quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Gabrielli: JULGAMENTO DA PETROBRAS É POLÍTICO




JULGAMENTO DA PETROBRAS É POLÍTICO

"Ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli lembra que a companhia vale hoje de US$ 50 a US$ 60 bilhões, quatro vezes mais do que em 2002, e que ampliou número de empregados de 33 mil para 80 mil. Segundo ele, o noticiário sobre a Operação Lava Jato afeta a imagem da Petrobras, confunde ainda atos criminosos com o comportamento da empresa e, como no caso do controverso episódio da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, leva em consideração “uma contabilidade política e não técnica: Nos últimos dois anos a refinaria foi lucrativa. Onde está o prejuízo?”, questiona.


Da Redação do "Rede Brasil Atual" 


O noticiário sobre a Operação Lava Jato, divulgado diuturnamente pela mídia tradicional, afeta a imagem da Petrobras, confunde ainda atos criminosos com o comportamento da empresa e, como no caso do controverso episódio da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, leva em consideração “uma contabilidade política e não técnica", sustenta José Sérgio Gabrielli, antecessor de Graça Foster na presidência da companhia. “Há uma confusão entre fenômenos que são reais com ilações, suposições e interpretações de um clima que não é real”, diz ele, em entrevista ao jornalista Norian Segatto.

Gabrielli comenta também a questão da baixa do preço do barril de petróleo no mercado internacional e suas implicações com os interesses norte-americanos, a espionagem industrial contra a Petrobras e o pré-sal, entre outros assuntos.

Leia trechos da entrevista:

As denúncias, a crise e a importância da Petrobras para o desenvolvimento do país

Essa é uma questão muito importante. A imagem da Petrobras está sendo afetada porque há uma confusão entre fenômenos que são reais com ilações, suposições e interpretações de um clima que não é real. Os atos de corrupção confessados pelo Paulo Roberto e pelo Barusco (Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras) são circunscritos a alguns episódios, são atos graves, mas relativamente pequenos diante do volume de negócios da Petrobras. Esses atos precisam ser combatidos, mas não se pode confundir atos criminosos com o comportamento da empresa.

Valor da companhia

Nos últimos dez, quinze anos, a empresa saiu de uma situação em que estava fracionada, sendo preparada 
[pelo governo PSDB/FHC] para ser vendida, que valia 15 bilhões de dólares no mercado, para se transformar em uma empresa que chegou a valer 380 bilhões e hoje [por conta da queda dos preços do petróleo no mercado internacional] vale cerca de 50, 60 bilhões de dólares, ainda quatro vezes mais do que valia em 2002. Nesse período, a empresa saiu de 33 mil empregados para 80 mil, dobrou a capacidade de pesquisa e desenvolvimento, descobriu o pré-sal, cresceu sua área produtora.

Crise, economia e demissões

Esse é o grande perigo que temos em 2015. As principais empresas de construção pesada, que constroem a infraestrutura do país, estão arroladas na operação Lava Jato. Se essas empresas começarem a enfrentar problemas mais graves, vão parar de funcionar, haverá uma onda de desemprego que vai se espalhar para metalurgia, para a indústria naval etc.

Queda no preço do petróleo

Há um fenômeno de geopolítica dos Estados Unidos contra Irã, Venezuela e Rússia, que leva à queda do preço do petróleo (...) Se o preço fica na faixa de 50, 60 dólares o barril, o pré-sal é viável, mas torna inviável tanto o gás de xisto norte-americano, o ultrapesado venezuelano e o das areias betuminosas canadenses, ou seja, tira produtores novos. O mercado do petróleo está geopoliticamente motivado, quem está ganhando neste momento é quem está integrado com refino e produção porque a tendência é que os preços dos derivados não caiam tanto quanto o petróleo. Quem produz derivados vai ter margem, como é o caso das refinarias da Petrobras.

Acionistas

Sempre defendi que havia certa convergência de interesses entre os acionistas minoritários e o governo. Todos querem aumentar a lucratividade da Petrobras. Do ponto de vista da política de preço de derivados de gasolina e do diesel, pode haver uma contradição no curto prazo, porque não interessaria fazer o preço da gasolina variar como ocorre no mercado internacional; por outro lado, manter o preço da gasolina por muito tempo desconectado do internacional é um problema. Distribuir dividendos ou investir, às vezes também tem contradição, mas o investidor da indústria do petróleo não é de curto prazo, pois sabe que um projeto de exploração leva sete anos entre a descoberta e o primeiro óleo; uma refinaria leva seis, sete anos para ser montada. O investidor que entrou na bolsa para ganhar de um dia para outro não investiu na empresa de petróleo, investiu em um papel que tem grande flutuação e isso é um paraíso para o especulador.

Espionagem industrial

É possível que haja espionagem, hoje vivemos um problema muito sério que é fato de que os computadores e telefones celulares dos gerentes de primeira linha estão copiados nas mãos de dois escritórios norte-americanos. Isso para mim é um problema muito grave porque não se sabe o que será feito com essas informações.

Pasadena

O prejuízo vem de um parecer feito pelo ministro José Jorge, do TCU, que foi ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso/PSDB, foi presidente do PFL[DEM], foi candidato a vice presidente de (Geraldo) Alckmin/PSDB. Ele desconsiderou o parecer dos técnicos do TCU, que por três meses ficaram dentro da Petrobras e atestaram que não teve erro no cálculo do preço da refinaria. Ele desconsiderou uma segunda auditoria, que também chegou à conclusão que não teve problemas, pegou um assessor de sua confiança que, em 30 dias, sem ter ido uma vez à Petrobras, cometeu vários erros de interpretação e erros técnicos. O principal problema é que ele faz um conceito de prejuízo pelo que foi pago pela refinaria e abate de uma das 27 planilhas feitas por uma consultoria contratada pela Petrobras. Por esse cálculo, a refinaria deveria custar 1.860 dólares por barril, não existia isso em lugar algum, a mais barata foi 3.400. Consequentemente, o conceito de prejuízo que está nesse parecer é politicamente motivado, não é tecnicamente justificado.

Em dezembro de 2012, a Petrobras levantou o que foi investido na refinaria (de Pasadena), calculou o que ela poderia dar de margem no futuro, com as taxas de juros de 2012, projetou no futuro e identificou um prejuízo de 530 milhões de reais. Esse prejuízo foi lançado no resultado da Petrobras, não tem nada a ver com o preço de compra. Em 2013 e 2014, aconteceu um fenômeno muito importante nos Estados Unidos: a produção do gás de xisto e o 'dateoil', que é o petróleo de reservatórios fechados, geraram enorme disponibilidade de petróleo leve, barato e disponível, particularmente no Texas, através do campo de 'Eagle 4'. Isso permite que a refinaria de Pasadena seja altamente lucrativa. Então, nos últimos dois anos, a refinaria foi lucrativa. Onde está o prejuízo? É contabilidade política e não técnica."


FONTE: da Redação do "Rede Brasil Atual". Transcrito no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/170832/Gabrielli-Julgamento-da-Petrobras-%C3%A9-pol%C3%ADtico.htm).[Trecho entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].

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