Cidade do Panamá, sob ataque-surpresa dos Estados Unidos
[OBS deste blog ‘democracia&política:
Em 12 de março de 2008, este blog, com dois meses de vida, elaborou a seguinte postagem:
O TERROR NO PANAMÁ POR “JUSTA CAUSA”
Transcrevo trecho (ligeiramente modificado):
“Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.
O pretexto oficial norte-americano para aquela violação de todos os princípios de convivência das nações foi, surpreendente e simplesmente, "prender o Presidente Noriega", então por eles acusado de ser corrupto, assassino e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão).
ex-Presidente Noriega
Mas para aquele fim, "prender Noriega", bastaria meia dúzia de agentes da CIA!...
Ficou evidente que os objetivos reais do grande ataque norte-americano, por terra, mar e ar, foram outros.
Um deles foi testar em ambiente real e noturno (e mostrar ao mundo, para também amedrontar) suas novas armas e seu mais moderno sistema de comando, coordenação e controle eletronicamente integrados.
Outro foi deixar claro que a América Latina era quintal dos EUA.
Também (e principalmente) visavam, com aquela operação, apagar, na prática, os “Tratados Carter-Torrijos” sobre a devolução do Canal do Panamá aos panamenhos que deveria (pelos tratados) ocorrer em 2000. Os tratados foram assinados em 1977. Com o fim dos entendimentos firmados (rasgando-os com a nova 'guerra'), os EUA voltariam a garantir para eles, sem maiores concessões aos interesses do Panamá, por intermédio do canal, as ligações entre as costas leste e oeste norte-americanas e a permanência das tropas e bases norte-americanas naquele país da América Central.
Com essas motivações, empregaram de surpresa, no bombardeio da capital panamenha enfeitada para o Natal, sem declarar guerra, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 24.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate moderníssimos, inclusive os então estreantes e caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares (detectores que nem existiam no Panamá). Aquele gigantesco ataque ao Panamá custou o equivalente a mais de um bilhão de dólares.
Morreram no ataque, segundo divulgado na época, 4.000 panamenhos.
Morreram mais panamenhos naquele inconcebível ataque terrorista oficial do que norte-americanos no ainda estranho atentado a Nova York em 11/09/2001, que causou grande trauma, revolta e comoção no Ocidente e serviu de passe-livre e pretexto para as mortíferas “guerras” petrolíferas dos EUA e Europa contra o Iraque (mais de um milhão de mortos) e contra o Afeganistão (Pipelinestão).
“Em prol da democracia” [sic], um novo presidente panamenho, Guilhermo Endara, foi logo posto no poder pelos EUA em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores, no dia seguinte à invasão. Pouco tempo depois, em 1993, Endara tinha menos de 10% de aprovação popular. Continuava, todavia, muito bem considerado e amparado pela “Casa Branca”.
O mundo e o Brasil, “convenientemente” informados por Washington via mídia internacional e nacional (sempre bem manipulada pelos EUA), aceitou docilmente e sem alardes aquela benemérita “Operação Justa Causa”, como a batizaram os norte-americanos (com irônico humor negro). Ocultaram. Não houve significativa repercussão negativa. Ninguém se comoveu com as centenas de civis mortos no ataque aos panamenhos.
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Por que recordo essa postagem? Porque li esta semana no “Vermelho” o seguinte artigo do jornalista Mauro Santayana, em seu blog:
O DESTINO DO PANAMENHO NORIEGA, AGENTE DA CIA
“Autorizada pelo governo norte-americano, que é o verdadeiro dono do prisioneiro, a França decidiu devolver ao Panamá o general Manoel Antonio Noriega, uma das figuras emblemáticas da criminalidade continental a serviço dos interesses norte-americanos. Tal como Somoza, Trujillo, Batista, Pinochet e outras figuras da mesma natureza sórdida, Noriega foi criado e amamentado pelos centros militares e serviços secretos dos Estados Unidos.
Recrutado pela CIA aos vinte e poucos anos, depois de se preparar em escola militar peruana –de Chorillos– Noriega frequentou a famosa Escola das Américas e o centro de operações psicológicas (leia-se, de torturas) em Fort Bragg, na Carolina do Norte. Sob a proteção de seus adestradores, ele foi, pouco a pouco, se tornando o homem forte do pequeno país da América Central, e, como Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, ditador de fato, mesmo quando a presidência era ocupada por seus prepostos de turno.
Todos os crimes cometidos por Noriega, entre eles os de tráfico de drogas (nesse caso, em parceria com a CIA, de acordo com sólidas acusações feitas pelo jornalista americano Gary Webb, em seu livro “Dark Alliance”) não somente foram tolerados. O dinheiro obtido com o tráfico de cocaína para os próprios Estados Unidos -em grande parte, transformada em crack, para o consumo dos viciados pobres de Los Angeles– serviu para armar os contra-revolucionários da Nicarágua, nas operações comandadas por Oliver North.
