O que quer dizer o “neolegalismo” de Reinaldo Azevedo ["Veja" e "Folha"] diante da Lava Jato?
Por Fernando Brito
"É inevitável que se abra um sorriso irônico em quem, com um mínimo de percepção – embora, concordo eu, também algum masoquismo – lê os últimos posts do rotweiller (soi-disant) amoroso da direita, Reinaldo Azevedo e seu artigo de hoje na "Folha".
Azevedo, o furioso, tornou-se um arrojado crítico da Operação Lava Jato, até há pouco tempo tratada como “a salvação do Brasil”.
Transcrevo, para espanto do leitor, o que ele escreve [na "Folha"]:
"Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal, cada um por seu turno e, às vezes, em ações conjugadas, têm ignorado princípios básicos do Estado de Direito. Não é difícil evidenciar que prisões preventivas têm servido como antecipação de pena.
Mandados de busca e apreensão, como os executados contra senadores, um ano e quatro meses depois de iniciada a investigação, são só uma exibição desnecessária de musculatura hipertrofiada do poder punitivo do Estado. O desfile dos carrões de Collor –que nem ouvido foi– excita desejos justiceiros, não de Justiça."
E em seu blog, na "Veja", onde varou a noite escrevendo:
"Pergunto: é aceitável que um juiz impeça um depoente, especialmente em delação premiada, de citar nomes de políticos eleitos só para impedir o processo de mudar de instância?
(…)tivessem citado antes os respectivos nomes, o processo teria saído das mãos de Moro porque os dois parlamentares têm foro especial por prerrogativa de função — vale dizer: têm de ser investigados pelo Supremo. Nesse caso, não fica difícil demonstrar que houve, então, condução do processo — o que pode até ser causa de anulação. Reclamo desse procedimento há muito tempo."
De fato, reclamou, mas não por razões de natureza ética, apenas advertindo que se poderiam deixar brechas jurídicas pelas quais os malditos “petralhas” pudessem se valer.
“Tio Rei” é o resultado visível – e, no caso dele, de uma desnuda sinceridade – do que aconteceu com o conservadorismo brasileiro.
Jogou-se nos braços de um tipo como Eduardo Cunha, que da bajulação a PC Farias e farejador de “oportunidades” nos governos de Lula e no primeiro de Dilma, galgou a árdua escadaria que separa um pequeno escroque da direção, de fato, da vida do país.
Agora, aderida a ele, esperneia diante dos métodos – ele tem toda a razão nisso, pena que seja só agora que o revoltam – usados neste processo abjeto de transformação de bandidos em homens com credibilidade e o direito de espalhar ao vento da mídia as acusações sem um mínimo de provas.
Reinaldo e seus pares, agora, assustam-se com o que dizia D. Basilio, em "O barbeiro de Sevilha":
“A calúnia é um ventinho, um arzinho muito gentil que, insensível e sutil, ligeira e docemente, começa a sussurrar. Pouco a pouco, no assoalho rastejando sibilante, vai escorrendo, vai zumbindo nos ouvidos das pessoas, entra com destreza; E as cabeças e os cérebros atordoa e faz inchar. Boca afora vai saindo, cacareja e vai crescendo: ganha força pouco a pouco, corre canto a canto, qual trovão, e temporal que, no seio da floresta, assobia resmungando e faz de horror gelar. Afinal, derrama-se, volátil, esparramada e duplicada, em perfeita explosão, como a de um canhão, em terremoto, em vendaval, num tumulto geral que faz o ar chicotear. E o pobre caluniado, ofendido, repisado, em público flagelado, por bom motivo, sucumbe.”
Numa irônica inversão do clássico “os fins justificam os meios”, neste caso "os métodos determinaram o triste desfecho" de uma grave crise que jamais deveria ter sido elevada à política, porque o crime não pode dominá-la nem mesmo em nossas mentes, sob pena de tornar a política algo criminoso, tudo o que ela não pode nem deve ser.
É um drama que, se já não houvesse sido cantado na famosa ária “Ridi pagliaccio” (Vesti la Giubba), mereceria uma ópera algo bufa, que ameaça se tornar tragédia para todos os brasleiros.
PS. A propósito, o título da coluna de Azevedo, “Os filhos do PT comem seus pais” parece perfeito, mas para ele próprio, quando se lê os comentários da matilha que idolatrava o autor. Alguns, ao ponto de levar a risadas, como o que se inicia assim; “Sr. Reinaldo, a sua opinião de hoje está diferente das de outros dias, mas isso não vem ao caso.”
FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=28312).
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