terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O PORQUÊ DE A MÍDIA APLAUDIR TANTO O NOVO PRESIDENTE DA ARGENTINA




Barões da mídia aplaudem o ditador Macri

[Resposta deste 'democracia&política': 

Obviamente, pois Macri é colaborador dos seus patrões dos Estados Unidos e de Israel, dos grupos midiáticos "Clarín" e "La Nación", do capital financeiro internacional, incluindo os "fundos abutres" (Ángel Guerra Cabrera)]

Por Altamiro Borges

"Os barões da mídia brasileira estão excitados com o novo presidente argentino, Mauricio Macri. Em artigo publicado na [tucana] Folha, intitulado "O tempo abriu na Argentina", o chefão da "Associação Nacional dos Jornais" (ANJ), Carlos Fernando Lindenberg Neto, festejou a derrota do chamado kirchnerismo na nação vizinha e explicitou o motivo de tanta alegria: "A decisão do novo governo de modificar a lei dos meios de comunicação do país, criada com o claro objetivo de intimidar a mídia não alinhada ao kirchnerismo", e que simbolizaria "todo o autoritarismo estatal que vinha dominando a Argentina". O fim da "Ley de Medios" transforma o mafioso argentino em um santo para os barões da mídia nativa!

Para o representante dos decadentes jornalões, a eleição de Mauricio Macri - na verdade, a vitória do "Grupo Clarín" -, "prenuncia novos tempos na América Latina". Ele já prevê o refluxo das iniciativas que visam enfrentar os monopólios midiáticos na região para garantir maior pluralidade nesse setor estratégico. Animado, o presidente da famigerada ANJ comemora o revés, "aqui mesmo no Brasil", dos que defendem "o que se convencionou chamar de controle social da mídia" - afirma, numa típica manobra retórica para satanizar os que lutam pela democratização dos meios de comunicação. E dá a dica da próxima batalha em território nacional: a guerra para enterrar a lei do direito de resposta, que foi aprovada pelo Senado Federal e sancionada pela presidenta Dilma em novembro passado.

Terra arrasada na Argentina

Tamanha paixão pelo mafioso Mauricio Macri resultará, com certeza, numa cobertura jornalística da nação vizinha ainda mais partidarizada e distorcida. Contra Nestor e Cristina Kirchner, "presidentes populistas", a mídia disparava torpedos diários. Agora, com o novo chefete neoliberal, a ordem será evitar crítica e exibi-lo como salvador da pátria. "O caminho indicado por Macri nos deixa otimistas", já decretou Lindenberg Neto, o chefão da ANJ. Não é para menos que "calunistas" que adoram meter o bedelho na política de outros países - como Clóvis Rossi, da Folha, ou Alexandre Garcia, da Globo -, estão em silêncio diante dos primeiros atos autoritários e desastrosos do presidente argentino.

Em pouco mais de um mês, o ditadorzinho de plantão baixou cinco DNU (Decreto de Necessidade e Urgência), um instrumento legal previsto pela Constituição apenas em casos de emergência nacional. Num gesto que incomodou até seus aliados, Mauricio Macri impôs dois ministros da Suprema Corte, desrespeitando o Senado, e interveio nas duas agências responsáveis pela democratização dos meios de comunicação. De forma truculenta, ele também demitiu milhares de servidores públicos, adotou medidas que arrocham os salários dos trabalhadores e já anunciou que pretende restabelecer as negociações com os chamados "fundos abutres", que saquearam a economia argentina no passado.

Na semana passada, sob pressão explícita do novo governo, a "Rádio Continental" demitiu Victor Hugo Morales, um dos jornalistas mais renomados do país. Outros veículos, públicos e privados, também já sofrem ameaças, comprovando que Mauricio Macri não tem qualquer compromisso com a liberdade de expressão. Diante desses gestos inaugurais, setores da sociedade já organizam atos de protestos. Os primeiros foram reprimidos com balas de borracha e cassetetes, numa ação repressiva que não se via na Argentina há 12 anos - segundo reportagem do próprio jornal espanhol "El País".

A tendência é de rápido acirramento da luta de classes na Argentina, agora sob controle dos abutres do capital financeiro. É certo que a mídia nativa, com seus serviçais de plantão, seguirá as ordens da ANJ. "O caminho indicado por Macri nos deixa otimistas". Mas essa torcida midiática, com todas as suas técnicas de manipulação, poderá reduzir ainda mais a credibilidade dos que apostaram no mafioso neoliberal da nação vizinha e pressagiaram "novos tempos na América Latina". A conferir! "

FONTE: escrito por Altamiro Borges no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/altamiroborges/213658/Bar%C3%B5es-da-m%C3%ADdia-aplaudem-o-ditador-Macri.htm). [Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

COMPLEMENTAÇÃO

Macri, outro balão inflado do neoliberalismo

Os decretos macristas são típicos de uma ditadura militar, como a nomeação de dois juízes da Corte Suprema sem a aprovação do Senado.

