sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
A ‘BOA CONSCIÊNCIA’ DA FRANÇA
RECONHECER COMO GENOCÍDIO A MORTE DE ARMÊNIOS É OBRA DE POLÍTICOS OPORTUNISTAS PARA AGRADAR A [determinados] CIDADÃOS
Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
“Como compreender a decisão do Parlamento francês de definir algo que aconteceu há quase um século como “genocídio dos armênios pelos turcos”?
Do ponto de vista político, não faz sentido para a França um conflito com a Turquia -o mais importante país do Oriente Médio e uma potência emergente. Por que, então, esse testemunho oficial sobre algo que aconteceu, mas que hoje nada tem a ver com a França?
Só encontro uma explicação: trata-se de uma manifestação de "boa consciência" de uma França imperial para com seus cidadãos, que são homens e mulheres dotados de “elevados princípios morais”.
O que significa "boa consciência" nesse caso? Infelizmente, nada de bom. A dominação, o império, as muitas formas de exploração precisam sempre de “boa consciência”.
Precisam de boas razões morais para seus atos, ou, quando é impossível, exibir para todos sua consciência moral, neste segundo caso configurando-se a boa consciência.
A França, como Reino Unido e EUA, precisa dela porque seu livro de violência imperial com os povos da periferia e, em particular, com o Oriente Médio é longo e tenebroso.
Até a Segunda Guerra, esse imperialismo se manifestou por meio do sistema colonial.
Quando os povos da região lograram sua independência, o imperialismo francês e de seus associados ricos manifestou-se pontualmente pela guerra e, em geral, por meio do "soft power" -conselhos, ameaças e pressões sobre elites locais geralmente aliadas e corruptas.
O prontuário da França nessa matéria no Oriente Médio é lamentável, e é terrível na África. A África subsaariana é, na prática, uma colônia administrada por um banco central comum com sede em Paris.
A participação do governo francês no genocídio dos tutsis em Ruanda é algo que volta e meia é discutido na grande imprensa do país. Com grande pesar dos franceses.
Diante disso, a necessidade de “boa consciência” torna-se imperativa. Geralmente, ela se manifesta sob a forma de "soft power", sem conflito com os interesses nacionais do país: julgam-se os governantes dos países mais pobres pelos padrões de avanço cultural e político dos países ricos; e, com base nesse julgamento, criticam duramente como "autoritários" e "populistas" os governantes que ousam ser nacionalistas e estabelecer limites aos interesses de suas multinacionais.
Enquanto isso, os ditadores amigos são amavelmente esquecidos.
Sob essa forma, a boa consciência coincide com a lógica da dominação. Ela expressa os valores da democracia ao mesmo tempo em que atende a interesses considerados nacionais.
Mas há momentos em que coisa não é tão simples. Que é preciso pensar em termos dialéticos.
Dado que os cidadãos dos países ricos são exigentes em termos de princípios democráticos e de direitos humanos, políticos oportunistas aproveitam alguns momentos para apaziguar a boa consciência dos seus cidadãos com atos "heroicos". É o que acontece com o reconhecimento de genocídio dos armênios.
Nesse caso, o preço da boa consciência é uma decisão que não serve à Armênia, ofende a Turquia e não interessa à França. Mas apazigua ‘consciências culpadas’.”
FONTE: escrito por Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/23022-a-boa-consciencia-da-franca.shtml). [Segundo o Wikipedia: Luiz Carlos Gonçalves Bresser-Pereira (São Paulo, 30 de junho de 1934) é advogado, administrador de empresas, economista, cientista político. Foi ministro da Fazenda de 29 de abril de 1987 a 21 de dezembro do mesmo ano, durante o governo José Sarney. Foi ministro da Administração Federal e ministro de Reforma do Estado no 1° mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995–1998) e ministro da Ciência e Tecnologia nos 6 meses iniciais do 2° mandato] [imagem do Google e dados do Wikipedia sobre o autor adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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2 comentários:
Realmente es una vergüenza leer los comentarios de esta persona. No es posible creer que alguna vez haya sido funcionario de Brasil. Su desconocimiento del tema es absoluto y sólo habla desde una posición muy sospechosa de lobbysta turco. Un millón y medio de armenios muertos pesarán sobre su conciencia, a menos que le dé más valor a las libras turcas.
Jorge Rubén Kazandjian
Interpretei o texto de Luiz Carlos Bresser-Pereira como evidenciando a hipocrisia, a farsa, de a França agora condenar o genocídio dos armênios pelos turcos, ocorrido há um século, mas calar-se sobre todos os demais genocídios.
O artigo não trata de esconder ou refutar a morte de 1,5 milhão de armênios. Mas trata, indiretamente, da incoerência da omissão da França pela morte/assassinato de centenas de milhares de japoneses com as bombas atômicas (que visavam amedrontar os russos no pós-guerra; os japoneses já estavam derrotados, tratando da rendição), dos milhares de argelinos violentamente mortos pelos franceses, de centenas de milhares de iraquianos mortos pelos EUA e aliados, da omissão sobre os milhares de líbios mortos pela OTAN, de milhares de palestinos mortos por Israel etc, etc. Realmente, a França precisa apaziguar bem mais sua ‘consciência culpada’, mas duvido muito que ela tenha coragem de também condenar esses outros genocídios.
Maria Tereza
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