terça-feira, 20 de setembro de 2011

MÍDIA E OPOSIÇÃO: “DELENDA EST PETROBRAS” (Petrobras deve ser destruída)


“DELENDA PETROBRAS”

Por Fernando Brito

“A Folha de S. Paulo publicou ontem uma longa entrevista com o presidente da Petrobras e, claro, dá a ela o tratamento “normal” que a grande mídia dá à maior empresa brasileira: o de total hostilidade.

É apenas mais um momento do ímpeto furioso que se tem contra a principal ferramenta de desenvolvimento autônomo do Brasil. E é natural que Roma pense sempre no “Delenda Cartago” como tarefa essencial para seu império.

O título da Folha diz : Ação da Petrobras não vai dar retorno tão cedo, diz Gabrielli.

Só que não é isso o que diz o presidente da empresa.

E o que ele diz?

No curto prazo não daremos grande lucratividade, mas no longo prazo com certeza daremos lucratividade”.

É obvio que dizer que não haverá grande lucratividade não é o mesmo que dizer que “não vai dar retorno”.

Até porque – e isso fica bem claro – a empresa trabalha com um ativo de desenvolvimento longo, que é a exploração de petróleo.

E, neste tipo de atividade estratégica, a lógica não é a de uma fábrica de biscoitos.

Quando você olha para o passado verá isso. Se você pega os últimos dez anos, entre todas as empresas de petróleo do mundo, a que mais valorizou foi a Petrobras. Se pega os últimos cinco anos, a Petrobras é também a que mais se valorizou. Se pegar nos últimos três, não. Portanto, olhando para o passado e para o futuro, essa é uma empresa de longo prazo.”

A entrevista [da "Folha"] é, claramente, conduzida para tentar mostrar o que não existe: uma empresa em crise, crise provocada por seu “atrelamento” ao Governo e aos seus compromissos com a economia brasileira.

Mas acaba caindo em sua própria armadilha. Trouxe à tona um assunto sobre o qual vamos falar aqui nos próximos dias: a petroquímica.

E esse assunto remete diretamente ao que mais odeiam na atual condução da política de petróleo no Brasil, depois do fim da internacionalização das jazidas ao pré-sal: o refino de petróleo:

RepórterEstamos vendo uma grande concentração no setor de petroquímica no Brasil.

Pouca, eu diria.

RepórterPouca? Vai concentrar mais?

A indústria petroquímica é de empresas grandes, integradas às do petróleo. Não há espaço para empresas pequenas desintegradas. O que nós tínhamos [com as mudanças de FHC/PSDB] era um modelo equivocado, que por razões ideológicas impedia a Petrobras de entrar no setor.

RepórterQue razões ideológicas?

O Estado não podia entrar, só o setor privado podia entrar na indústria petroquímica, houve a privatização da Petroquisa. E a Petrobras foi proibida de entrar na petroquímica até 2003. Adquirimos 39% da Braskem, e por meio dela vamos crescer".

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Num próximo post, vamos tratar de um assunto de petroquímica que está, provavelmente, aí na sua geladeira: a garrafa PET, produzida com uma substância que custa ao Brasil meio bilhão de dólares em importações.

A lógica da mídia em relação à Petrobras é a mesma que se tem em relação ao Brasil: a de que devemos ser uma colônia exportadora de produtos primários e que empresas como a Petrobras e a Vale devem ser apenas canais eficientes para esse escoamento de nossa riqueza.”

FONTE: escrito por Fernando Brito no blog "Projeto Nacional" (http://blogprojetonacional.com.br/delenda-petrobras/).

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ÍNTEGRA DA TENDENCIOSA (antiPetrobras e antiBrasil) ENTREVISTA DA “FOLHA” COM O PRESIDENTE DA PETROBRAS:


            José Sergio Gabrielli

Petrobras não dará retorno no curto prazo, afirma Gabrielli

PRESIDENTE DA MAIOR EMPRESA DO PAÍS DIZ QUE AÇÃO ESTÁ SENDO PENALIZADA NO MERCADO FINANCEIRO E QUE GOVERNO NÃO REGULA O PREÇO DA GASOLINA

Por Eleonora de Lucena e Valdo Cruz, da “Folha de São Paulo”

"É preciso olhar o longo prazo. A indústria do petróleo não trabalha no curto prazo".

