quarta-feira, 8 de julho de 2015

OS TUCANOS E SUA CRISE HISTÓRICA




Os tucanos e sua crise histórica

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

"A amargura que dominou os líderes do PSDB após uma quarta derrota presidencial e os faz vomitar ódio e desejo de chegar ao poder de qualquer maneira (posse do derrotado, impedimento de Dilma, parlamentarismo, eleição antecipada etc...) é o sintoma de uma doença. Uma doença histórica e que tem suas raízes profundas na própria história do Brasil.

De 1964 a 1988, o Brasil passou por profundas modificações, com expansão e diversificação industrial, acréscimos na infraestrutura e abertura de vastos territórios virgens à exploração agrícola. Os militares, com sua rígida mentalidade hierárquica e anticomunismo rancoroso, se cercaram de burocratas e trataram muito mal os intelectuais de esquerda e suspeitos de serem de esquerda. Em razão disso, a Ditadura não foi capaz de historicizar seus próprios feitos. Todas as realizações do regime ficaram maculadas por aqueles que as registravam com um viés de reprovação em razão das torturas e exílios que sofreram.

Finda a Ditadura, tivemos um período complicado. A economia atolou na estagnação combinada com inflação. A política encontrava freios na sobrevivência das estruturas ditatoriais e no temor dos rosnados de um ou outro militar descontente com a democratização do país. 

Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular e rapidamente viu sua popularidade deteriorar em razão de ter bloqueado a poupança da população. Foi expulso do poder com ajuda dos barões da mídia que o haviam elevado à condição de salvador da pátria.

Itamar Franco fez o que lhe competia e passou o bastão para FHC. 

FHC, ex-exilado político que ganhou notoriedade durante um plano econômico que não concebeu, o líder tucano fez um governo neoliberal: com o apoio da imprensa, FHC privatizou o que podia privatizar e surfou na estabilidade monetária. Comprou a mudança da CF/88 para se reeleger e, no segundo mandato, foi obrigado a desvalorizar a moeda provocando sucessivas crises que levaram o Brasil três vezes ao FMI.

Lula foi eleito presidente encerrando definitivamente o ciclo neoliberal iniciado por FHC. Combinando a preservação da estabilidade monetária com valorização do mercado interno e o aumento das exportações em razão da construção de novos parceiros comerciais, o líder petista conseguiu produzir uma grande e duradoura expansão econômica que resultou em ganhos efetivos para a classe trabalhadora. Reeleito, Lula fez mais do mesmo e, apesar da oposição interna e da crise internacional, conseguiu evitar que o Brasil fosse novamente ao FMI. Ao contrário de FHC, desgastado por seus fracassos, Lula saiu da presidência gozando de grande prestígio em razão de seus sucessos.

A eleição de Dilma Rousseff causou grande abalo nas lideranças tucanas. A dívida externa é História para os brasileiros nascidos na última década. A inflação galopante deixou de existir. Há universidade para ricos e pobres. O desemprego é moderado e tende a estabilizar ou reduzir. O crescimento econômico é esperado pelos empresários alemães, japoneses e chineses que investem no Brasil. O petróleo do Pré-Sal é uma poupança que começa a ser sacada do fundo do oceano pela Petrobrás. As reservas cambiais do Brasil são consideráveis. As Forças Armadas estão sendo modernizadas. O Brasil adquiriu um status que nunca teve na arena internacional. A reeleição de Dilma Rousseff com méritos próprios produziu a vingança dos derrotados. No seu melhor momento, o país enlouquece, porque uma dezena de líderes oposicionistas quer governar sem ter ganhado a eleição.

O problema do PSDB, creio, é não conseguir fazer uma história positiva do período em que governou. O PT, por outro lado, tem sido bastante eficiente em contar a história das virtudes do governo Lula e em atribuir ao PSDB os deméritos do governo FHC. A maldição que se abate sobre os tucanos é, portanto, parecida com a que se abateu sobre os arquitetos da Ditadura. Mas ao contrário do PSDB, os militares foram capazes de sustentar seu poder pela força bruta. Os tucanos, por sua vez, não podem contar nem com a força bruta (pois FHC sucateou as Forças Armadas) nem com a exclusividade para historiar os feitos do governo do PSDB. É fato: dois candidatos presidenciais tucanos optaram por se afastar de FHC justamente porque ele representava um peso eleitoral negativo muito grande.

A crise a que Dilma Rousseff está sendo submetida é semelhante com a que foi imposta a Lula. Como não tem nem a capacidade de historiar seus feitos, nem de tomar o poder pela força, o PSDB vive da negativação das credenciais dos seus adversários. A Lava Jato é uma reedição do Mensalão do PT. Mas provavelmente não conseguirá dar aos tucanos o que eles desejam, pois o PSDB também está implicado no escândalo de corrupção da Petrobras. Além disso, o PT pode usar e certamente usará o escândalo do Metrô, o Swissleaks, a operação Zelotes e o escândalo da FIFA para manter seus adversários sob intensa pressão interna e internacional.

O “campo político” continuará conturbado e poluído pela crise histórica do PSDB, mas não creio que uma virada do jogo será possível. Dilma Rousseff não só terminará seu mandato como fará o sucessor, pois o tempo presente beneficia mais o PT do que poderia beneficiar o PSDB. A única alternativa para os tucanos é o terrorismo. Não o terrorismo judiciário e midiático (que já se provaram ineficazes), mas o terrorismo tradicional, aquele que foi praticado por Aloysio Nunes e Jair Bolsonaro no passado. Mas se optarem pelo caminho da violência, os oposicionistas só conseguirão uma coisa: legitimar intensa repressão estatal. "

FONTE: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/os-tucanos-e-sua-crise-historica).

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