Lava a Jato, um processo sem testemunhas, só criminosos-delatores
Por Rogério Maestri
"É muito interessante a estrutura da Lava a Jato, ela tem se baseado somente no testemunho de criminosos delatores e até agora não apareceu nenhuma testemunha.
Julgamentos em geral sempre trabalham com testemunhas e que são essas pessoas não envolvidas diretamente nos crimes que, por ação própria voluntária, relatam o que presenciaram de um crime. Muitas vezes, o testemunho dessas pessoas não é totalmente voluntário, ou seja, a polícia ou o Ministério Público se depara com alguém que, apesar de não estar envolvida no crime, não se disponha espontaneamente em depor; intimada pela justiça, essa testemunha relata os fatos e leva luz ao processo. Essas testemunhas não voluntárias não se oferecem a depor muitas vezes por medo de represálias, ou por achar que o que ele sabia não era significativo para o processo ou até por simpatia ao réu. Logo esse testemunho tem que ser levado em conta, pois quem o faz não tem interesse direto na não revelação dos fatos criminosos.
Agora, o interessante é que, enquanto na maioria dos processos judiciais há muitos que a figura da testemunha é presente, no processo da Lava a Jato a figura dessa testemunha voluntária, ou mesmo parcialmente obrigada pela justiça a testemunhar, ainda não apareceu. Temos dezenas de processos em diversos momentos, desde o início até à promulgação da sentença e, em nenhum desses, apareceu uma testemunha significativa que ajudasse a justiça. Nenhum motorista ou secretária que transportavam propinas, nenhum engenheiro que vendo os faturamentos das obras tenha achado algo estranho, nenhum contador que tenha desconfiado em sua contabilidade a irregularidade de alguma ação, ou qualquer coisa do tipo.
Na Lava a Jato, temos um baseado em depoimentos de criminosos confessos que induzidos por seus advogados usam o instituto da delação premiada, ou seja, são criminosos confessos que, para aliviar suas penas, delatam outros criminosos. Porém, a validade desses testemunhos não é a mesma que de uma testemunha normal que não tenha nada a ganhar ou perder com seu depoimento. São o que no passado se chamavam alcaguetes ou pequenos criminosos em que, com alguma negociação, levavam alguma vantagem no seu testemunho.
O processo Lava a Jato mais parece uma ação contra uma organização criminosa em que cada um depõe a verdade que o incrimina menos. Seria como pegar todo o "comando vermelho" e premiar os chefes por estarem delatando seus subordinados ou companheiros de crime. Desses criminosos-delatores, que são réus confessos e que foram presos pela delação de outros, pode-se esperar tudo, principalmente daquilo que eles exerceram durante toda a sua ação pregressa, a mentira.
Um juiz da Suprema Corte disse, com ironia e precisão, que jamais tinha visto um processo com tantas delações-premiadas, deixando implícito que a origem dos testemunhos era de criminosos confessos. Ou seja, quem não teve o pudor de roubar milhões dos cofres públicos e escondê-los longe dos olhos dos outros, é de se esperar o pudor de não omitir nada? Quem diz que esses criminosos não estão escondendo comparsas que guardam parte de seu butim? Quem diz que esses criminosos não estão mentindo mais uma vez, delatando pessoas [de modo que] agrade seus acusadores?
São muitas perguntas que se pode fazer sobre a integridade de depoimentos de pessoas sem integridade nenhuma. E são muitas as perguntas sobre quem leva um prossesso somente lidando com criminosos.
Um criminoso-delator foi antes criminoso, e as circunstâncias levaram a serem delatores, porém quem garante que não continuam com a sua índole do início, a índole de um criminoso?"
FONTE: escrito por Rogério Maestri no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/rdmaestri/lava-a-jato-um-processo-sem-testemunhas-so-criminosos-delatores-por-rogerio-maestri).
"É muito interessante a estrutura da Lava a Jato, ela tem se baseado somente no testemunho de criminosos delatores e até agora não apareceu nenhuma testemunha.
Julgamentos em geral sempre trabalham com testemunhas e que são essas pessoas não envolvidas diretamente nos crimes que, por ação própria voluntária, relatam o que presenciaram de um crime. Muitas vezes, o testemunho dessas pessoas não é totalmente voluntário, ou seja, a polícia ou o Ministério Público se depara com alguém que, apesar de não estar envolvida no crime, não se disponha espontaneamente em depor; intimada pela justiça, essa testemunha relata os fatos e leva luz ao processo. Essas testemunhas não voluntárias não se oferecem a depor muitas vezes por medo de represálias, ou por achar que o que ele sabia não era significativo para o processo ou até por simpatia ao réu. Logo esse testemunho tem que ser levado em conta, pois quem o faz não tem interesse direto na não revelação dos fatos criminosos.
Agora, o interessante é que, enquanto na maioria dos processos judiciais há muitos que a figura da testemunha é presente, no processo da Lava a Jato a figura dessa testemunha voluntária, ou mesmo parcialmente obrigada pela justiça a testemunhar, ainda não apareceu. Temos dezenas de processos em diversos momentos, desde o início até à promulgação da sentença e, em nenhum desses, apareceu uma testemunha significativa que ajudasse a justiça. Nenhum motorista ou secretária que transportavam propinas, nenhum engenheiro que vendo os faturamentos das obras tenha achado algo estranho, nenhum contador que tenha desconfiado em sua contabilidade a irregularidade de alguma ação, ou qualquer coisa do tipo.
Na Lava a Jato, temos um baseado em depoimentos de criminosos confessos que induzidos por seus advogados usam o instituto da delação premiada, ou seja, são criminosos confessos que, para aliviar suas penas, delatam outros criminosos. Porém, a validade desses testemunhos não é a mesma que de uma testemunha normal que não tenha nada a ganhar ou perder com seu depoimento. São o que no passado se chamavam alcaguetes ou pequenos criminosos em que, com alguma negociação, levavam alguma vantagem no seu testemunho.
O processo Lava a Jato mais parece uma ação contra uma organização criminosa em que cada um depõe a verdade que o incrimina menos. Seria como pegar todo o "comando vermelho" e premiar os chefes por estarem delatando seus subordinados ou companheiros de crime. Desses criminosos-delatores, que são réus confessos e que foram presos pela delação de outros, pode-se esperar tudo, principalmente daquilo que eles exerceram durante toda a sua ação pregressa, a mentira.
Um juiz da Suprema Corte disse, com ironia e precisão, que jamais tinha visto um processo com tantas delações-premiadas, deixando implícito que a origem dos testemunhos era de criminosos confessos. Ou seja, quem não teve o pudor de roubar milhões dos cofres públicos e escondê-los longe dos olhos dos outros, é de se esperar o pudor de não omitir nada? Quem diz que esses criminosos não estão escondendo comparsas que guardam parte de seu butim? Quem diz que esses criminosos não estão mentindo mais uma vez, delatando pessoas [de modo que] agrade seus acusadores?
São muitas perguntas que se pode fazer sobre a integridade de depoimentos de pessoas sem integridade nenhuma. E são muitas as perguntas sobre quem leva um prossesso somente lidando com criminosos.
Um criminoso-delator foi antes criminoso, e as circunstâncias levaram a serem delatores, porém quem garante que não continuam com a sua índole do início, a índole de um criminoso?"
FONTE: escrito por Rogério Maestri no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/rdmaestri/lava-a-jato-um-processo-sem-testemunhas-so-criminosos-delatores-por-rogerio-maestri).
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