Com esse raciocínio, José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, avalia o impacto da crise internacional na dinâmica da empresa.

"No curto prazo não daremos grande lucratividade, mas no longo prazo com certeza daremos", afirma sobre o comportamento das ações.

Fala ainda da sua relação com a presidente Dilma: "Agora, ela como presidente da República, tenho que obedecê-la, não tenho que discutir com ela mais."

-Folha - Qual será o impacto da crise externa na Petrobras?


José Sérgio Gabrielli – Em janeiro de 2009, aumentamos investimentos e fomos para o mercado. A dúvida era se teríamos uma crise profunda.

O que se dizia então é o mesmo que se diz hoje: a indústria de petróleo não trabalha no curto prazo. Não há decisões que se tomem que tenham efeito em menos de quatro anos.

Se a demanda de petróleo não crescer nada, só para substituir o decréscimo na produtividade dos poços -de 7% a 10% ao ano- a produção vai aumentar.

-Em que o preço da gasolina defasado impacta na decisão da Petrobras de investimento? E em quanto está defasado?

No curto prazo, nada. O que importa para nós é o longo prazo. Se olharmos de 2002 para cá, o preço da gasolina no Brasil segue o preço internacional quase em linha. Em alguns momentos estamos acima, em outros abaixo.

-Estamos acima ou abaixo?

Hoje estamos abaixo.

-Quanto?

Depende do que você vai considerar que é o preço referencial. E cada dia muda.

-Qual é o ideal?

Cada dia muda. É um número que não significa absolutamente nada no curto prazo. Porque o preço do petróleo a cada momento muda.

Quem for trabalhar para a indústria baseado nisso para decisão de investimento está completamente despirocado.

-Dizem que o Sr. vem a Brasília sempre para falar de preço.

Mas eu não tenho que pedir preço. Teoricamente eu não tenho que pedir.

-Como não? O Sr. não tem que defender a empresa?

Pelo contrário. Não tenho que pedir nada porque o governo não regula preço no Brasil. Legalmente não tem regulação de preço.

-Legalmente, mas na prática... É decisão de governo.

É decisão de conselho da Petrobras.

-No qual o governo tem [maioria]...

O conselho da Petrobras, que se reúne todo o mês, define a estratégia de preço da empresa, que é ajustar o preço no longo prazo. Estou dizendo que, no longo prazo, vamos ajustar se o preço continuar do jeito que está.

-O Sr. enxerga a Petrobras no álcool de que tamanho?

Vamos sair de 5,3% do mercado para 12% até 2015. O maior produtor hoje tem 7,5%, a Shell/Cosan.

-Porque as ações da Petrobras sentem tanto?

Primeiro, porque todas as ações estão sentindo. Segundo, a Petrobras fez a maior capitalização da história mundial em 2010. Isto tem um custo. O fato é que, nesse período, as ações da Petrobras, que são das mais líquidas em Nova York e São Paulo, sofreram bastante.

Hoje, temos uma situação de penalização no curto prazo.

Quando você olha no futuro, do ponto de vista dos fundamentos, nenhuma empresa de petróleo apresenta a perspectiva de crescimento da Petrobras. Não baseada em sonho, mas em reservas comprovadas, contratos.

No curto prazo, não daremos grande lucratividade, mas no longo prazo com certeza daremos lucratividade.

Quando você olha para o passado verá isso. Se você pega os últimos dez anos, entre todas as empresas de petróleo do mundo, a que mais valorizou foi a Petrobras. Se pega os últimos cinco anos, a Petrobras é também a que mais se valorizou. Se pegar nos últimos três, não. Portanto, olhando para o passado e para o futuro, essa é uma empresa de longo prazo.

-Estamos vendo uma grande concentração no setor de petroquímica no Brasil.

Pouca, eu diria.

-Pouca? Vai concentrar mais?

A indústria petroquímica é de empresas grandes, integradas às do petróleo. Não há espaço para empresas pequenas desintegradas. O que nós tínhamos era um modelo equivocado, que por razões ideológicas impedia a Petrobras de entrar no setor.

-Que razões ideológicas?

O Estado [segundo os neoliberais demotucanos e sua mídia] não podia entrar, só o setor privado podia entrar na indústria petroquímica, houve a privatização da Petroquisa. E a Petrobras foi proibida de entrar na petroquímica até 2003. Adquirimos 39% da Braskem, e por meio dela vamos crescer.

