"CHILE EM TEMPO DE RETROCESSO
Está se aproximando a posse do Presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera. Se alguém tinha dúvidas, o empresário que fez fortuna na época da sanguinária ditadura de Pinochet começa a colocar as suas cartas na mesa e pelo visto poderá se tornar em pouco tempo um substituto a altura do agora queimadíssimo Álvaro Uribe, o presidente da Colômbia que em anos passados era considerado uma figura vinculada ao narcotráfico. Mas como ele passou a fazer o jogo dos interesses estadunidenses na região, o passado de Uribe foi perdoado, mas não esquecido por uma parte dos colombianos.
Piñera segue uma trilha parecida. Ao anunciar os nomes das pessoas que comporão o seu gabinete que passará a governar o Chile a partir de 11 de março deixou bem claro a que veio. Na área econômica escolheu representantes da fina flor da direita econômica, conhecidos também como Chicago boys, pois fizeram seus cursos de pós-graduação na Universidade de Chicago, um dos baluartes do esquema neoliberal e tornaram-se ardorosos formuladores dos referidos princípios que levou muitos países latino-americanos para o buraco.
Podem imaginar o que vem por aí em matéria econômica. A simples indicação do Ministro da Fazenda, Juan Andrés Fontaine, um elemento vinculado ao centro de estudos Liberdade e Desenvolvimento que tem como fundador nada mais nada menos do que o Ministro da Fazenda do general Pinochet, Hernan Buch, já é por demais sintomático.
Com este time, Piñera vai tentar aprofundar o que os anteriores governos deixaram de fazer, inclusive, como foi prometido, a privatização de parte da estatal do cobre chileno.
Como se isso não bastasse, Piñera deverá provocar um retrocesso na área de direitos humanos. Apesar de no discurso de campanha ter tentado se dissociar do hediondo esquema da repressão do general Pinochet, dizendo até que votou contra a continuação do ditador em um plebiscito que resultou numa mudança de rota no esquema de dominação chileno, Piñera em um momento de novembro do ano passado, meio na calada da noite e sem a presença da imprensa, se reuniu com um grupo de 700 militares e fez promessas de atenuar eventuais processos contra criminosos implicados em violações de direitos humanos.
Para alguns analistas, Piñera fará o possível e o impossível para livrar a cara de bandidos, fardados ou não. Se terá êxito vai depender de uma série de fatores, inclusive da mobilização popular que deverá ocorrer para que a impunidade não se torne marca do presidente empresário. Não chega a ser surpresa tudo isso, até porque, por mais que diga ao contrário, Piñera deverá seguir o velho dito popular segundo o qual uma mão lava a outra. Afinal, como ele engordou na estufa da ditadura, não será de se estranhar que retribua o que o esquema Pinochet fez por ele.
Em outro país da América do Sul, o pequeno Uruguai, está tomando posse no dia 1 de março o Presidente Jose Pepe Mujica, o político que saiu derrotado na luta armada dos anos 60 e 70, deu a volta por cima e tornou-se a figura mais popular do seu país, elegendo-se para a chefia do Executivo. Seu governo dará ênfase à área da educação e concomitantemente ampliando o mercado de trabalho, até porque Mujica está cansado de saber que o discurso da educação sem a contrapartida aumento do mercado de trabalho se tornará apenas uma falácia e conversa para boi dormir. Pode até angariar votos, mas não resolve o problema, ficando apenas no discurso que hoje até os neoliberais utilizam.
Duas eleições completam o quadro sul-americano este ano. Uma, aqui mesmo, em outubro, quando mais de 120 milhões de brasileiros estarão escolhendo o sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva. E a outra, em setembro, a eleição para a Assembléia Nacional da Venezuela, onde desde já a direita apoiada por Washington tenta decretar a falência da Revolução Bolivariana.
No Brasil, vale assinalar um fato novo: cerca de 70 milhões de eleitores internautas vão estar a postos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos eleitorais. E destes 70 milhões , grande parte está na faixa etária entre 16 e 25 anos de idade. Por isso, esta será a eleição presidencial brasileira com mais intenso movimento na web, onde muita informação circula independente da grande mídia conservadora.
E, cá entre nós, quando o Presidente da Venezuela Hugo Chávez chama a atenção que o governo estadunidense vai se empenhar no sentido de no Brasil ganhar a direita, está apenas reafirmando o que muitos analistas já disseram.
E quando se fala em direita brasileira, automaticamente se associa o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que em oito anos de mandato fez tudo o que seu (mestre) Clinton mandou.
Ele, certamente, negará com veemência isso, mas escreverá em O Globo e em O Estado de S. Paulo sofisticadas defesas dos interesses do capital financeiro internacional, que nem José Serra, o candidato preferencial da direita, tem coragem de fazer."
FONTE: escrito por Mário Augusto Jokobskind, do semanário uruguaio Brecha, e postado no site "Direto da Redação", dos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araujo.
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