no "Institute for Political Economy" (EUA), com o título original Cold War Renewed With A Vengeance While Washington Again Lies”. Artigo traduzido por Mberublue e postado por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto"   (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/07/uma-nova-guerra-fria-e-os-eua-se-vingam.html).
(*) O autorPaul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939), é economista norte-americano graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.  É colunista do "Creators Syndicate". Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do "Wall Street Journal", "Business Week" e "Scripps Howard News Service". Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em "Counterpunch" e no "Information Clearing House". 

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