quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O PASSADO DO HAITI QUE DILMA VISITA

Ao lado do presidente Michel Martelly, a presidenta Dilma Rousseff participa de declaração à imprensa na primeira visita oficial ao Haiti. (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR, no Blog do Planalto: http://blog.planalto.gov.br/presidenta-reitera-cooperacao-com-o-haiti-e-anuncia-reducao-do-contingente-brasileiro-na-forca-de-paz-da-onu/


Por Eduardo Galeano, no blog do Emir Sader

“Os escravos negros do Haiti proporcionaram uma tremenda surra ao Exército de Napoleão Bonaparte; e em 1808 a bandeira dos livres se alçou sobre as ruínas.

Mas o Haiti foi, desde ali, um país arrasado. Nos altares das plantações francesas de açúcar se tinham imolado terras e braços, e as calamidades da guerra tinham exterminado um terço da população.

O nascimento da independência e a morte da escravidão, façanhas negras, foram humilhações imperdoáveis para os brancos donos do mundo.

Dezoito generais de Napoleão tinham sido enterrados na ilha rebelde. A nova nação, parida em sangue, nasceu condenada ao bloqueio e à solidão: ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia. Por ter sido infiel ao amo colonial, o Haiti foi obrigado a pagar à França gigantesca indenização. Essa expiação do pecado da dignidade, que esteve pagando durante um século e meio, foi o preço que a França lhe impôs para seu reconhecimento diplomático.

Ninguém mais o reconheceu. Nem a Grande Colômbia de Simon Bolívar, mesmo se ele lhe deveu tudo. Navios, armas e soldados o Haiti tinha lhe dado, com a única condição que libertasse aos escravos, uma ideia que não tinha ocorrido ao Libertador. Depois, quando Bolívar triunfou na sua guerra de independência, negou-se a convidar o Haiti ao congresso das novas nações americanas.

O Haiti continuou sendo o leproso das Américas.

Thomas Jefferson tinha advertido, desde o começo, que tinha que confinar a peste nessa ilha, porque dali provinha o mal exemplo.

A peste, o mau exemplo: desobediência, caos, violência. Na Carolina do Sul, a lei permitia prender qualquer marinheiro negro, enquanto o seu navio estivesse no porto, pelo risco de que pudesse contagiar a febre antiescravista que ameaçava a todas as Américas. No Brasil essa febre se chamava haitianismo.”

FONTE: escrito por Eduardo Galeano, no blog do Emir Sader. postado por Emir Sader no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=878) [título e imagens do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’].

5 comentários:

Probus disse...

SENSACIONAL esta visita do NOSSO país ao HAITI.

Nota 1000000000 para a Política Externa.

Mas, EU não engulo o Tony!!!!

Viva Marco Aurélio Garcia!!!!!!!!!!

Probus disse...

02/02/2012: Dilma, Cuba, Haiti e os telhados de vidro

Com declarações corajosas – propondo o debate a partir do centro de torturas que os EUA mantém na Base de Guantánamo - a mandatária brasileira honrou o Brasil, o povo brasileiro, não eximindo nosso país de um auto-exame, ao lembrar que todos têm telhado de vidro, até nós.

Por Beto Almeida

http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5438

Unknown disse...

Probus,
Também achei corretos e autênticos os posicionamentos dela. É engraçado, caricatural, ver a nossa mídia (e a de direita de outros países, como Espanha) melindrada por ela ter tocado no assunto Guantánamo.
Maria Tereza

Probus disse...

Oi Maria Tereza, não deixe de ler a postagem na íntegra do Beto Almeida

Unknown disse...

Probus,
Muito obrigada por indicar e enfatizar.
O artigo é ótimo. Já o copiei e deverei transcrevê-lo amanhã ou sábado.
Maria Tereza