quinta-feira, 17 de novembro de 2011

UM PREGADOR DE GOLPES DE ESTADO

Roger Noriega

Por Mário Augusto Jakobskind

“O nome dele é Roger Noriega (foto), um linha-dura que ocupou o cargo de subsecretário do Departamento de Estado no governo de George W. Bush e de embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Notoriamente vinculado ao complexo industrial militar norte-americano, Noriega volta e meia é convocado pela ‘mídia de mercado’ para dar recados de grupos que se utilizam de expedientes de todos os tipos na defesa de poderosos interesses econômicos.

Pois bem, a revista ‘Veja’, sempre ela [na sua prioritária defesa de interesses americanos e israelenses], divulgou entrevista em que Noriega faz previsões suspeitas envolvendo o Brasil. Segundo esse estimulador de golpes nas Américas, o Brasil dá cobertura e serve de base para o terrorismo internacional.

Noriega, que segue como funcionário do Departamento de Estado, ainda por cima acusa o Brasil de ser ‘complacente e apoiar o terrorismo na Tríplice Fronteira’. Essa região, por sinal, volta e meia aparece no noticiário com matérias requentadas, acusando a existência de células terroristas árabes.

A própria revista ‘Veja’ já publicou matérias do gênero em várias ocasiões. Aí, vem Noriega para voltar ao tema que o governo brasileiro já investigou e concluiu a improcedência das acusações.

Dá ou não dá para desconfiar que a nova investida de Noriega é suspeita?

Além de fazer duras críticas aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales e Rafael Correa do Equador, Noriega previu, nas páginas da ‘Veja’, que o Brasil será alvo de atentados durante a Copa do Mundo; sugere, ainda, que o governo mude sua política externa e rompa os elos com os três dirigentes sul-americanos mencionados.

Noriega, que em abril de 2002 foi um dos estimuladores da tentativa de golpe de estado contra o presidente Hugo Chávez, está mais uma vez se intrometendo indevidamente em assuntos internos de um país soberano. No fundo, tenta provocar pânico ao fazer previsões com base em coisa alguma, o que também levanta a suspeita segundo a qual serviços de inteligência dos EUA, a CIA e outros, podem estar preparando algum atentado terrorista para incriminar os governos dos países que não rezam pela cartilha de Washington. Ele, na prática, procura preparar a opinião pública a aceitar o argumento de que Venezuela, Bolívia e Equador representam um perigo para o Brasil.

E, de quebra, Noriega ainda afirma que as embaixadas do Irã incrementam células terroristas na América Latina.

Pelos antecedentes desse funcionário do Departamento de Estado, todo o cuidado é pouco. Nesse sentido, representantes de vários movimentos sociais reunidos em Brasília chamaram atenção para as declarações de Noriega. Pediram providências imediatas do governo brasileiro e chegaram até a pedir que o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, seja considerado persona non grata. Para esses movimentos, a adoção de tal medida seria forma de demonstrar que o Brasil não aceita passivamente intromissões indevidas em questões internas.

Não contente com a entrevista publicada na ‘Veja’, Noriega andou fazendo declarações de caráter golpista em outras plagas. Empolgado com o desfecho das ações militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia, Noriega mais uma vez deitou falação contra o governo constitucional da Venezuela.

Fez mais uma previsão, a de que Chávez não teria mais de seis meses de vida e que a sua morte provocaria o caos no país petrolífero devido a confrontos entre apoiadores e opositores do presidente venezuelano, o que justificaria uma intervenção militar dos EUA. No portal ‘Inter American Security Watch’, ao pregar abertamente a intervenção, ele declara textualmente que “as autoridades dos Estados Unidos devem estar preparadas para lidar com o impacto de uma situação de turbulência a curto prazo em um país onde se compra 10 por cento do nosso petróleo”.

Não é a primeira vez que Noriega se manifesta sobre a doença de Chávez. No mês de setembro, chegou a afirmar que “deveríamos nos preparar para um mundo sem Chávez”. As declarações de Noriega, então, entraram em contradição com a dos médicos de Chávez assegurando que ele reagia bem ao tratamento a que vinha sendo submetido contra o câncer,

Por coincidência ou não, poucas horas antes da declaração de Noriega sobre o estado de saúde de Chávez, o governo venezuelano denunciava a presença de um submarino no litoral do país.

Na verdade, Noriega exerce a função de estimulador de setores golpistas latino-americanos e, se os governos silenciarem a respeito, o referido funcionário do Departamento de Estado continuará ocupando espaços na mídia de mercado para sugerir retrocessos e tentar fazer com que o continente retorne ao período tenebroso dos anos 70.

Roger Noriega é mesmo uma figura nefasta ao processo democrático latino-americano.”

Em tempo: o recorde da semana em termos de deturpação da história ficou por conta de um colunista de ‘O Globo’ que comparou o ato público organizado pelo governo do Estado do Rio, contra o projeto ilegal sobre os royalties do petróleo, com a ‘passeata dos 100 mil’. O que disse Zuenir Ventura é, realmente, uma ofensa à geração 68 que lutou com o que estava ao seu alcance contra a ditadura.”

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio ‘Brecha’. Foi colaborador do ‘Pasquim’, repórter da ‘Folha de São Paulo’ e editor internacional da ‘Tribuna da Imprensa’. Integra o Conselho Editorial do seminário ‘Brasil de Fato’. É autor, entre outros livros, de ‘América que não está na mídia’, ‘Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE’   (http://www.diretodaredacao.com/noticia/um-pregador-de-golpes-de-estado)

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