sábado, 18 de julho de 2015

AS SEMELHANÇAS ENTRE A CRISE DE 1989 (COLLOR) E A ATUAL




As semelhanças entre a crise de 1989 e a atual

Por Luis Nassif

"O desfecho da crise política atual é sumamente curioso. E por desfecho não se imagine a manobra do “golpe paraguaio”, de promover o impeachment de Dilma. Só um completo sem noção – como Aécio Neves – para apostar nessa hipótese.

O enigma maior é como nascerá a terceira via do modelo político brasileiro.

No período democrático, o equilíbrio político se dava na polarização entre PTB e UDN e na mediação do PSD. No período militar, instituiu-se o bipartidarismo da Arena e do MDB.

Na redemocratização, o bipartidarismo foi amenizado pelas tentativas de Tancredo de montar o seu PSD.

O fracasso do governo Sarney, a desmoralização rápida das instituições existentes – todas correndo com voracidade atrás do butim, capitaneadas pelo PMDB - e o avanço econômico e social do país, romperam com esse modelo.

Da grave crise política da época, emergiram três fenômenos:

Um outsider, Fernando Collor.

Um novo bipartidarismo – representado pela ascensão do PT e pela reorganização de parte do PMDB em torno do PSDB, amenizado por um centrão, que em alguns momentos foi o DEM e em outros o PMDB.

A eclosão das manifestações democráticas de rua e de uma nova militância aparecendo, e o poder corrosivo dos grupos de mídia.

A crise atual tem semelhanças e diferenças com a crise da Nova República.

As semelhanças estão no vácuo político. De certo modo, marca o fim do modelo político que governou o país nos últimos 20 anos.

Os dois partidos hegemônicos – PT e PSDB – perderam-se em suas próprias contradições. “Mensalão” e “Lava Jato”, e o endosso às medidas ortodoxas de Dilma, feriram a fundo a mística do PT. E o PSDB não consegue articular um discurso coerente sequer: tornou-se um espaço de caciquismo estéril, sem ideias nem propostas.

Aí começam aflorar as contradições.

A primeira, é que Collor conseguiu cavalgar uma bandeira nova, que se tornaria hegemônica no mundo: o neoliberalismo de Reagan e Thatcher.

Hoje em dia, não se tem bandeiras nem internas nem importadas.

A segunda, é a ausência de figuras referenciais. Em 1989, tinha-se um Collor com seu discurso antimarajás e Lula emergindo das disputas épicas da Vila Euclides.

Além disso, havia uma base paulista – tanto no PSDB quanto no PT – trazendo a ideia da modernidade e do profissionalismo, de um lado, da participação popular do outro.

Hoje em dia, o epicentro da crise está em São Paulo, onde a política envelheceu muito mais agudamente do que em outros estados. Aqui, tornou-se o túmulo da política. O 'know how' paulista só funciona quando se trata de derrubar presidentes eleitos.

O PT ainda possui o trunfo da Fundação Perseu Abramo. Mas o enrijecimento da burocracia partidária dificulta qualquer assimilação de novas ideias.

O "Rede" foi uma tentativa de reorganização do liberalismo em torno de bandeiras modernas – das quais o PSDB definitivamente abriu mão.

Mas esbarra na falta de um nome nacional. Marina Silva definitivamente é muito fraca.

O PT ainda tem o nome de Lula. Mas a cada dia que passa, a saga de Lula torna-se um ponto cada vez mais distante para as novas gerações que estão chegando.

Haverá uma solução para o impasse, pois não existe vácuo de poder.

Mas quem disser que sabe qual será, estará mentindo."

FONTE: escrito por Luis Nassif no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/as-semelhancas-entre-a-crise-de-1989-e-a-atual).

COMPLEMENTAÇÃO

Como desatar o nó da sustentação de projetos que não têm apoio da mídia?

Por Margot Riemann (Comentário referente ao post acima "As semelhanças entre a crise de 1989 e a atual")

"Acrescento um dado à análise: Nas republicas democráticas, cabe aos partidos garantir a sustentação política dos governos. São a correia de transmissão entre o Estado e a sociedade, funcionando nos dois sentidos. Em nosso país, os partidos, em sua maioria (a exceção recente mais expressiva é o PT), são federações de caciques regionais com nenhum enraizamento popular. Daí que os governos têm problemas para legitimar-se, pois não contam com partidos que lhes deem sustentação.

Os recursos do clientelismo e da troca de favores tem tido a função de compensar essa dificuldade. Mas são recursos limitados, funcionam em pequenas cidades; em grandes metrópoles já fica complicado. Aí entram os meios de comunicação de massas. A mídia tem cumprido a função de esteio político dos governos da era democrática. Só que tem lado, apoia o liberalismo econômico, e governos desenvolvimentistas foram e são sistematicamente combatidos, caso de Vargas, João Goulart e recentemente Lula e Dilma.

Collor cavalgou o neoliberalismo e foi apoiado pela mídia, por isso conseguiu ser eleito, mesmo como 'outsider'. 

Mas como desatar o nó da sustentação política de projetos que não têm apoio da mídia?"

FONTE: escrito por Margot Riemann no comentário referente ao post "As semelhanças entre a crise de 1989 e a atual" publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/como-desatar-o-no-da-sustentacao-de-projetos-que-nao-tem-apoio-da-midia).

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