quinta-feira, 3 de julho de 2014

NADA SE EQUIPARA AO ÓDIO DA DIREITA





Elio Gaspari errou: nada se equipara ao ódio da direita

Por Paulo Nogueira, no "Diário do Centro do Mundo" 

"Um vídeo em que uma senhora septuagenária profere insultos copiosos ao comunobolivarianismo do PT me remeteu a um assunto sobre o qual eu queria falar já faz alguns dias.

O tema é o ódio político.

Num artigo, Elio Gaspari disse que o PT não tinha moral para falar em ódio. Elio estava respondendo a Lula, que dissera que o PT, nestas eleições, levaria a esperança a vencer o ódio.

O ponto de Elio é que o PT tem, ele também, um histórico de raiva.

Na internet, o assunto foi intensamente debatido. Gostei de ver meu antigo chefe da "Veja" e na "Exame", Antonio Machado, um dos melhores jornalistas com quem trabalhei, se manifestar.

Não lia nada dele fazia muito tempo. Foi como rever um velho amigo.

Machado contestou Elio, a quem chamou, ironicamente, de Doutor. Foi um contraponto divertido ao fato de que Elio chama Dilma de “Doutora”.

Machado, e aí acho um exagero, quase que igualou Elio a Reinaldo de Azevedo.

Elio não é Azevedo, a começar pela diferença de que é um genuíno jornalista, e dos brilhantes.

É, sim, um colunista de centro. Talvez gostasse de se movimentar um pouco mais para a esquerda, mas ele deve saber que não duraria muito, nem na "Folha" e nem no "Globo", se fizesse isso.

Barbara Gancia, e é um caso exemplar, fez esse movimento. Começou a falar em Casa Grande – um lugar comum que me enfastia, aliás – e logo perdeu a coluna na "Folha".

Mas o ponto central sobre o qual eu queria falar é o ódio. Nisso, estou inteiramente com Machado e contra Elio.

Nada, rigorosamente, nada se iguala ao ódio da direita. As raízes são profundas e distantes: ao longo de toda a ditadura militar os brasileiros foram submetidos a constantes propagandas anticomunistas.

O “comunismo ateu” era apresentado, sempre, como a quintessência da maldade, do horror.

No plano internacional, Stálin era o demônio supremo. No plano nacional, esse papel era atribuído a nomes como Lamarca e Marighella.

Nesse ambiente, surgiram e floresceram entidades como o "Comando de Caça ao Comunismo" e a "Tradição, Família e Propriedade" – dedicadas a semear ódio patológico na sociedade.

Com o fim da União Soviética, e do comunismo, o ódio da direita não cessou. Apenas foi remanejado para a esquerda em geral.

Na Venezuela, Chávez foi alvo de campanhas de fúria inacreditável. Até sua mãe era insultada cotidianamente pela mídia e pela direita venezuelana.

No Brasil, o anticomunismo de antes se transformaria em antipetismo. Mudou o nome, mas não o ódio, ou mesmo sua intensidade.

Em suas manifestações mais vis, a raiva nos últimos anos se traduziu em pragas para que o câncer se abatesse novamente sobre Lula e Dilma.

Não é, ao contrário do que Elio afirmou, um ódio que encontre contrapartida na esquerda.

Não que a esquerda aprecie e admire a direita. Mas não é a mesma coisa. Historicamente, não é. Definitivamente, não é.

Até por questões culturais. Faz parte da cultura da esquerda endereçar o melhor de sua raiva às correntes rivais dentro da própria esquerda.

Marx abominava Bakunin. Os bolcheviques viam os mencheviques como seu maior obstáculo. No Brasil, integrantes do PC e do PC do B mutuamente se abominavam.

No Brasil de hoje, repare como os petistas enxergam grupos de esquerda por trás de protestos e como estes veem o que chamam, desdenhosamente, de “governistas”.

O ódio da esquerda como que se dispersa. O da direita se concentra.

Nada se compara ao ódio da direita – e meu velho chefe Machado, nisso, não poderia estar mais certo."


FONTE: escrito por Paulo Nogueira, jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises "Diário do Centro do Mundo". Transcrito no portal "Viomundo"  (
http://www.viomundo.com.br/politica/paulo-nogueira-elio-gaspari-errou-nada-se-equipara-ao-odio-da-direita.html).

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