Por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor
"Parece uma competição para ver quem primeiro consegue prender Lula. Em busca da fama, provavelmente porque caçar o ex-presidente operário se tornou o melhor passaporte para chegar ao estrelato, o procurador paulista Cássio Conserino decidiu competir com seus colegas paranaenses para conquistar antes deles o grande troféu desejado por todos: a prisão do líder petista. E mesmo depois do puxão de orelhas do Conselho Nacional do Ministério Público, que o deixou com cara de tacho, denunciou e pediu a prisão preventiva do ex-presidente, de forma açodada para passar à frente da Operação Lava-Jato, sem absolutamente nada que pudesse justificar a medida cautelar. Calçou seu pedido com um verdadeiro libelo político, sem nenhum fundamento jurídico, o que parece ter indignado até mesmo – pasmem! – o pessoal da "Globo".
Na entrevista coletiva para explicar a denúncia contra o ex-presidente, Conserino, com pinta de galã de novela mexicana, acabou escorregando justamente no seu principal argumento para incriminar Lula: a propriedade do tríplex do Guarujá. Depois de insistir que ele era de fato o dono do imóvel, baseado apenas no testemunho de pessoas que trabalhavam no prédio (já que a documentação comprova a propriedade da OAS), o procurador disse que o ex-presidente DESISTIU da compra do apartamento em 2015. Ora, se desistiu obviamente ele não é o dono. Conserino, no entanto, conseguiu os seus 15 minutos de fama, pois apareceu nos telejornais de todas as emissoras de televisão. Infelizmente, porém, ele ficará mesmo famoso por ter tentado prender um ex-Presidente da República por um capricho de criança mimada, pois nenhum magistrado atenderia seu pedido baseado em sua tola argumentação política.
A reação contra o pedido do procurador paulista foi registrada até mesmo entre oposicionistas, tamanha a fragilidade dos seus argumentos e a sua escandalosa conotação política. O renomado jurista Dalmo Dallari chegou a dizer que ele afrontou as leis e desmoralizou o Ministério Público. Por sua vez, o governador Flavio Dino, do Maranhão, que também é juiz federal, disse que o pedido "não tem a menor consistência técnica, sendo pura sociedade do espetáculo", acrescentando: "Não se trata de defender o ex-presidente Lula, mas a Constituição e o Estado de Direito".
E ironizou, dizendo que "em breve alguém vai pedir a prisão preventiva dela, da Constituição".
O fato é que afora a fama que vem perseguindo desde que antecipou à revista "Veja" o seu projeto de prender Lula, Conserino acabou conseguindo ficar mal na foto, pois não sensibilizou ninguém, nem mesmo a mídia que apoia qualquer iniciativa destinada a atingir o ex-presidente operário. Resta saber, agora, se os escalões superiores do Ministério Público vão continuar de braços cruzados, assistindo aos desmandos desse rapaz, que não parece ter maturidade e equilíbrio suficientes para conduzir esse processo, até porque, afora ilações e interpretações, não existe absolutamente nada que possa incriminar o líder petista.
Independentemente, porém, da tentativa do procurador paulista de forçar a barra, mesmo não conseguindo esconder suas paixões políticas – provavelmente o mesmo mal que levou o juiz Sergio Moro a determinar a condução coercitiva do ex-presidente – é preciso atentar-se para o momento de ebulição porque passa o país, onde parece que agora, diante das perspectivas sombrias de confrontos nas ruas, todos decidiram buscar um caminho para solucionar a crise política e econômica em que mergulharam o Brasil. Enquanto oposicionistas mais radicais insistem no impeachment da Presidenta, esperando obter nas ruas o apoio de que precisam para a sua aprovação pelo Congresso, os mais moderados acreditam que a implantação do Parlamentarismo seria uma solução menos traumática, pois não tiraria Dilma do Palácio do Planalto, apenas reduziria os seus poderes, que passariam a ser exercidos pelo Primeiro Ministro. O projeto, porém, parece que não tem as simpatias da mídia.
Aparentemente, os caçadores de Lula, com seus exageros em iniciativas que levantaram as forças populares até então se fingindo de mortas, acabaram despertando os enceguecidos opositores do governo que, temendo o pior, resolveram se unir com os mais moderados em busca de soluções pacíficas. Tem-se a impressão de que, depois do fiasco de Moro e de Conserino na perseguição ao ex-presidente operário, além do desgaste natural do insistente noticiário em torno do tríplex e do sitio de Atibaia, a grande mídia deverá focar a partir de agora na movimentação das forças políticas para o encontro de uma solução negociada para os problemas nacionais. As manifestações contra a imprensa, especialmente as tentativas de agressão a jornalistas da "Globo", por outro lado, também devem contribuir para uma nova postura dos veículos de comunicação de massa, porque refletem o cansaço diante do noticiário diário sobre o mesmo assunto e, principalmente, a indignação diante das notícias distorcidas, que evidenciam o engajamento político da mídia.
