quinta-feira, 9 de julho de 2009

LUIS NASSIF: O CAPITAL DE VOLTA À ECONOMIA REAL

“Ontem o dólar voltou a subir no país, inflado pelas expectativas negativas da economia norte-americana. Será assim por bom tempo. Algumas notícias positivas farão o dólar cair e a Bolsa de Valores subir; e o movimento inverso, quando for a safra de notícias negativas.

Para entender esse torvelinho especulativo, é necessário dividir os investimentos em dois grupos: aqueles calçados em um fluxo contínuo de resultados; e aqueles que dependem apenas de movimentos tópicos de capitais.

Explico melhor.

Se alguém aplica em commodities, por exemplo, em períodos de alta volatilidade estará sujeito a quedas bruscas ou altas repentinas. Isso porque as commodities dependem de um conjunto de fatores de difícil aferição imediata: o desempenho futuro da economia mundial; o fator China, meio desconcertante; e, principalmente, o efeito-manada dos investimentos especulativos.

Por exemplo, a China puxa um pouco a demanda por petróleo. Imediatamente os fundos vão até as Bolsas para aproveitar a alta. E acabam produzindo um movimento muito mais agudo do que aquele baseado na análise dos fundamentos do mercado – oferta e procura. Quando o pêndulo volta, a queda costuma machucar, porque é difícil se estabelecer o que é piso e o que é pico para essas cotações.

No caso de empresas, o jogo é outro.

Suponha uma empresa que tenha uma rentabilidade de 100 por ano. E um investidor que planeje um retorno de 10% ao ano. Ao final de dez anos, o valor residual da empresa será, digamos, 900. O investidor faz as contas e define o que considera o preço justo: 930. Comprando o papel por esse valor, receberá 100 por ano de dividendos e no final do 10º ano poderá vender a empresa por 900. A rentabilidade total será de 10% ao ano.

Mas suponhamos que do 5º ano em diante os dividendos cairam para 80 por ano e o valor residual da empresa para 700. Nesse caso, se ficar com o papel até o vencimento, a rentabilidade cairá para 7,7% ao ano.

Em qualquer hipótese, sempre será possível calcular as variações no preço das ações. Se o valor for tal que a rentabilidade se torne excessiva, hora de vender e lucrar. Se cair tanto que a rentabilidade prevista se torne muito pequena, hora de comprar.

O exemplo acima é bem simples. Mas explica porque uma quantidade cada vez maior de fundos e de grandes investidores passam a procurar as atividades reais para investir – tanto as tradicionais quanto as ligadas às novas tecnologias já comprovadas.

Ainda haverá movimentos especulativos remanescentes. Há muita liquidez no mundo. As medidas adotadas pelos Bancos Centrais dos países desenvolvidos visaram muito mais prover de liquidez o sistema financeiro do que a economia propriamente dita. Ou seja, não foi dinheiro injetado com o propósito de aumentar a oferta de crédito, mas simplesmente de tirar os bancos do enrosco em que se meteram.

Mas, gatos escaldados, nos próximos anos o capital se aproximará cada vez mais das atividades produtivas.”

FONTE: artigo de Luís Nassif, colunista do Último Segundo, publicado no site vermelho em 08/07/2009.

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