sexta-feira, 27 de novembro de 2015

DEPOIS DAS DIVULGAÇÕES SELETIVAS, AS INVESTIGAÇÕES SELETIVAS





Depois da divulgação seletiva as investigações seletivas


Por J. Carlos de Assis, jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ 

"Se as gravações que levaram à prisão do senador Delcídio Amaral são indício de crime, então elas deveriam ter sido usadas para rastrear todas as pessoas que foram citadas nelas, notadamente os quatro ministros do Supremo Tribunal Federal. Se elas não são indícios de crime, então seriam um blefe do senador Delcídio: ele estaria prometendo o que não pode cumprir, especialmente contatos com os ministros, fugas, habeas corpus, mesadas. Ora, se foi apenas um blefe, não foi crime. Se não foi crime, ele não poderia ser preso.

Considere, agora, a delicada posição do ministro Teori Zavascki: ele é o encarregado de examinar em primeira mão a acusação do procurador geral Rodrigo Janot contra Delcídio, da qual a peça central são as afirmações onde aparecem seu ilustre nome, junto com os dos ministros Gilmar Mendes, Luiz Fachin e Dias Toffoli. Que constrangimento! Claro, ele não quer tomar uma decisão sozinho. Recorre rapidamente a uma turma do Supremo a qual, por unanimidade, decide mandar Delcídio e outros dois participantes da conversa para a cadeia, e ignorar o resto.

Vamos supor, agora, o caminho que uma investigação rigorosa teria seguido. Vou usar a analogia com uma investigação de terrorismo em Londres depois do 11 de setembro nos EUA. As investigações evoluíram a um ponto em que surgiram todos os indícios da preparação de um atentado em série contra aviões com destino aos EUA. Mas os policiais não tinham o quadro completo de participantes. Se se precipitassem na prisão dos suspeitos conhecidos, correriam o risco de espantar outros desconhecidos. Esperaram até o último momento. Só então entraram em operação.

No caso Delcídio, uma investigação imparcial no âmbito da Lava Jato teria que considerar a possibilidade de o senador ter entrado em contato com os ministros do Supremo para cumprir suas promessas, se elas foram para valer. A única forma de fazer isso seria grampear os telefones do Senador e dos ministros. Era da órbita de responsabilidades do procurador geral da República ter pedido isso; a quem, não sei, porque todo o Supremo estaria bichado. Se não fez, é porque considerou as afirmações de Delcídio nas gravações um blefe. Se era um blefe, por que levou a sério as demais, ao ponto de ver nelas um “componente diabólico”? Seria por causa dos quatro diabos?"


FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do recém lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, ed. Textonovo, SP. Publicado no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/depois-da-divulgacao-seletiva-as-investigacoes-seletivas-por-j-carlos-de-assis).

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