- E o consumidor?

Ele não consome o produto dessas empresas. Consome da terceira geração.

-Mas quem compra...

A terceira e quarta geração compram desses produtores, que tendem a vender a preço internacional.

Temos uma economia aberta. A menos que você feche ou a Petrobras subsidie, que é o que alguns querem, o preço tem de ser internacional.

-E a polêmica da sua estada no hotel de José Dirceu?

Polêmica? O jornalista da "Veja" fez ilações sobre a minha presença lá. Eu não preciso dizer o que fui conversar com o meu amigo.

-O Sr. poderia estar lá falando sobre eleição?

Não vou dizer o que fui falar com meu amigo, não interessa, é conversa privada.

-Pretende disputar eleição?

Nesse momento, eleição de 2012, eu não serei candidato, estando ou não na Petrobras. Pode publicar de forma peremptória, não serei candidato em 2012. 2014 está muito longe para decidir.

-Qual é a sua visão sobre energia alternativa? Será sempre alternativa?

No mundo hoje, se somar as fontes primárias de energia, eólica, solar, geotermal, mais ondas, juntas, são 0,9% da matriz energética mundial. Se você fizer com que esse setor cresça dez vezes mais do que os outros, sairá de 0,9% para 9% em vinte anos. Portanto, não temos nenhuma ilusão de que energia alternativa vá ser substituta do petróleo, do gás e do carvão.

-Como é a sua relação com a presidente Dilma?

Uma relação de duas pessoas muito firmes e fortes. Nos conhecemos desde 2002, ela tem opiniões firmes, eu também tenho, nós nos gostamos muito, nos respeitamos muito, mas temos posições diferenciadas.

Agora, ela como presidente da República, tenho que obedecê-la, não tenho que discutir com ela mais.

-Os interesses da Petrobras nem sempre coincidem com os do governo?

Não é necessariamente isso. Temos divergências sobre tudo, várias coisas temos divergências.

-Tipo?

Futebol, música, casamento, importância das coisas. Divergências de orientação geral, estratégica não há.”

RAIO-X / JOSÉ S. GABRIELLI

IDADE: 62 anos

CARREIRA: Foi diretor Financeiro e de RI da Petrobras

FORMAÇÃO: Economia pela Universidade Federal da Bahia, com PhD pela Boston University

FAMÍLIA: É casado, com dois filhos

POR DENTRO DA PETROBRAS (No 1º semestre de 2011)

LUCRO LÍQUIDO: R$ 21,93 bilhões

EBITDA*: R$ 32,2 bilhões

RECEITA DE VENDAS: R$ 116,27 bilhões

INVESTIMENTOS: R$ 32 bilhões

(Fonte: empresa)

*Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização

FONTE: reportagem de Eleonora de Lucena e Valdo Cruz, da “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1909201111.htm) [título e entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

2 comentários:

Fluxo disse...

Por que a Petrobrás teve que capitalizar a Braskem? Por que não criou uma empresa própria na área de Petroquímica como antes? A Braskem é uma empresa do Grupo Odebrecht, que está entrando na área de defesa.Por mais que o petróleo deixe de ser usado como combustível, o que levará anos, muitos anos, a petroquímica estará em ascensão, sempre, nos próximos anos, nos próximos muitos anos. O PET, usado na fabricação de garrafas plásticas para embalar os mais diversos produtos (refrigerantes, óleo comestível, etc.. etc.. etc...), depende de importações de um dos seus constituintes básicos, o ácido tereftálico,fornecido por multinacional italiana, que fabrica o PET no Brasil e constituem cerca de 70% do valor do PET. O mercado brasileiro é dos mais promissores para tal produto, logo, investimentos nacionais nesse produto terão retorno. Só esperamos que o preço seja mais baixo que o importado. Ademais, hoje, permite-se que parte do plástico reciclado, no caso o PET, entre na cadeia produtiva de embalagens.

Unknown disse...

Fluxo,
A sua colocação, análise e questão me parecem corretas. Desconheço as outras "condições de contorno" que levaram a Petrobras a essa decisão. Sugiro postar esse questionamento no blog "Fatos e Dados", da Petrobras (ver lista "Recomendamos", na coluna à direita deste blog).
Maria Tereza