quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TENSÃO ENTRE EUA E ARÁBIA SAUDITA SÓ AGRAVA


“As crescentes tensões entre Arábia Saudita e Estados Unidos enfraqueceram uma das alianças mais antigas e efetivas do mundo, segundo observadores. A oposição de Washington à iniciativa para que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) reconheça [esta semana] a Palestina como Estado independente é apenas a última das discrepâncias com Riad que afetaram as relações.

Vivemos uma relação cada vez mais transacional”, disse Chas Freeman, ex-embaixador dos Estados Unidos na Arábia Saudita durante a primeira Guerra do Golfo em 1991.

Washington perdia credibilidade diante dos sauditas mesmo antes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, quando Israel ignorou os pedidos do governo de George W. Bush para que suspendesse a repressão à segunda "Intifada" (levante popular palestino contra a invasão e ocupação de suas terras por Israel), disse Freeman. O diplomata falou, no dia 12, em um fórum sobre as relações entre Estados Unidos e Arábia Saudita, realizado em Washington e copatrocinado pela “Fundação Carnegie para a Paz Internacional” e pelo “Centro de Pesquisa do Golfo”, com sede em Dubai.

O professor Gregory Gause, destacado especialista saudita na Universidade de Vermont, concorda. “As relações agora estão baseadas mais em interesses comuns do que em uma visão compartilhada do mundo. O que os mantém unidos é a falta de uma alternativa”, acrescentou.

A crescente tensão bilateral voltou à mesa, no dia 12, quando o príncipe Turki Al Faisal, ex-diretor das forças de inteligência sauditas e embaixador em Washington entre 2005 e 2007, publicou um artigo no jornal “The New York Times” intitulado “Vetar um Estado, perder um aliado”. Se Washington não apoia a iniciativa palestina para ser membro pleno da ONU, “a Arábia Saudita já não será capaz de cooperar com os Estados Unidos da mesma forma com faz historicamente”, escreveu.

Um veto norte-americano à iniciativa, alertou o príncipe, “não só teria profundas consequências negativas” para as relações entre Washington e Riad como também “afetaria as relações dos Estados Unidos com todo o mundo muçulmano, fortalecendo o Irã e ameaçando a segurança da região” do Oriente Médio.

As estreitas relações entre os dois países datam da década de 1930, mas se tornaram mais fortes após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) –quando o presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) declarou a defesa da Arábia Saudita como um interesse “vital para os Estados Unidos– e o começo da Guerra Fria. Os vínculos sempre dependeram de uma negociação básica de segurança em troca de petróleo.

Com exceção da participação saudita no embargo árabe de petróleo durante a guerra de outubro de 1973, os dois países cooperaram estreitamente em uma ampla gama de temas, particularmente nos anos 1980, quando Riad ajudou a financiar a chamada “Doutrina Reagan”, cujo objetivo era derrubar os supostos governos pró-soviéticos na América Central, África Austral e Afeganistão.

No começo da década de 1990, a Arábia Saudita serviu como plataforma de lançamento da campanha militar liderada pelos Estados Unidos para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, e Washington manteve uma significativa presença militar no reino até pouco depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Contudo, as relações sofreram vários golpes nos primeiros anos do governo Bush.

Além da decepção do então herdeiro da coroa e agora rei, Abdalá bin Abdulaziz, com Washington por sua incapacidade de controlar as ações israelenses nos territórios palestinos, o fato de 15 dos 19 sequestradores responsáveis pelos atentados do 11 de Setembro serem de nacionalidade saudita gerou uma tempestade de publicidade negativa e especulações sobre o possível apoio de Riad à rede radical islâmica Al Qaeda e a outros movimentos islâmicos.

A falta de resposta do governo Bush ao plano proposto por Abdalá para a paz com Israel, depois adotado pela Liga Árabe em sua cúpula de Beirute em 2002, e a invasão do Iraque liderada por Washington em 2003 agravaram as tensões bilaterais. Riad se opôs veementemente à incursão em solo iraquiano, pois temia –como de fato ocorreu– que a derrubada de Saddam Hussein (1979-2003) apenas fortaleceria ainda mais a influência regional do Irã.

Depois do 11 de setembro de 2001, apenas em um tema os dois países coincidiam: a cooperação antiterrorista e os esforços comuns para derrotar a Al Qaeda e outros movimentos islâmicos. “Não estão matando apenas terroristas, mas também estão atacando a ideologia do terrorismo. É uma área das relações que floresce”, disse Freeman. No entanto, outros tópicos continuam sendo motivos sérios de discórdia. Embora Obama tenha elogiado repetidamente a Iniciativa de Paz Árabe, como é conhecido o plano de Abdalá, não conseguiu convencer o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a aceitá-la como base das negociações com os palestinos. Novas tensões surgiram como consequência da Primavera Árabe.

Abdalá ficou decepcionado pela pressão de Obama sobre o presidente egípcio Hosni Mubarak para que renunciasse, e Washington e Riad chocaram-se publicamente sobre a repressão lançada pela monarquia sunita no Bahrein contra a população de maioria xiita, especialmente depois que dois mil soldados saudistas e dos Emirados Árabes Unidos foram enviados para apoiar o regime do rei Hamad.

A operação foi vista como o exemplo mais claro do que os analistas chamam de “agenda contrarrevolucionária” de Riad no Golfo. “Os Estados Unidos têm uma posição muito ambígua (sobre a Primavera Árabe), e creio que a relação com a Arábia Saudita não ajudou”, disse Marina Ottaway, especialista em democratização na Fundação Carnegie. “As diferenças (entre os dois países) sobre a direção da evolução política no mundo árabe estão se agravando”, alertou Freeman.

FONTE: publicado originariamente no “blog de Jim Lobe”  (http://www.lobelog.com/.), transcrito em “IPS/Envolverde” e no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=164187&id_secao=9) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

2 comentários:

Fluxo disse...

Aproveito a liberdade para postar uma notícia veiculada no sítio "DefesaNet", que se relaciona com o assunto tratado nesta postagem:

O governo de Barack Obama está montando bases secretas na África e na Península Arábica para realizar operações antiterroristas com aviões não tripulados contra a Al-Qaeda na Somália e no Iêmen, informa nesta terça-feira o jornal The Washington Post em sua edição digital.

Segundo o diário, que cita fontes oficiais do governo, uma dessas instalações está sendo construída na Etiópia, aliada dos Estados Unidos para a luta na Somália contra a milícia radical islâmica Al Shabab, ligada à Al-Qaeda.

Outra base se encontra nas ilhas Seychelles, no Oceano Índico, onde uma pequena frota de aviões não tripulados começará suas operações neste mês após uma "missão experimental" que provou que é eficaz vigiar a Somália de lá.

"Os militares americanos também dirigiram aviões não tripulados em direção a Somália e Iêmen desde bases no Djibuti", de acordo com o The Washington Post. Além disso, a CIA está construindo uma pista de aterrissagem secreta na Península Arábica para o uso de aviões não tripulados armados rumo ao Iêmen, acrescenta o periódico.

O jornal lembra que os Estados Unidos usaram aviões não tripulados para ataques letais em pelo menos seis países: Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen.

Unknown disse...

Fluxo,
Essa epidemia de mortíferos aviões não-tripulados norte-americanos impune e irresponsavelmente atacando em outros países, sem declaração de guerra, sem respeito à soberania sobre o espaço aéreo e sem qualquer respeito ao direito internacional é a consagração da lei do mais forte. "Eu tenho a força, eu quero, eu posso". É a degradação e o fim da civilização.
Maria Tereza