O caso Noriega é transparente. Ele prestou serviços sujos quando, em 1977, George Bush pai dirigia a CIA, e nos primeiros meses em que o republicano se tornou presidente dos Estados Unidos. Mas como os cães de fila costumam fazer, Noriega começou a rosnar fora do tom já em 1985, quando mandou assassinar o médico, jornalista e militante de esquerda Hugo Spadafora, provavelmente sem o prévio assentimento dos seus chefes ianques. A morte de Spadafora –pela qual terá que ser julgado no Panamá– é um ato brutal, mas não incomum entre os perpetrados pela extrema-direita. Ele foi preso por um esquadrão de extermínio, quando entrava clandestinamente em seu país, retornando da África. O chefe dos captores, Luis Córdoba, telefonou a Noriega, que se encontrava em Paris. O diálogo foi curto:
Córdoba – Pegamos o cão raivoso.
Noriega – E o que a gente faz com um cão hidrófobo?
Spadafora, que tinha apenas 45 anos, foi barbaramente torturado. Teve seus testículos esmagados e o decapitaram vagarosamente: ao ser encontrado o corpo, envolto em embalagem usada pelos correios americanos, os legistas verificaram que o estômago estava cheio de sangue, resultado da lenta degola.
Os americanos souberam do crime, mas nada fizeram contra Noriega, embora ele passasse a ser visto de forma suspeita, como todos os cães quando escapam da coleira. Só em 1988, quando veio a público o caso do financiamento da contrarrevolução da Nicarágua com o dinheiro do tráfico de drogas, em que estava envolvido Noriega, as autoridades começaram a inquietar-se. O Sub-Comitê do Senado para o Tráfico de Entorpecentes, presidido pelo Senador democrata John Kerry, fez duro libelo contra a leniência de Washington para com o ditador panamenho:
“A saga do general Noriega representa uma das mais sérias falhas da política externa dos Estados Unidos”. Nesse mesmo ano, George Bush, pai, foi eleito presidente. Ao mesmo tempo, Noriega não aceitou o resultado eleitoral em seu país, e “nomeou” um seu seguidor para a Presidência. Os Estados Unidos já haviam reconhecido Endara, seu inimigo, que se elegera e não conseguiu assumir. Ao empossar-se, Bush iniciou uma série de atos de represália contra Noriega que, de repente começou a rosnar ainda mais grosso, contra os ianques. A tensão durou todo o ano de 1989. Foi nesse momento que Bush decidiu invadir o Panamá, em uma operação condenada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, por 75 a 20 e 40 abstenções.
Em 20 de dezembro, as tropas norte-americanas estacionadas no Canal, com reforços enviados [dos EUA] pelo mar [e ar], invadiram o país, causando mais de três mil mortos, entre as pessoas mais pobres do país, que se dispuseram a defender Noriega. Noriega asilou-se na Nunciatura Apostólica, e Bush não teve dúvida: autorizou que as tropas cercassem a Nunciatura e tornassem infernal a vida de seus ocupantes, com música alta e estridente, holofotes poderosos, fogos de artifício. O núncio capitulou e entregou Noriega. Julgado nos Estados Unidos e, mesmo provada a sua subordinação remunerada à CIA, os juízes desdenharam a evidência, afirmando que uma coisa nada tinha a ver com a outra.
Noriega deveria ter deixado a prisão em 2007, mas a França pediu sua extradição, a fim de responder ao crime de lavagem de dinheiro da droga em bancos franceses. Depois de uma batalha jurídica que durou até o ano passado, a extradição foi concedida, com o aval de Hillary Clinton. Agora, os franceses resolveram entregá-lo ao Panamá, para que, ali, além de cumprir a pena de sete anos a que foi condenado em Paris, responda pela morte de Spadafora.
Desde que J. Edgar Hoover assumiu, em 1924, os serviços de repressão aos movimentos de esquerda nos Estados Unidos, os norte-americanos sempre se valeram do crime, organizado ou não, para os seus fins políticos. Nos anos 50, no auge de sua pujança, o FBI tinha quase 500 agentes encarregados de combater a esquerda e apenas 4 que se ocupavam do crime organizado, ou seja, da Máfia.
E a política externa dos Estados Unidos sempre cooptou a direita das forças armadas latino-americanas. Como reconheceu Roosevelt –que se valeu de Somoza para matar Sandino– Somoza era um completo “son of bitch”, mas era canalha deles, logo, usável, como usável foi, mais tarde seu filho, Tachito Somoza, misteriosamente “bazucado” em seu exílio no Paraguai, depois da vitória dos sandinistas na Nicarágua.
Noriega é o testemunho, ainda vivo, do que é a política externa dos Estados Unidos.”
FONTE: introdução deste blog ‘democracia&política’ e artigo de Mauro Santayana em seu blog, transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=161467&id_secao=7)[introdução (Obs) e imagens do Google adicionadas por este blog 'democracia&política'].
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