Memórias do esgoto paulista
"A imprensa paulista trata o governo de São Paulo como um bem sucedido laboratório do neoliberalismo tucano. Mas a verdade é que o estado bandeirante se transformou num verdadeiro inferno das populações rejeitadas pelos tucanos.
A Sabesp privatizada secou as represas e distribuiu seu lucro na Bolsa de New York. Shoppings e empresas de grande porte pagam uma ninharia pela água caríssima distribuída nas periferias pobres que, além disso, estão sujeitas a um racionamento não admitido oficialmente.
A Eletropaulo também foi privatizada. A empresa reduziu suas equipes de manutenção para maximizar os lucros que remete para sua matriz norte-americana. Quando há interrupção do serviço, as áreas consideradas nobres têm prioridade de atendimento. As periferias pobres são esquecidas e os pedidos de indenização distribuídos na Justiça contra a empresa se multiplicam. Tenho um colega que defendeu várias famílias numa dessas ações porque a Eletropaulo deixou sem energia por 22 dias uma rua inteira na periferia de Osasco.
A PM não foi privatizada, mas se transformou num exército de jagunços que brutalizam as periferias pobres. Durante a gestão de Kassab na Prefeitura, centenas de favelas foram incendiadas, mas nenhum incendiário foi preso. Aqueles que incendiaram os arquivos do Metrô também estão soltos. O direito de protestar contra os abusos governamentais praticados pelos tucanos não existe. A liberdade de imprensa foi suspensa ou revogada. A violência policial em São Paulo está se virando contra os próprios jornalistas das empresas de comunicação que protegem o governador.
O Metrô e a CPTM não foram privatizados, mas têm sido sistematicamente saqueados há décadas. A roubalheira tucana nessas empresas públicas se tornou tão grande e impossível de não ser vista que gerou algumas consequências. O Ministério Público de São Paulo processou as empresas que participaram do golpe, mas isentou de qualquer responsabilidade os agentes políticos que o organizaram e dele se beneficiaram. A teoria do domínio do fato aplicada contra petistas em Brasília a pedido de 'Folha', 'Veja', 'TV Gazeta' e 'Estadão', foi esquecida quando os suspeitos eram tucanos paulistas.
Geraldo Alckmin e José Serra construíram dezenas de presídios. Há alguns dias, o governador de São Paulo resolveu fechar centenas de escolas públicas. Alckmin pretende reformar os prédios das mesmas para transformá-los em novas unidades da Fundação Casa? Nos últimos 20 anos, nenhuma universidade foi construída em São Paulo. De fato, ambos pretendiam privatizar a USP e isso explica terem escolhido a dedo reitores comprometidos com o sucateamento da instituição. Quando os estudantes ousam se manifestarm a PM invade o campus com a violência costumeira que emprega fora dele.
As chacinas estão se tornando uma triste realidade na periferia de São Paulo. Há bairros que vivem sob um “estado de sítio” não oficial. A liberdade de ir e de vir dos cidadãos mais pobres está sendo suspensa com a conivência do comando geral da PM. De fato, o medo de ser vítima de um “esquadrão da morte” só não incomoda os moradores dos bairros nobres onde os mesmos estão proibidos de operar. Uma chacina em Osasco foi filmada. A ação dos criminosos revelou treinamento policial. Vários PMs foram presos, todos os suspeitos já foram soltos. A julgar pela natureza perversa e criminosa da quadrilha que tomou de assalto o Palácio dos Bandeirantes, suponho que os pistoleiros da PM tenham sido premiados: mortos não fazem filhos e, portanto, mais escolas poderão ser fechadas por Alckmin no futuro.
A CF/88 prescreve o princípio da publicidade. A tirania de São Paulo, contudo, tem se devotado apenas ao princípio do segredo. A PM exigiu e conseguiu sigilo total sobre os gastos que teve ao reprimir violentamente manifestações de rua há alguns anos. Os documentos do Metrô foram queimados numa típica operação paramilitar disfarçada de invasão seguida de roubo. Que objeto valioso poderia se roubar num depósito de documentos? Alckmin tentou esconder do público até mesmo os documentos que se referem às falhas no serviço do Metrô. Propaganda favorável é o único produto jornalístico admitido em São Paulo. Alguém ficaria surpreso se a sede da "Carta Capital", uma revista pequenina e valente que tenta se opor ao modo tucano de governar, for vítima de um incêndio acidental?
A tirania em que se transformou o governo de São Paulo é um fato evidente para qualquer pessoa medianamente inteligente. Contudo, os tiranos tucanos nunca são denunciados pela grande imprensa paulista. 'Folha', 'Veja', 'Estadão' e 'TV Gazeta' se tornaram elementos chaves do “poder tucano” e recebem centenas de milhões de reais anualmente para falar bem de Geraldo Alckmin e José Serra, para acobertar os podres de ambos e para proteger os tiranos tucanos quando alguém os critica.
O TJSP e o Ministério Público local também parecem ter jurado lealdade total e incondicional ao tucanato paulista. Nenhum tucano graúdo é denunciado ou condenado e até os PMs assassinos parecem estar ganhando “carta branca” para manchar a periferia de sangue. Ao invés de governar para o povo e com o povo, os tucanos declararam guerra a uma parcela do povo. Em São Paulo, os “menos paulistas” não têm direitos constitucionais, nem segurança. Segundo alguns, eles não deveriam nem mesmo ter direito a voto, pois elegeram Haddad prefeito das ciclovias.
A quem serve o governo tucano? Geraldo Alckmin, José Serra e quadrilha ilimitada são os fiéis escudeiros dos “mais paulistas”, daqueles que toleram os abusos financeiros dos tucanos, aplaudem a violência da PM quando essa dispersa manifestações e, sobretudo, desejam “esquadrões da morte” atuando nas periferias. O poder tucano representa os cidadãos exemplares que consomem propaganda como se fosse notícia e destilam seu ódio racial contra negros e nordestinos (vítimas preferidas dos PMs e dos esquadrões da morte) através de comentários no Twitter e no Facebook.
A elite do esgoto governa com mão de ferro um esgoto chamado São Paulo. E o silêncio obsequioso do Ministério Público Federal, confortavelmente instalado em seu luxuoso prédio em Brasília, é a cereja no bolo de merda que os “menos paulistas” são obrigados a engolir à medida que a CF/88 vai sendo diariamente rasgada em São Paulo."
FONTE: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/memorias-do-esgoto-paulista-por-fabio-de-oliveira-ribeiro).
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