quarta-feira, 7 de abril de 2010

A VERDADE NA IMPRENSA É INCONVENIENTE NOS EUA

"Mídia americana: a verdade caiu e levou a liberdade com ela

Hoje em dia os americanos são governados pela propaganda. Os americanos dão pouco valor à verdade, têm pouco acesso a ela, e têm pouca habilidade para reconhecê-la.

Por Paul Craig Roberts*

A verdade é uma entidade não bem-vinda. É perturbante. É de acesso interdito. Aqueles que falam verdade correm o risco de serem marcados como “antiamericanos”, “anti-semitas” ou “teóricos da conspiração”.

A verdade é inconveniente para o governo e para os grupos de interesses cujas contribuições de campanha controlam o governo.

A verdade é inconveniente para os procuradores, que querem ter condenações e não a descoberta da inocência ou da culpa.

A verdade é inconveniente para os ideólogos.

Hoje em dia, muitos que dantes tinham como objetivo a descoberta da verdade são agora generosamente pagos para escondê-la. “Economistas do mercado livre” são pagos para vender serviços de offshore ao povo americano. Alta produtividade, empregos americanos de alto valor acrescentado, são denegridos e classificados como velhos e sujos empregos industriais.

São relíquias de outros tempos, o melhor é livrarmo-nos delas. O lugar delas foi ocupado pela “Nova Economia”, uma economia mítica que alegadamente consiste em empregos de colarinho branco de alta tecnologia, nas quais os americanos inovam e financiam atividades que ocorrem em offshores. Tudo o que os americanos precisam para participar nesta “nova economia” são licenciaturas em finanças tiradas em universidades Ivy League e depois irão trabalhar em Wall Street em empregos de milhões de dólares.

Economistas que foram, em tempos, pessoas respeitáveis recebem agora dinheiro para alimentar este mito da “Nova Economia”.

E não são só os economistas quem vendem as almas pelos nojentos lucros. Recentemente, têm-nos falado de médicos que, por dinheiro, publicaram em jornais revistos por outros médicos das mesmas especialidades “estudos” forjados que enaltecem este ou aquele medicamento produzido por empresas farmacêuticas que pagaram pelos “estudos”.

O Conselho da Europa está a investigar o papel das empresas de drogas na publicidade enganosa na pandemia da falsa gripe suína com o fim de ganhar milhões de dólares nas vendas da vacina.

Os 'media' ajudaram a propaganda do aparelho militar norte-americano na sua recente ofensiva no Afeganistão ao descreverem Marja como uma cidade de 80.000 habitantes sob controle do taliban. Acontece que Marja não é uma cidade, mas um aglomerado de quintas agrícolas numa aldeia.

E ainda há o escândalo do aquecimento global, em que ONGS, as Nações Unidas e a indústria nuclear se conluiaram na manufatura de um cenário de Juízo Final para criar lucro na poluição.

Para onde quer que olhemos, a verdade vai ter ao dinheiro.

Onde quer que o dinheiro não seja suficiente para enterrar a verdade, a ignorância, a propaganda e as memórias curtas fazem o trabalho.

Lembro-me quando, seguindo o testemunho do diretor da CIA William Colby ante a Comissão Church em meados dos anos 70, o presidente Gerald Ford e Ronald Reagan emitirem ordens executivas para impedir que a CIA e os grupos “black-op” assassinassem lideres estrangeiros. Em 2010, Dennis Blair, responsável pela espionagem nacional, disse ao Congresso dos Estados Unidos, que agora os EUA assassinam os seus próprios cidadãos além dos líderes estrangeiros.

Quando Blair informou à Comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes que cidadãos dos EUA já não precisavam ser presos, acusados, julgados e condenados por crimes muito graves, apenas assassinados por suspeita de serem uma “ameaça”, ele não foi impugnado. Não se seguiu uma investigação. Não aconteceu nada. Não houve uma Comissão Church.

Nos meados dos anos 70, a CIA teve complicações devido a conspirações para matar Castro. Hoje, são cidadãos americanos que estão na lista para ser abatidos. Quaisquer objeções que se levantem não trazem consigo qualquer peso. Ninguém no governo se preocupa com assassínios de cidadãos norte-americanos pelo governo dos Estados Unidos.

Como economista, fico espantado que a profissão de economistas americanos não tenha qualquer tipo de consciência de que a economia dos EUA tenha sido destruída pelo recurso às operações de PIB americano em offshores estrangeiros. As empresas americanas, procurando vantagens absolutas ou custos mais baixos possíveis na mão-de-obra e os máximos “prêmios no desempenho” por diretores executivos, deslocaram a produção de bens e serviços do mercado americano para a China, Índia e outros sítios no estrangeiro. Quando leio economistas a descrever o recurso a offshores como mercado livre baseado em vantagem comparativa é que percebo que não há inteligência ou integridade na profissão americana de economistas.

