Como tudo que parece sólido, golpe se desmancha
Por Alex Solnik, jornalista
"Pode parecer paradoxal, mas quanto mais se aproxima o dia D do impeachment (hoje, é o que se diz), depois de dez meses de insistência do PSDB, mais a tese do impeachment se desmancha no ar, como tudo que é (ou parecia ser) sólido.
Não há mais movimento "nas ruas". As panelas pararam de bater. À medida que escorrem os dias, mais claro fica que não há motivo. Outro dia, o insuspeito ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que nunca economizou críticas ácidas ao PT, avisou que impeachment é para casos em que o presidente comete o crime, ele diretamente, não através de terceiros, e Dilma não cometeu crime algum, além de glorificar a mandioca e fazer blague com estocagem de vento que foi levada a sério por opositores empedernidos.
Não há crime, não há impeachment – essa ideia vai se cristalizando nas cabeças dos brasileiros de vários setores e pensamentos. Há dias, foi Delfim Netto. Chamou, com o sarcasmo habitual, as tratativas do impeachment de "golpezinho". E, cá entre nós, de golpe ele entende.
Ausente o motivo principal – não há crime –, a tese cai por terra. Mas ainda que houvesse, ainda que a presidente tivesse cometido malfeito que não cometeu, também importa quem encaminha o impeachment. Em 1992, quem deu o pontapé inicial do único processo de impeachment havido no Brasil foi um presidente da Câmara dos Deputados acima de qualquer suspeita e respeitado nacionalmente, chamado Ibsen Pinheiro.
A seguir, também foi cassado, mas essa é uma outra história. O que eu quero dizer é que numa democracia ninguém pode levar a sério um processo de impeachment encaminhado por um presidente da Câmara que, ao contrário do Ibsen de 1992, não tem respeitabilidade nem apreço, nem dos seus pares, nem da nação e só não caiu ainda porque a política tem razões que a própria razão desconhece.
A ele são imputados crimes os mais variados – e como alguém com esse retrospecto pode abrir processo contra alguém que não cometeu crime algum? O impeachment só serve para quem precisa de impeachment. E não é o Brasil."
FONTE: escrito por Alex Solnik, jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016). Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/200619/Como-tudo-que-parece-s%C3%B3lido-golpe-se-desmancha.htm).
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