Por que é tão difícil cassar Eduardo Cunha
Por Alex Solnik, jornalista
"De boas intenções não só o inferno, mas a nossa constituição também está cheia.
Não fosse a paranoia que Ulysses Guimarães e seus pares tinham em relação à ditadura, tempo em que as cassações eram mais frequentes que sonhos de uma noite de verão, não seria tão difícil cassar um presidente da Câmara tão enrolado quanto Eduardo Cunha.
"Enrolado" é o mínimo que se pode dizer dele. Todo dia, sua figura se distancia mais de um presidente da Câmara e se aproxima da de um zumbi. E, no entanto, ele sobrevive. Morto-vivo, mas sobrevive. Mas como? Todos se perguntam.
Uma das respostas ao menos está lá no artigo 15 da constituição brasileira. Ele afirma que a cassação de direitos políticos é “vedada”, a não ser em cinco casos.
E somente num deles Cunha se enquadra: “condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos”. Pelo STF, é claro, o que demora uma eternidade, principalmente para quem, como Cunha tem um advogado como o ex-Procurador da República Antônio Fernando de Souza, expert em manobras que vão protelar o julgamento ao máximo ou então condená-lo ao arquivamento.
A outra forma de Cunha perder o mandato seria a cassação pelo plenário da Câmara dos Deputados depois de aprovada pelo Conselho de Ética, o que dificilmente vai acontecer, pois trata-se ali de uma batalha política na qual ele está a cavaleiro.
Como presidente da Câmara, ele tem toda a ficha pregressa dos 513 deputados e não vai pensar duas vezes para jogar aos leões quem ele quiser, antes, durante ou depois de ser cassado. Todos sabem que ele não tem nenhum escrúpulo, nem compromisso com a ética. E quase todos têm alguma pendenga que é melhor ficar oculta.
Cunha tem mais futuro, portanto, do que supõe a nossa vã filosofia. Mais por ser temido que por ser admirado. Mais por seus defeitos que por suas qualidades."
FONTE: escrito por Alex Solnik, jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016). Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/204250/Por-que-%C3%A9-t%C3%A3o-dif%C3%ADcil-cassar-Eduardo-Cunha.htm).
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