Inteligência e integridade foram compradas por dinheiro. As empresas transnacionais ou globais dos EUA pagam pacotes de muitos milhões de dólares de compensações aos gerentes de topo que atingem estes “prêmios de desempenho” pela substituição de trabalhadores americanos por mão-de-obra estrangeira. Ao mesmo tempo em que Washington se preocupa com a “ameaça muçulmana” as empresas de Wall Street e os intrujões do “mercado livre” destroem a economia dos EUA e as esperanças de dezenas de milhões de americanos.

Os americanos, ou a maioria deles, têm provado ser massa de vidraceiro nas mãos do estado policial.

Os americanos reivindicam do governo que a segurança exige que se suspendam as liberdades civis e que o governo não tenha que prestar contas do que faz.. Surpreendentemente, os americanos, ou a maioria deles, acreditam que as liberdades civis, como habeas corpus e o seu processo, protegem “terroristas” e não eles próprios. Muitos acreditam também que a Constituição é um documento velho e cansado, que impede o governo de exercer o gênero de poderes de estado policial necessários para conservar a América 'segura e livre'…

É pouco provável que a maioria dos americanos escute alguém que lhes diga algo de diferente.

Fui editor associado e colunista do Wall Street Journal. Fui o primeiro colunista exterior dos “Negócios da Semana”, posição que desempenhei durante 15 anos. Fui colunista durante uma década no Scripps Howard News Service, que representava 300 jornais. Fui colunista no Washington Times e em jornais na França e Itália e numa revista na Alemanha. Fui colaborador do New York Times e escrevi regularmente no Los Angeles Times. Hoje, não consigo publicar ou ser mencionado nos “media dominantes” americanos.

Fui banido, nos últimos seis anos, dos “media dominantes”. A minha última coluna no New York Times apareceu em Janeiro de 2004 e teve como co-autor o Senador do Partido Democrático, Charles Schumer, representando Nova Iorque. Tratamos do assalto dos EUA às operações offshore. O nosso artigo, oposto à página editorial, resultou numa conferência na Brookings Institution em Washington e teve cobertura pelo C-Span (”Cable Satelite Public Affairs Network”). Teve lugar um debate. Hoje, isto não poderia ter acontecido.

Durante anos fui um pilar do Washington Times, criando credibilidade para esse jornal “Moony” (NT: jornal conservador fundado em 1982 pela Igreja da Unificação; criação de Sun Myong Moon) como colunista de “Negócios da Semana”, antigo editor do Wall Street Journal e ex-Secretário Adjunto do “Treasury”. Mas quando comecei a criticar as guerras de agressão de Bush a ordem para cancelamento da minha coluna foi dada a Mary Lou Forbes.

Os 'media' das empresas americanas não servem à verdade. Servem ao governo e aos grupos de interesses que mandam no governo.

O destino da América ficou selado quando o público e o movimento antiguerra compraram a teoria da conspiração do 11 de Setembro. A descrição pelo governo do 11 de Setembro é contrariada por muitas provas. Contudo, esse determinante acontecimento do nosso tempo, que lançou os EUA em guerras de agressão intermináveis e num estado policial, é um tópico tabu para investigação pelos 'media'. Não vale a pena queixarmo-nos da guerra e do estado policial quando aceitamos a premissa sobre a qual estão assentes.

Estas guerras de milhões de dólares criaram problemas de financiamento para os déficits de Washington e ameaçam o papel do dólar como moeda de reserva mundial. As guerras e a pressão que os déficits do orçamento põem no valor do dólar colocam a Segurança Social e os cuidados de saúde numa posição delicada. Goldman Sachs, ex-presidente, e Hank Paulson, Secretário de Finanças, procuram essas proteções para os idosos. O presidente federal Bernanke também. Os Republicanos também querem. A essas proteções chamam-lhes “direitos devidos”, como se fossem uma espécie de previdência social para o qual o povo não tenha pago em descontos nos salários durante toda a sua vida de trabalho.

Com mais de 21% de desemprego, medido pela metodologia de 1980, com os empregos nos EUA, o PIB e a tecnologia dada à China e à Índia, com a guerra a ser a maior responsabilidade de Washington, com o dólar sobrecarregado de dívida, com a liberdade civil sacrificada à “guerra ao terror”, a liberdade e a prosperidade do povo americano foram atiradas para o caixote do lixo da história.

O militarismo dos EUA e do Estado de Israel, a gula das empresas e de Wall Street, seguem agora o seu curso, Quando a caneta é censurada e o seu poder é extinto, retiro-me de cena…

FONTE:
escrito por Paul Craig Roberts. Foi editor do Wall Street Journal e Secretário-assistente do Tesouro dos EUA. Este texto foi publicado no "infowars.com" de 24 de Março de 2010. Publicado no portal "Vermelho" com tradução de João Manuel Pinheiro.

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