Créditos da foto: Leopoldo Silva / Senado Federal - Flickr
"Brasil deverá inevitavelmente competir com os EUA"
"Em entrevista, José Luís Fiori [professor titular de economia política internacional da UFRJ, autor do livro "O Poder Global"] falou sobre os novos arranjos geopolíticos que envolvem a relação entre Estados Unidos e Brasil.
Por Bruna Galvão, da Agência Xinhua
Por Bruna Galvão, da Agência Xinhua
O escândalo da espionagem denunciada por Snowden teve impacto político e diplomático importante e imediato, na medida em provocou a suspensão de uma viagem programada da presidente Dilma Rousseff aos EUA, e um distanciamento visível nas relações pessoais entre a presidenta Dilma e o presidente Obama.
Mas qualquer país que disponha de um mínimo de importância internacional e que possua um serviço de informação profissional sabe que os EUA e todas as demais “grandes potências” se espionam entre si, e espionam regularmente os governos dos estados dentro de suas áreas de influência. Sendo que, no caso dos EUA, sabidamente essa espionagem é global. O episódio Snowden apenas colocou ao alcance da opinião publica em geral o que é senso comum entre governantes, estrategistas e estudiosos das relações internacionais.. Nesse sentido, creio que o estiramento recentes das relações entre Brasil e EUA se deve muito mais a outros acontecimentos e tomadas de posição do governo brasileiro, como foi o caso do silêncio político do Brasil frente à crise ucraniana, e frente ao bloco de aliados incondicionais, constituído pelos EUA, para pressionar o governo russo e fazê-los recuar de suas reivindicações geopolíticas; com foi também o caso da posição crítica e da tomada de posição corajosa e sem precedente da diplomacia brasileira frente aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, em julho/agosto de 2014; como tem sido o caso da opção brasileira pelo fortalecimento do grupo BRICS, que ficou ainda mais visível na reunião do grupo, em Fortaleza, em 2014, e na aproximação promovida pelo Brasil entre o BRICS e a Unasul, durante essa mesma reunião; e assim também, com a opção brasileira na compra de material bélico e na formação dos blocos empresariais para a exploração do pré-sal brasileiro, que não favoreceram os EUA, em nenhum dos dois casos. Creio que essa nova posição de liderança que o Brasil vem assumindo na América do Sul, e seu novo posicionamento no cenário mundial de não alinhamento automático ao lado dos EUA, têm contribuído muito mais para um certo esfriamento nas relações bilaterais, entre Brasil e EUA, do que essa ”descoberta” do óbvio, ou seja, que o EUA e todas as demais potências espionam o governo e as empresas estratégicas brasileiras.
Qual o estado das relações bilaterais hoje?
Creio que depois da recente reeleição da presidenta Dilma Rousseff, tem havido um esforço muito grande, de ambas as partes, a favor de uma reaproximação politico-diplomática, e a favor de um aprofundamento das suas relações econômicas, com o estabelecimento de um novo tipo de protocolo na relação entre os dois países. Mas acho que o progresso dessa reaproximação dependerá muito mais do desdobramento dos conflitos que hoje atravessam o establishment da politica externa norte-americana, do que da própria diplomacia brasileira.
A Presidente Dilma Rousseff deve se encontrar com o Presidente Barack Obama na Cúpula das Américas. Nessa ocasião, espera-se que ela dê uma resposta ao convite norte-americano para uma visita de Estado. Em sua opinião, Dilma vai aceitar o convite? Ela deveria aceitar?
Tenho a impressão de que a presidente brasileira já respondeu à sua pergunta, esclarecendo que já aceitou o convite para ir aos EUA, ainda no ano de 2015, numa visita de trabalho, e não numa visita de Estado
Qual o futuro das relações Brasil-EUA? Nos próximos anos, o Brasil tende a se aproximar ou se afastar dos EUA no sentido econômico? E quando à política externa?
As duas coisas, mas em momentos distintos, e em áreas diferentes. De qualquer maneira, o importante é ter em conta que as relações entre o Brasil e os EUA estarão sempre condicionadas pelo fato de que:
-- São os dois maiores países do hemisfério ocidental;
Qual o estado das relações bilaterais hoje?
Creio que depois da recente reeleição da presidenta Dilma Rousseff, tem havido um esforço muito grande, de ambas as partes, a favor de uma reaproximação politico-diplomática, e a favor de um aprofundamento das suas relações econômicas, com o estabelecimento de um novo tipo de protocolo na relação entre os dois países. Mas acho que o progresso dessa reaproximação dependerá muito mais do desdobramento dos conflitos que hoje atravessam o establishment da politica externa norte-americana, do que da própria diplomacia brasileira.
A Presidente Dilma Rousseff deve se encontrar com o Presidente Barack Obama na Cúpula das Américas. Nessa ocasião, espera-se que ela dê uma resposta ao convite norte-americano para uma visita de Estado. Em sua opinião, Dilma vai aceitar o convite? Ela deveria aceitar?
Tenho a impressão de que a presidente brasileira já respondeu à sua pergunta, esclarecendo que já aceitou o convite para ir aos EUA, ainda no ano de 2015, numa visita de trabalho, e não numa visita de Estado
Qual o futuro das relações Brasil-EUA? Nos próximos anos, o Brasil tende a se aproximar ou se afastar dos EUA no sentido econômico? E quando à política externa?
As duas coisas, mas em momentos distintos, e em áreas diferentes. De qualquer maneira, o importante é ter em conta que as relações entre o Brasil e os EUA estarão sempre condicionadas pelo fato de que:
-- São os dois maiores países do hemisfério ocidental;
-- Os dois foram criados pelos europeus e pela sua civilização cristã;
-- Historicamente, o Brasil sempre teve maior dependência dos EUA do que a inversa;
- Na medida em que o Brasil expanda e projete sua influência internacional, dentro e fora da América do Sul, deverá inevitavelmente competir com os EUA, porque, queira ou não, todo país que se propõe ascender à uma nova posição de liderança regional ou global terá sempre que questionar os arranjos geopolíticos e institucionais que foram definidos e impostos previamente, pelas potências que já são ou foram dominantes, dentro do sistema mundial. Essa regra, entretanto, nunca impediu nem impedirá o estabelecimento de convergências e alianças táticas, entre a potência ascendente e uma ou várias das antigas potências dominantes.
Ou seja, do meu ponto de vista, o mais provável é que o Brasil e os EUA se aproximem e distanciem periodicamente, como se fosse numa partida de "wei gi", em que a regra básica é a da “coexistência combativa” entre os parceiros envolvidos, sem que nunca se chegue à nenhuma espécie de casamento durador, ou, à alguma espécie de cheque-mate definitivo."
FONTE: entrevista com José Luis Fiori (professor titular de economia política internacional da UFRJ, autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo"); reportagem de Bruna Galvão, da Agência "Xinhua". Publicado no portal "Carta Maior" (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Jose-Luis-Fiori-Brasil-devera-inevitavelmente-competir-com-os-EUA-/6/33198).[Trecho entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].
FONTE: entrevista com José Luis Fiori (professor titular de economia política internacional da UFRJ, autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo"); reportagem de Bruna Galvão, da Agência "Xinhua". Publicado no portal "Carta Maior" (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Jose-Luis-Fiori-Brasil-devera-inevitavelmente-competir-com-os-EUA-/6/33198).[Trecho entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].
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