Por Ángel Guerra Cabrera, do "La Jornada" (do México)



"Macri é a nova estrela da direita regional. Homem de pelo no peito e mentiroso, não tardou em se desfazer dos modos republicanos que prometeu na campanha. Agora, se desfaz sistematicamente da Constituição e das leis, impunemente. Fere obsessivamente o Estado de direito, supostamente tão importante para os seus patronos dos Estados Unidos e de Israel, do grupo midiático "Clarín" e seu cúmplice "La Nación", do capital financeiro, incluindo os "democráticos" fundos abutres, com os quais ele já vem colaborando.

O ex-prefeito de Buenos Aires assinou mais "Decretos de Necessidade e Urgência" (DNU) em pouco mais de um mês que todos os emitidos por Cristina Kirchner em dois mandatos presidenciais. Nenhum deles atende a circunstâncias excepcionais como as que exige o texto constitucional, pois se tratam de temas que poderiam esperar o reinício das sessões do Congresso.

Os DNU macristas são típicos de uma ditadura militar, como a nomeação de dois juízes da Corte Suprema sem a aprovação do Senado pela primeira vez na história argentina, a derrogação da "Lei de Meios" e a intervenção ilegal do órgão que a tutela e o desmantelamento do sistema de meios de comunicação públicos. A nomeação dos juízes provocou tanto escândalo que ele teve que retroceder, pressionado também pela decisão de um juiz federal contra a medida. Entretanto, no caso da "Lei de Meios", Macri vem se omitindo diante de outra decisão semelhante contra seus desígnios.

Sua ofensiva contra os trabalhadores de estatais e funcionários públicos não deixa nada a desejar aos governos neoliberais ortodoxos, como o de Menem e os mexicanos. Não me refiro só aos 18 mil empregados que ele mandou para a rua, acusando-os de serem funcionários fantasmas, e à repressão policial contra os protestos. Falo também das centenas de milhões de dólares que ele transferiu ao capital financeiro e ao agronegócio, em tão pouco tempo, através de medidas como a desvalorização, a liberalização dos preços e a isenção de impostos aos exportadores rurais.

A Argentina de Macri vive capítulos tão tipicamente ditatoriais, como a demissão do prestigioso jornalista Víctor Hugo Morales da "Rádio Continental", após pressão do governo para liberar publicidade estatal apenas se ele deixasse a emissora. Morales recebeu apoio 48 horas depois, num ato realizado na Praça de Maio, no qual ele convocou o público a se rebelar contra os atropelos macristas. O programa de Víctor Hugo era um dos poucos espaços críticos que restavam depois do fechamento dos meios públicos.

O novo homem forte da Argentina, claro, conta com o silêncio cúmplice dos meios de comunicação hegemônicos argentinos, latino-americanos e internacionais, como "CNN En Español". Também do tal senhor Luis Almagro, o novo secretário-geral da pestilente OEA (Organização dos Estados Americanos), réptil de aluguel de Washington.

Isso sim, esses mesmos meios não deixam de apontar suas metralhadoras comunicacionais contra a Venezuela bolivariana da maneira mais burlesca e grosseira, assim como Almagro, que num ato vulgar de ingerência, se revelou como um dos porta-vozes regionais da contrarrevolução venezuelana.

Na Venezuela, a já instalada liderança contrarrevolucionária na Assembleia Nacional teve que retroceder em sua tentativa de desacatar o Tribunal Supremo, após uma firme e serena atitude da minoritária bancada chavista e o repúdio popular, incentivado pela forma como se tratou as imagens de Bolívar e Chávez como lixo – o novo presidente da Assembleia Nacional mandou retirar os quadros das duas figuras históricas venezuelanas do prédio sede do Legislativo –, atitude que também foi condenada energicamente pelo alto comando militar, encabeçado pelo general Vladimir Padrino, e até mesmo por alguns setores da oposição.

Existe maioria opositora na Assembleia Nacional, mas ela não expressa realmente a correlação de forças na sociedade venezuelana, pois grande parte do povo é bolivariano e chavista, mesmo os que votaram contra o governo, ou os muitos chavistas que se abstiveram, em ambos os casos, pessoas insatisfeitas pela escassez de produtos e pela burocracia das políticas dos últimos anos, e indignados pelos casos de corrupção sem castigo. Além disso, cabe destacar que a Força Armada Nacional Bolivariana é leal à Constituição e de vocação anti imperialista e socialista.

Isso não muda o fato de que o projeto de governo chavista enfrenta o momento de maior perigo para a revolução, justo quando sofre a ausência do gênio político de Chávez. A contraofensiva, até agora, tem sido inteligente, e supomos que deverá fazer uma profunda autocrítica, ter paciência, voltar a fortalecer as estruturas coletivas, insistir no processo de transferência de poder ao povo e, finalmente, convocar esse povo para o embate com a oposição nas ruas, onde o chavismo é invencível.

Quanto a Macri, não tardará em se desinflar e, se continuar assim, poderia até mesmo ser derrubado pela insatisfação popular, como sugeriu Atilio Boron."

FONTE: escrito por Ángel Guerra Cabrera, do "La Jornada" (México). Publicado no site "Carta Maior" com tradução de Victor Farinelli  (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Macri-outro-balao-inflado-do-neoliberalismo/6/35329).

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