“Bristol (EUA) – Os grandes jornais do ocidente parecem conformados com o fato de que ainda não será desta vez que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad será afastado do poder, por movimentos populares ou pelos aiatolás que decidem as paradas.
Movimento popular é por sinal um termo ambíguo. Os mais jovens talvez nem tenham conhecimento do fato, mas eu me lembro que o primeiro ministro iraniano Mohammad Mossadegh, eleito democraticamente, foi afastado do poder, segundo os jornais ocidentais da época, por um “movimento popular”.
Hoje, sabe-se que foi um golpe montado pelos Estados Unidos em que mercenários foram secretamente transportados para Teerã, invadiram as ruas próximas à residência de Mossadegh e, antes que a população se desse conta do que realmente estava acontecendo, o alijaram do poder. Tudo num “movimento popular”.
Mossadegh queria a nacionalização do petróleo iraniano, que, desde a sua descoberta, em 1908, estava em poder da Anglo-Persian Oil Company, que mais tarde adotou o nome de British Petroleum. O Irã, que era até então um pobre país agrícola, viu-se de repente alçado aos píncaros das “zonas de interesse” dos dois grandes poderes ocidentais na Ásia – o Império Britânico e a Rússia czarista.
Foi também a época em que, graças ao uso dos motores de combustão interna, o petróleo se transformou na grande fonte de energia que alimentava o mundo. Nas idas e vindas do século XX, até o fim da Segunda Guerra Mundial, os ingleses manipularam o poder em Teerã, pondo e depondo xás e ditadores, até verem sua influência declinar com a independência da Índia e outras colônias.
Então emissários da Coroa, despachados a Washington, convenceram o presidente Dwight Eisenhower de que os Estados Unidos deveriam intervir, para defender seus próprios interesses, e afastar Mossadegh, acusado de comunismo.
O resto é a história recente, mais conhecida das atuais gerações. A ascensão do xá Reza Pahlavi, seu governo corrupto e autocrático, em que uma elite enriqueceu de modo inacreditável, enquanto a maioria da população experimentava um declínio econômico, suas tentativas de “ocidentalizar” o Irâ, que acabaram provocando a ira dos religiosos fundamentalistas, com Khoimeni à frente, no seu exílio em Paris.
Para tornar curta uma história longa, por que Israel e seus aliados ocidentais têm medo do Irã? Todo dia recebo pela internet matérias dizendo que o país deve ser bombardeado (repetindo, por sinal, o que John McCain afirmava em sua campanha eleitoral). Não seria o caso de se perguntar se o Irã, terra persa de confissão xiita, cercado de árabes sunis hostis, paquistaneses e afeganes ídem e um Israel cujo Primeiro Ministro prega diariamente um ataque “preventivo” ao país, tem mais razão para temer por sua existência?
Afinal, não está assim tão longe de seus olhos o destino oposto de dois adversários do mundo ocidental. O Iraque, que não tinha bomba atômica, foi pulverizado. A Coréia do Norte, que a tem, vai sobrevivendo, intocada.”
FONTE: artigo de José Inácio Werneck publicado no site “Direto da Redação” dos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araújo, em 18/07/2009.
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