terça-feira, 14 de julho de 2009

O FUTURO DA ENERGIA DO MUNDO DEPENDE DA PETROBRAS

O FÃ VIP DO PRÉ-SAL

“O banqueiro de investimento Matthew Simmons, um dos maiores especialistas do mundo em energia, diz que o futuro do setor depende da Petrobras - e de um barril de petróleo que custe 500 dólares

Para quem se acostumou a ver banqueiros no centro dos últimos escândalos financeiros de Wall Street, o americano Matthew Simmons é um sujeito fora do padrão. O banco de investimento que ele fundou há 35 anos, o Simmons & Co., é uma bem-sucedida butique especializada em assessorar empresas de petróleo e gás. Em vez de ir atrás de clientes ou estruturar negócios, seu dia a dia é pesquisar, a fundo, o setor de energia ao redor do mundo - isso significa viajar para visitar os campos de petróleo no Oriente Médio e na África, coletar detalhes sobre a produção e a demanda por gás e petróleo em diversos países e conhecer os executivos que tocam as principais empresas do mercado. Essa rotina o tornou um dos maiores especialistas no assunto. Eleitor do Partido Republicano - e sem o menor receio de assumir posições polêmicas -, Simmons ajudou a elaborar o atacado plano de energia do governo George W. Bush (que só fracassou, segundo ele, porque foi distorcido). Recentemente, suas atenções se voltaram para o Brasil, especificamente para a Petrobras. Para Simmons, a empresa é a "última esperança da indústria global de petróleo". "Companhias como Exxon e Shell estão em declínio. Hoje, a Petrobras é a única que tem condições de capitanear o aumento da produção mundial de petróleo", disse ele a

A euforia de Simmons com a Petrobras deve-se aos gigantescos poços de petróleo descobertos em 2008 na camada do pré-sal, que fica a mais de 6 000 metros de profundidade. Estimativas conservadoras apontam que esses reservatórios contêm cerca de 50 bilhões de barris de boa qualidade, o que colocaria as reservas brasileiras entre as dez maiores do mundo. A discussão que se trava desde o anúncio da descoberta é como a estatal conseguirá levantar capital para explorá-los. Simmons, porém, não vê isso como um grande problema - ao menos, não no médio prazo. "Os recursos virão da alta dos preços do petróleo, que ainda vão subir muito. Um barril a 150 dólares é barato", diz. Expoente de uma corrente de analistas que acredita que há menos petróleo no Oriente Médio do que se divulga, o banqueiro acredita que o preço do barril poderá chegar a 500 dólares nos próximos anos. "Ao contrário do que diz o senso comum, a alta do petróleo é ótima para a economia mundial", diz. "Só assim haverá como financiar pesquisas e a descoberta de reservas, que são vitais para evitar um colapso entre oferta e demanda."

Essa é a tese central de seu principal livro, Twilight in the Desert ("Crepúsculo no deserto", numa tradução livre), de 2005. Apesar de o livro ter se tornado uma obra de referência sobre o setor pela quantidade de dados e informações técnicas que apresenta, suas conclusões são criticadas com frequência. Para a Cambridge Energy Research Associates, tradicional consultoria americana que acompanha o setor por meio da análise de mais de 20 000 projetos, a produção mundial da commodity tem como crescer, no mínimo, até 2020. O banqueiro trava ainda uma inusitada aposta com o colunista John Tierney, do jornal The New York Times, sobre o preço do petróleo em 2010. Se o valor médio do barril ficar abaixo de 200 dólares, Tierney ganha 15 000 dólares; se ficar acima, Simmons leva o dinheiro.

Pirraças à parte, o fato é que o banqueiro também ficou na berlinda com o fracasso da política de energia de Bush. Simmons nunca teve um cargo formal no governo, mas participou ativamente do desenho do plano - que, segundo ele, estava correto ao enfatizar a necessidade de pesquisa e exploração de novas reservas, mas nunca foi implementado. "Depois dos ataques de 11 de setembro, a administração perdeu o foco." Medidas que haviam sido propostas pelo especialista, como o investimento em perfuração em áreas afastadas da costa americana, não saíram do papel. "O irônico é que o governo Obama deve fazer isso agora."

Filho de mórmons, Simmons cresceu no pequeno condado Davis, no estado de Utah. Seu pai era um empreendedor que comprou um pequeno banco, o Zions, e o transformou num conglomerado financeiro com 55 bilhões de dólares em ativos. Depois de viver décadas em Houston, Matt Simmons hoje passa boa parte do tempo trabalhando em casa, no litoral do pacato estado do Maine. Lá, ele toca um novo projeto - e, pela primeira vez, no campo da energia alternativa. Trata-se do desenvolvimento de um complexo de geração de energia eólica em alto-mar que, segundo Simmons, teria capacidade de suprir boa parte da demanda do estado. O projeto está sendo analisado pelo governo do Maine - e tudo indica que levará ao menos uma década para começar a produzir. "Quero levar essa ideia para outros estados americanos e países que tenham capacidade de gerar energia eólica, como o Brasil", diz. "Definitivamente, é algo que a Petrobras poderia fazer." Por enquanto, ninguém apostou contra a ideia.

FONTE: reportagem de Giuliana Napolitano publicada na revista EXAME e reproduzida no Blog “Fatos e Dados” em 09.07.2009.

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