sábado, 26 de janeiro de 2008

A TRANSFERÊNCIA PARA ESTRANGEIROS DA PROPRIEDADE DE EMPRESAS ESTRATÉGICAS

O câncer de entregar (para estados ou empresas estrangeiras) as empresas brasileiras estratégicas não foi extirpado.
Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.
Diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque assim encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados". Haveria aqui, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos". Omitiam que aqueles países hoje são desenvolvidos e ricos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. Neles, dizem o contrário, mas o Estado é forte e intervencionista.
A "modernidade" nos foi imposta, como aconteceu nos diversos acordos com o FMI.
Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.
Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...
O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.
Em resumo, no nosso caso, qual a maldade por trás daquelas imposições dos EUA, FMI, G-7?
Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador.
Por quê? Porque o Estado forte é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos competirem internamente com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em setores estratégicos ou altamente lucrativos.
Assim, na década de 90 veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar prioritariamente as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).
A muito estimulada e arrojada desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.
O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras! Os brasileiros não sabem, mas a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passou para o controle do Estado Francês. Hoje, a sua propriedade, a maior parte das suas ações ordinárias, está em mãos estrangeiras!
Felizmente, muitos brasileiros já acordaram para o problema e percebem as maldades em negócios que nos arrastam para o terceiro mundo e somente beneficiam os países ricos, as grandes potências. Não caem mais tão docilmente na armadilha eufemística de "Estado Mínimo" e em outras balelas.
Nesse cenário aqui relembrado, se insere a notícia abaixo transcrita. Ela foi obtida no jornal Folha de São Paulo de hoje. Devemos lê-la lembrando das capciosas entrelinhas sempre presentes nessas "parcerias estratégicas", nas polêmicas de intervenções ou não do Estado:

"Governo teme "efeito AmBev" na Vale

Planalto receia que compra da Xstrata pela empresa brasileira possa transferir decisões da mineradora para o exterior

Governo faz restrições ao negócio avaliado em US$ 90 bi e pode usar BNDES e fundos de pensão de estatais para tentar barrá-lo
KENNEDY ALENCAR, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As restrições do governo à possibilidade de a Vale comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata se devem ao temor da repetição do "efeito AmBev", segundo disse ontem à Folha um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por "efeito AmBev", leia-se: o negócio Vale-Xstrata poderia ser o primeiro passo para que o centro de decisão da companhia se transfira do Brasil para o exterior, o que aconteceu com a cervejaria.
Criada em 1999, a AmBev foi resultado da fusão da Antarctica com a Brahma. Na época, a Kaiser e os defensores do negócio travaram dura disputa comercial. O governo brasileiro, comandado então pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, viabilizou a operação por meio de autorização do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do Ministério da Justiça.Um dos argumentos favoráveis à fusão era o de criação de uma grande empresa nacional que pudesse atuar globalmente.
Em 2004, a AmBev se fundiu com a Interbrew, um grupo belga. Na avaliação do governo atual, petista e adversário do tucano FHC, o resultado é hoje desfavorável ao consumidor. A AmBev tem 70% do mercado nacional de cerveja, não enfrenta forte concorrência e seu centro de decisão não é mais nacional.
O receio de que a eventual compra da Xstrata dê à Vale o mesmo destino é um dos principais motivos para Lula e a cúpula do governo resistirem ao negócio entre as grandes mineradoras. Lula tem se queixado publicamente de que a Vale, o maior grupo privado do país, investe pouco no país. Um auxiliar do presidente disse que ele pode ser convencido de que o negócio traria benefícios.
Anteontem, Lula jantou com o presidente da Vale, Roger Agnelli, no Rio.
A Vale já confirmou interesse na compra da Xstrata e o início de tratativas nesse sentido, sob o argumento de que seria melhor para sobrevivência global da empresa. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais seriam quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da companhia brasileira em US$ 120 bilhões.
Na opinião de integrantes da cúpula do governo, o negócio poderia transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento. A Vale foi privatizada em 1997.
O Palácio do Planalto poderia tentar inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e representantes no Conselho de Administração.
Integrantes do governo brasileiro afirmam que a operação Vale-Xstrata é diferente da fusão entre Brasil Telecom e a Oi (antiga Telemar) -este negócio conta com simpatia do governo e depende de aval político e econômico do Planalto. Motivo: o governo sustenta que a operação BrT-Oi seria benéfica ao consumidor, porque criaria uma empresa mais apta a competir com a Embratel e a Telefônica no mercado nacional. O controle da empresa também ficaria em mãos nacionais. O governo avalia ainda que as duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a mexicana Embratel e a espanhola Telefônica na área de transmissão de dados, por exemplo.
Para dar aval ao negócio, Lula insistiu em criar um mecanismo que permita aos fundos de pensão de empresas públicas e ao BNDES ter poder de decisão no processo de governança da nova empresa. O Planalto disse ter convencido o presidente da Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a negociação. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, tem participação relevante na Oi e na BrT."

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