Vale destacar, ainda, o importante papel desempenhado pelas redes sociais, em especial pelos blogs, que passaram a oferecer uma nova opção de informação para os leitores, hoje não mais escravizados ao noticiário uniforme da imprensa familiar. Graças aos blogueiros, muitas informações escondidas pela grande mídia chegam hoje ao conhecimento dos internautas, reduzindo em muito a força antes enfeixada pela imprensa tradicional, que até então era considerada o quarto poder. O equilíbrio de forças mudou tanto que, surpreendentemente, a toda poderosa "Globo" se viu obrigada a dar explicações aos blogueiros sobre a mansão de Paraty. E, contrariando a sua defesa da liberdade de expressão, volta e meia mobilizando entidades de classe de jornais, emissoras de rádio e televisão e até de jornalistas em apoio à sua posição, agora tenta amordaçar os blogs, num reconhecimento tácito do poder das redes sociais. Ou seja, para os Marinho a liberdade de imprensa só deve valer para eles. Ainda bem que eles não são os donos da Internet.
De qualquer modo, tudo leva a crer que o país começará a respirar um clima mais ameno a partir de agora, com os radicais – inclusive a mídia – se mostrando mais moderados, talvez nem tanto pelo desejo de contribuir para a pacificação da Nação mas, sobretudo, porque se desgastaram muito no comportamento obsessivo pela derrubada da presidenta Dilma Roussef e pelo afastamento de Lula do cenário político. Os políticos, ao que parece, estão começando a fazer a sua parte no processo de restauração da paz nacional, assim como o governo, restando ao Judiciário também fazer a sua, contendo os excessos dos magistrados que, deixando de lado o seu papel jurídico, enveredaram pelo caminho político, estranho às suas atividades. Se cada um, portanto, fizer a sua parte, o Brasil retoma o caminho do desenvolvimento, voltando a ocupar a sua posição como uma das grandes nações do mundo."
FONTE: escrito por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor. Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/220679/Os-males-que-podem-trazer-um-grande-bem.htm).
"Parece uma competição para ver quem primeiro consegue prender Lula. Em busca da fama, provavelmente porque caçar o ex-presidente operário se tornou o melhor passaporte para chegar ao estrelato, o procurador paulista Cássio Conserino decidiu competir com seus colegas paranaenses para conquistar antes deles o grande troféu desejado por todos: a prisão do líder petista. E mesmo depois do puxão de orelhas do Conselho Nacional do Ministério Público, que o deixou com cara de tacho, denunciou e pediu a prisão preventiva do ex-presidente, de forma açodada para passar à frente da Operação Lava-Jato, sem absolutamente nada que pudesse justificar a medida cautelar. Calçou seu pedido com um verdadeiro libelo político, sem nenhum fundamento jurídico, o que parece ter indignado até mesmo – pasmem! – o pessoal da "Globo".
Na entrevista coletiva para explicar a denúncia contra o ex-presidente, Conserino, com pinta de galã de novela mexicana, acabou escorregando justamente no seu principal argumento para incriminar Lula: a propriedade do tríplex do Guarujá. Depois de insistir que ele era de fato o dono do imóvel, baseado apenas no testemunho de pessoas que trabalhavam no prédio (já que a documentação comprova a propriedade da OAS), o procurador disse que o ex-presidente DESISTIU da compra do apartamento em 2015. Ora, se desistiu obviamente ele não é o dono. Conserino, no entanto, conseguiu os seus 15 minutos de fama, pois apareceu nos telejornais de todas as emissoras de televisão. Infelizmente, porém, ele ficará mesmo famoso por ter tentado prender um ex-Presidente da República por um capricho de criança mimada, pois nenhum magistrado atenderia seu pedido baseado em sua tola argumentação política.
A reação contra o pedido do procurador paulista foi registrada até mesmo entre oposicionistas, tamanha a fragilidade dos seus argumentos e a sua escandalosa conotação política. O renomado jurista Dalmo Dallari chegou a dizer que ele afrontou as leis e desmoralizou o Ministério Público. Por sua vez, o governador Flavio Dino, do Maranhão, que também é juiz federal, disse que o pedido "não tem a menor consistência técnica, sendo pura sociedade do espetáculo", acrescentando: "Não se trata de defender o ex-presidente Lula, mas a Constituição e o Estado de Direito".
