quarta-feira, 22 de julho de 2009

LULA DEFENDE EXPANSÃO DO BB PARA OUTROS PAÍSES

PRESIDENTE COBROU QUE O BANCO FACILITE O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o Banco do Brasil seja uma multinacional financeira. Em reunião ontem com o conselho diretor da instituição, Lula pediu que o banco tenha presença expressiva nos principais parceiros comerciais do Brasil e citou América Latina, China e África. Elogiou a recente ação do BB que aumentou a oferta de crédito e adquiriu outras instituições. Ele pediu ainda que a diretoria continue com essa estratégia para ajudar na reação da economia.

A uma plateia lotada com dezenas de executivos do BB de todo o País, Lula cobrou que o banco seja um instrumento para facilitar o comércio exterior brasileiro. Deu como exemplo a China. No país asiático, que desbancou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil, o BB tem só um escritório de representação. Para Lula, é preciso ampliar as frentes de atuação naquele mercado com a instalação de agências.

O mesmo se aplica à Venezuela e Uruguai. “Não queremos apenas um Banco do Brasil, mas um banco do nosso continente, com a alma brasileira, mas com a forma latino-americana. Por que só os bancos estrangeiros podem ser grandes e a gente não?”, provocou.

A cobrança de Lula deve acelerar os planos de internacionalização do banco. Hoje, o BB trabalha para transformar escritórios que mantém no México, Uruguai e Venezuela em agências. Nos três casos, a transformação deve acontecer ainda este ano. Na China, a abertura de uma agência é mais difícil.

Lula elogiou a aquisição de outras instituições financeiras, como o Banco Votorantim, que permitiu a entrada em um nicho ainda inexplorado: o financiamento de carros. Agora, a nova frente é o crédito imobiliário. “Só a Caixa Econômica não vai dar conta do que vai acontecer nos próximos anos. Vamos ser sócios, o BB e a Caixa, porque senão não acompanharemos o crescimento (do mercado).”

Para Lula, se o BB não atua em segmento importante, o caminho é adquirir a concorrência. “Vamos comprar a expertise”, sugeriu. Ao deixar o encontro, o presidente do BB, Aldemir Bendine, disse que continua atento. “Mas, no momento, não vemos nenhuma boa oportunidade.”

Lula aproveitou para criticar as privatizações no setor ocorridas na década passada.

“Bancos tão importantes foram praticamente doados, como o Banespa que foi vendido a preço de nada. Jogou-se em cima dos bancos a irresponsabilidade dos governantes que gerenciavam ou, muitas vezes, usavam esses bancos para fazer caixa 2.” Em novembro de 2000, o espanhol Santander pagou R$ 7 bilhões pelo banco paulista, com ágio de 281% sobre o preço mínimo.

Em linha com as indicações do presidente da República, Bendine anunciou que o BB vai começar a operar um Fundo Garantidor de Operações de crédito em agosto. O fundo vai funcionar como um seguro, com o objetivo de reduzir juros para pequenas e médias empresas. Nos novos empréstimos, clientes pagam uma taxa que será revertida ao fundo. Em caso de inadimplência, os recursos serão usados para pagar a dívida.

Inicialmente, o fundo opera com R$ 650 milhões, sendo R$ 500 milhões do Tesouro e R$ 150 milhões do próprio BB.

Durante a reunião, Lula foi presenteado com um crachá de funcionário do BB. Ao agradecer, perguntou à plateia quais executivos presentes ingressaram como office boys no banco. Vários levantaram a mão.

“Se eu soubesse, não seria torneiro mecânico, seria office boy do BB. Inclusive, estou com vontade até de tomar um crédito consignado”, disse, tirando gargalhadas da plateia.”

FONTE: reportagem de Fernando Nakagawa, publicada no jornal “O Estado de São Paulo” em 21/07/2009.

Nenhum comentário: