segunda-feira, 23 de maio de 2011

VIDA APÓS A MORTE



SOBRE A VIDA APÓS A MORTE

"Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido, embora a esperança de que ela exista seja muito compreensível

Já que, no domingo passado, escrevi sobre o fim do mundo (era para ter sido ontem), é natural continuar nossa discussão refletindo sobre vida após a morte. Especialmente nesta semana, quando o famoso físico Stephen Hawking falou do assunto em entrevista ao jornal inglês "The Guardian". "Um conto de fadas para pessoas que têm medo do escuro", disse.

Mantendo a discussão no nível "científico", o que podemos falar sobre experimentos que visam detectar vida após a morte?

Eis o que escrevi sobre o tópico em meu livro "Criação Imperfeita":

"Quando ingressei no curso de física da PUC do Rio em 1979, era a encarnação perfeita do cientista romântico, com barba, cachimbo e tudo.

Lembro-me, com certo embaraço, do meu experimento para 'investigar a existência da alma'. Se a alma existia, pensei, tem que ter uma natureza ao menos em parte eletromagnética, de modo a poder animar o cérebro. e se eu convencesse um hospital a dar-me acesso a um paciente em coma, já prestes a morrer? Assim, poderia circundá lo com instrumentos capazes de detectar atividade eletromagnética
.

Talvez pudesse detectar a cessação do desequilíbrio elétrico que caracteriza a vida [...]. Por via das dúvidas, o paciente deveria, também, estar deitado sobre uma balança bem precisa, caso a alma tivesse peso." Continuo:"Na verdade,minha incursão no terreno da "teologia experimental" era mais brincadeira do que algo que levei a sério. Porem, minha metade vitoriana charlatã, devo dizer, tinha ao menos um predecessor.

Em 1907, um certo Dr. Duncan MagDougall de Haverhill, em Massachusetts, conduziu uma série de experimentos para medir o peso da alma. Embora sua metodologia fosse altamente duvidosa, seus resultados foram mencionados no prestigioso "New York Times": "Médico crê que alma tem peso", afirmou a manchete. O peso era em torno de 21,3 gramas, embora tenha havido algumas variações entre os poucos pacientes investigados. Como grupo de controle, ele pesou 15 cães, mostrando que eles não sofriam qualquer mudança de peso. O resultado não o surpreendeu, pois suspeitava que só humanos têm almas."

Os experimentos de Mag Dougall inspiraram o filme "21 Gramas", com Sean Penn fazendo o papel de um matemático à beira da morte"
.

De volta a Hawking, devo dizer que concordo com ele. Tudo o que sabemos sobre como a natureza opera indica que a vida é um fenômeno bioquímico emergente que tem um início e um fim.

Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido: existe a vida, um estado complexo da matéria em que um organismo interage ativamente com o ambiente, e existe a morte, um estado em que essas interações tornam-se passivas.

Morte é ausência de vida. (Mesmo o vírus só pode ser considerado vivo dentro de uma célula anfitriã.) É perfeitamente compreensível querer mais do que algumas décadas de vida, ter esperança de que existe algo mais.

Porém, nosso foco deve ser no aqui e no agora, e não no além. O que importa é o que fazemos coma vida que temos, curta que seja. Após ela, o que persiste são as memórias naqueles que continuam vivos.

FONTE: escrito por Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “Criação Imperfeita”. Artigo publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2205201103.htm) [imagem do google adicionada por este blog]

2 comentários:

Darkkann disse...

assunto pra se filosofar por horas, mas eu compartilho da opinião dele. a vida é o contrario da morte, então não tem como ambas coexistirem.

o que me estranha é o tom com que estão tratando essa constatação do dawkins, como se fosse alguma ideia inovadora e não uma 'verdade' que há anos tem sido debatida por varios pensadores.

se ele ainda apresentasse provas cientificas pra teoria ai sim merecia todo o destaque. mas como provar não é o forte desse senhor... só posso concluir que ele é só mais um filosofo vulgar supervalorizado.

Unknown disse...

Darkkann,
Não tenho opinião formada sobre o assunto. Creio que nenhum ser humano a tem. O "conhecimento científico" da humanidade ainda é muito incipiente para pretendermos eliminar a hipótese de transformação em outras formas de vida.
Maria Tereza