E ironizou, dizendo que "em breve alguém vai pedir a prisão preventiva dela, da Constituição".
O fato é que afora a fama que vem perseguindo desde que antecipou à revista "Veja" o seu projeto de prender Lula, Conserino acabou conseguindo ficar mal na foto, pois não sensibilizou ninguém, nem mesmo a mídia que apoia qualquer iniciativa destinada a atingir o ex-presidente operário. Resta saber, agora, se os escalões superiores do Ministério Público vão continuar de braços cruzados, assistindo aos desmandos desse rapaz, que não parece ter maturidade e equilíbrio suficientes para conduzir esse processo, até porque, afora ilações e interpretações, não existe absolutamente nada que possa incriminar o líder petista.
Independentemente, porém, da tentativa do procurador paulista de forçar a barra, mesmo não conseguindo esconder suas paixões políticas – provavelmente o mesmo mal que levou o juiz Sergio Moro a determinar a condução coercitiva do ex-presidente – é preciso atentar-se para o momento de ebulição porque passa o país, onde parece que agora, diante das perspectivas sombrias de confrontos nas ruas, todos decidiram buscar um caminho para solucionar a crise política e econômica em que mergulharam o Brasil. Enquanto oposicionistas mais radicais insistem no impeachment da Presidenta, esperando obter nas ruas o apoio de que precisam para a sua aprovação pelo Congresso, os mais moderados acreditam que a implantação do Parlamentarismo seria uma solução menos traumática, pois não tiraria Dilma do Palácio do Planalto, apenas reduziria os seus poderes, que passariam a ser exercidos pelo Primeiro Ministro. O projeto, porém, parece que não tem as simpatias da mídia.
Aparentemente, os caçadores de Lula, com seus exageros em iniciativas que levantaram as forças populares até então se fingindo de mortas, acabaram despertando os enceguecidos opositores do governo que, temendo o pior, resolveram se unir com os mais moderados em busca de soluções pacíficas. Tem-se a impressão de que, depois do fiasco de Moro e de Conserino na perseguição ao ex-presidente operário, além do desgaste natural do insistente noticiário em torno do tríplex e do sitio de Atibaia, a grande mídia deverá focar a partir de agora na movimentação das forças políticas para o encontro de uma solução negociada para os problemas nacionais. As manifestações contra a imprensa, especialmente as tentativas de agressão a jornalistas da "Globo", por outro lado, também devem contribuir para uma nova postura dos veículos de comunicação de massa, porque refletem o cansaço diante do noticiário diário sobre o mesmo assunto e, principalmente, a indignação diante das notícias distorcidas, que evidenciam o engajamento político da mídia.
Vale destacar, ainda, o importante papel desempenhado pelas redes sociais, em especial pelos blogs, que passaram a oferecer uma nova opção de informação para os leitores, hoje não mais escravizados ao noticiário uniforme da imprensa familiar. Graças aos blogueiros, muitas informações escondidas pela grande mídia chegam hoje ao conhecimento dos internautas, reduzindo em muito a força antes enfeixada pela imprensa tradicional, que até então era considerada o quarto poder. O equilíbrio de forças mudou tanto que, surpreendentemente, a toda poderosa "Globo" se viu obrigada a dar explicações aos blogueiros sobre a mansão de Paraty. E, contrariando a sua defesa da liberdade de expressão, volta e meia mobilizando entidades de classe de jornais, emissoras de rádio e televisão e até de jornalistas em apoio à sua posição, agora tenta amordaçar os blogs, num reconhecimento tácito do poder das redes sociais. Ou seja, para os Marinho a liberdade de imprensa só deve valer para eles. Ainda bem que eles não são os donos da Internet.
De qualquer modo, tudo leva a crer que o país começará a respirar um clima mais ameno a partir de agora, com os radicais – inclusive a mídia – se mostrando mais moderados, talvez nem tanto pelo desejo de contribuir para a pacificação da Nação mas, sobretudo, porque se desgastaram muito no comportamento obsessivo pela derrubada da presidenta Dilma Roussef e pelo afastamento de Lula do cenário político. Os políticos, ao que parece, estão começando a fazer a sua parte no processo de restauração da paz nacional, assim como o governo, restando ao Judiciário também fazer a sua, contendo os excessos dos magistrados que, deixando de lado o seu papel jurídico, enveredaram pelo caminho político, estranho às suas atividades. Se cada um, portanto, fizer a sua parte, o Brasil retoma o caminho do desenvolvimento, voltando a ocupar a sua posição como uma das grandes nações do mundo."
FONTE: escrito por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor. Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/220679/Os-males-que-podem-trazer-um-grande-bem.htm).
Nenhum comentário:
Postar um comentário